Grande campo para o avanço skinhead


Salve traça! 
Hoje posto uns cacos de coisas, alguns meus, outros do Glauco Mattoso, do Lucas Manson, do Drummond, do Raul, e de mais um monte gente que veio antes, que virá depois, ou que nem existirá. 



Grande campo para o avanço skinhead

        Careca tem em toda parte. Onde houver uma cara de boy alienado, de esquerdóide aliciador ou de anarco-traficante para ser pisada, sempre vai ter um coturno de careca, de preferência em grupo. Mas a carecada anda muito dispersa nesse Brasil, principalmente nos grandes centros urbanos, onde, pela lógica deveriam ser mais numerosos & estar mais unidos.


É sempre o mesmo cenário. As pessoas se acomodam, mas o mundo é um lugar cômodo? Para lembrar o burguês deste fato, devemos continuar coturnando pelas noites.
Minhas palavras são vazias, dizem. Alguns carecas pensam que  trai o movimento e me prometem um tratamento que nunca mais esquecerei. A doença tem me mantido na cama, falam até de pneumotórax. O máximo de meu esforço tem sido utilizado para continuar escrevendo nossos informes; pregando o ideário nacionalista. Só careca das antigas vai lembrar dos tempos que saíamos, no meio de nevasca, para colar cartazes nos postes de BH. Tem muito calouro dentro do movimento que precisa tomar coturnada de passado antes de me apontar o dedo!
Sim, existe grande campo para o avanço skinhead, seja em BH ou em Campo grande. Aqui em BH já fiz muito boy beber tietê para ver se toma gosto pela realidade, e é assim que tem de ser. As máfias multinacionais vivem impingindo aeróbicos enlatados aos ouvidos babacas dos boys consumistas & colonizados.
Infelizmente tem nevado a quase um mês, e meu estado pneumônico não me permite tomar as ruas, como já fiz anteriormente. Quando meu pai me leva ao médico, passo ali, em frente a praça Dom Epaminondas; sinto nojo de ver aquele bando de hippie imundo vendendo seus trampinhos. Vai se foder! O que os carecas tem feito que ainda não limparam a região dessa imundície esquerdóide?
          O movimento skinhead é ligação entre Homens que levam o nacionalismo a sério, é coisa de pessoas honradas. "A lealdade é minha honra" - Honra e lealdade princípios fundamentais para um ser humano digno e evoluído. E é por isso que digo: vamos agir carecada! Panfletar as ruas, produzir zines, tocar um som consciente, coturnar pelo Brasil e provar que não viemos aqui a passeio. 
Bem, eu que não vou ficar com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar. Já dei muita porrada, já apanhei muito pelo movimento e ainda não desisti de lutar, mesmo que agora, somente por meio das palavras. Vida longa aos skins, aqui, hoje... mesmo que “aqui” e “hoje”...mesmo que “isso” seja vazio. Cacos de coisas, que reunidas, são pedaços; o quebrado.
Da laje, lá em cima, ouço o chamado: vou-me, de disco o voador ou de anjo, quem sabe volto.



Atos noturnos ou A fé no príncipe encantado


Salve traça!
Estou preparando novidades para a Estante velha, em breve as traças virtuais poderão desfrutar de páginas amarelas que repousam em estantes físicas.
Quanto ao zine Números, que alguns me questionaram, o conto do número 5 já está pronto, mas como os equipamentos eletrônicos declararam guerra contra minha pessoa, estou sem um computador para editá-lo, mas sai...dia desses. 
Enfim, sem mais enrolação, mantendo a periodicidade semanal; uma brevidade:



Atos noturnos
ou
A fé no príncipe encantado.

I
Meu Deus, me ajude, estou ficando louca! Isso! Isso!

Ele a olha, rindo de dentro de seu rosto; como poderiam ser tão escravos? Mantém-se duro e distante, tenta compreender o que faz ali. Ele sabe o que faz ali. O quarto de hotel barato, a mulher, as noites de sempre; uma vez mais. Ele se vê no espelho, um olhar frio de atrás do espelho lhe responde: por quê?  A pergunta sai mansa, desliza pelo cérebro e agita todo o corpo, frio. Cabelos loiros, talvez bela, ele não lembra do rosto dela. A bunda parece de criança, talvez seja.

Jesus! Não para! Não para! Você está me matando!

Seja dor ou prazer, em momentos inexplicáveis, por que sempre clamamos ao sobrenatural? Jesus, quando fora a última vez que escutou essa palavra? A bunda se retorce cada vez mais, o ritmo dos corpos é frenético, mas ele está descolado de seu próprio corpo, observa de longe aqueles animais ensandecidos, fazendo o que a natureza exige; exige? Demanda de servos impotentes.

Vou gozar! Estou gozando em você! Te molhando todinho.

