Fragmento 36


Salve traça!
A meta de um post por semana não tem funcionado, mas não sofra, é 2012 e todos estão comprando roupas novas para assistir ao fim do mundo.
Hoje, só para não proliferar a ausência de novas postagens, coloco um trecho da coletânea que chamo Fragmentos, mais especificamente o número 36.
Alimente-se traça!



Mãe.

Enquanto as mulheres dormem, elas tomam as ruas. Talvez não sejam sobre elas os poemas de Camões, mas com certeza, é nelas que incide o desejo. Mulheres, homens, poesia e desejo, tudo se repete no tempo, assim como o cigarro aceso que é lançado na garganta do bueiro.




   Acende o cigarro. Olha para o sapato vermelho, salto agulha.
- Como está nosso filho?
- Como sempre: chorando, crescendo, envelhecendo.
- Já aprendeu a dizer alguma palavra?
- Sabe porque vim aqui, não precisa enrolar.
- Só queria saber do meu filho.
- Quer que eu o ensine a dizer puta? Ou talvez algo mais complexo, prostituta? Quem sabe você prefira acompanhante ? Para ele nada disso existe, puta e mãe são a mesma coisa; palavras vazias.
- Sem drama Pedro, você quer dinheiro, tome aqui, é pouco; tudo que tenho. Já te falei para passar mais tarde, tão cedo assim ainda não entrou grana.
- Ainda não entrou a grana e a pica, melhor assim. Prefiro falar com você razoavelmente limpa, fisicamente é claro.
- Certo Pedro, fale o que quiser do alto de sua moralidade de herdeiro de familia falida, mas é a porra que entra em mim que te sustenta.



Crédito da imagem: Luis Royo, painel presente no livro Womem. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Homenajem estranha!

Estante Velha disse...

"Homenajem" estranha mesmo :)
Obrigado por ler.