Feliz 2011


Asssim caminha a humanidade? 



Dia quente e branco, a Tv rebobina tudo o que não deveríamos ter feito, fica no ar um gosto embriagado de erro. Sonhos passados vão se apagando com os passos firmes e incertos das multidões, do meio-dia à meia-noite o galo desvairado canta, sinos não soam e a noite se faz dia com explosões de ânimo instantaneamente necessário.
Uma década se passou no calendário, em minha mente menos que isso, ou talvez mais - A memória, não vou falar sobre isso. – Assim diz a bela desconhecida dos bancos de trás das aulas de reciclagem para motoristas infratores. 
 O mundo inteiro e até um pouco mais, florestas no deserto[1], e tudo vem passando, há séculos, e essa angústia parece tão minha como as estrelas no céu. – Te dou o céu se você iluminá-lo. – Disse o poeta, somente para escutar – Você céu, eu mar, ambos infinitos e distantes. – E assim selou-se um beijo de alma, olhos fechados escutando o tilintar de brindes à borda de uma nova década.
Faltam dois minutos para nada mudar e todos comemorarem. Risos e lápides, ossos e abraços, e na imaginação, aguardo pelo sinal que atravessa as existências e nos impele passo e passo, mesmo sabendo que essa busca sempre encontra um silêncio duro e doce.
Não entendem, e não entendemos, e tudo é calmo e flácido.
Luzes apagadas e roupas sujas no chão do banheiro; clarões gritam nos céus e borram uma existência que se banha na solidão ruidosa de um hotel à beira da selva, da praia, do sertão. Algo como uma bolha de sabão se forma entre o corpo e o braço, ele não a vê, por breves instantes o sabão e a sujeira em comunhão tornam-se beleza visível e solitária, intocada por olhares dispersos. No espaço vazio não restou memória.
A água que correu presa por quilômetros de humanidade submersa se joga do chuveiro, fria, ruma novamente ao esgoto, não tocou o corpo nu. É noite e o céu ressoa em cores de sonhos, é noite e o sabão e a água, e o cloro, e muito mais coisas lutam para limpar a imundície de ser aqui, agora, e todo o resto ao mesmo...É noite, e que água caia enquanto a pólvora ascender ao alto.
A agonia de saber-se presente na festa inevitável é o borrifar do perfume no pescoço, a olhadela no espelho, a escolha da roupa íntima menos velha.   
Há um lugar no escuro para onde os sonhos vão, onde se apagam e viram memórias choradas no travesseiro.
Um velho senhor a conversar com o cachorro, da filha, num quarto reformado e branco. A televisão transmite a festa, e nada impedirá as tristes manhãs de domingo. 
Assim tem sido?                                          
Foi-se
E nem foi.



Ps: As fotos deste post estão disponíveis no site do projeto Fortepan ( http://www.fortepan.hu/ ), que disponibiliza fotos amadoras do século passado. As duas fotos utilizadas neste post datam de 1903.



[1] Andréa Doria, Legião Urbana

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