A pele das nádegas dela se comprime, um tremer rápido marca o ápice. Ela se vira, o abraça forte e o beija com os dentes. Eles se olham diretamente, ele procura algo naquelas duas jabuticabas, vê somente um reflexo, uma estátua de mármore. Ela percebe o membro ainda engajado, inicia então beijos localizados. Ele a olha de cima, novamente. Lembra-se do pai lhe batendo com o cinto de couro, não sente.

II
Sabe amiga, é meio complicado de explicar. Mas sinto que ele me olha como se quisesse me despir das roupas, da pele, de tudo. Sabe, como se ele estivesse pirando, cheio de vontade de descobrir quem eu sou de verdade, o que sou por dentro. Ele não é como os outros, há algo de diferente nele, algo muito especial.

Sim, com certeza amiga, e esse algo se chama paixão. Acho que você está apaixonada...

Você acha? Eu tenho certeza, nunca senti algo assim, algo como uma comunhão. Não sei explicar, só sei que é muito bom...

E quando vão se ver novamente?



III
A noite está quente, ele percebe pelo suor que desce de seu rosto. Um copo de água sem gelo, por favor. O garçom ri, ele fica intrigado, mas não tem porque perguntar a razão do riso. Fumaça de cigarro e música alta, é noite de sexta e todos são felizes; evidentemente. Ao longe, uma bunda rebola ao som de um som qualquer, redonda, demarcando perfeitamente a calça apertada, uma pele artificial que anseia ser retirada; sem pudores. Vai acontecer novamente, ele sabe disso. Repetir o mesmo ato e esperar resultados diferentes, loucura? Ele considera religiosamente o caos, e então se encaminha. Sussurra no ouvido daquela cabeça que sustenta cabelos loiros, ela se vira, encaram-se, ele veste a fantasia de conquistador, exala confiança. Diga-me seu nome.


Silêncio.


Um tapa.
Ela corre para o banheiro. Lágrimas saltam na privada.
Ele volta para o balcão. Um copo de água, gelada por favor. Uma palavra resvala em sua cabeça, desconhece a razão: estereótipo. 





Créditos: Primeira imagem, painel pertencente ao álbum Transubstanciação de Lourenço Mutarelli (Faça o download aqui)
               Segunda imagem, página de Jose Muñoz. 

Uma agenda qualquer


Salve traça! 
Posto um texto marcante hoje, para mim é claro. 
Enfim ilustro o texto, eu que tanto amo a arte de desenhar, com uma imagem  de minha autoria, se é que se pode falar de autoria neste caso. 




Uma agenda qualquer


Veste-se em silêncio, uniforme diário. O jaleco branco, sujo, cala-se em amarelo discreto. Rosto limpo, barba sepultada, adentra a impessoalidade higiênica do hospital. Efervescente em agonias e carnavais, sua mente retorna às sangrias nostálgicas de um tempo charlatão, onde seu velho avô, morto morrido em casa, sorri em despedida ao neto, que indiferente gargalha do fim. Ele se lembra do avô e do brinquedo, e também do trabalho; a medicina que os liga, em ciclo. Em sangue e sono, o dia se passa, feito sonho mal vivido. No bar, desaba com o psicólogo: a cada dia sofro asas, cada vez maiores. Whisky, profissional de renome internacional, desenha em pensamentos: Há asas, mesmo esqueléticas, em cada servente com as costas marcadas pelos sacos de cimento; em cada bit de transações bancárias; em cada empréstimo feito à juros do feto feito na noite, de pinga e paixão, da já imemoriável cidade flutuante. Há asas sim, entre arranha-céus e palafitas, entre nuvens de concreto e de tinta, onde se sorri, da chegada e da partida, da morte e da vida.  Isso! EU também sorrio, aqui as palavras, minhas asas...

- Doutor, com licença, estamos fechando. Gostaria de pedir algo antes de fecharmos a conta? – Diz o garçom, impecável na educação, a tanto custo, decorada.
O jovem doutor, pede então mais um whisky, passando as mãos do garçom uma quantidade de dinheiro que em muito sobrepuja o valor devido. A gorjeta fabrica um sorriso rápido e inesperado.
Uma vez só, as palavras do doutor Silva voltam a correr pelas linhas da agenda, cobrem totalmente o dia, cheio de compromissos, que se seguirá.

...não sobrepujam o brilho de meu crédito, no banco assenta-se minha dignidade. Cuspir em letras as asas sofridas, isto é tudo? Não, nem tudo se resume a corrosão dos sonhos; lágrimas assinarão os versos vindouros, sem identidade, sem existência.
















           Foto da família Silva no sitio em Manaus, Amazonas. Da esquerda para direita: o avô, Roberto, o pai, Beto, e o neto, Robson.