Trecho - Pedro, filho de Pedro


Este é um trecho de meu primeiro romance, que por enquanto se chama: Pedro, filho de Pedro. Nele um dos personagens acaba de oferecer suborno para dois policias para se livrar de uma situação complicada:




Escutei seus passos se distanciando, o barulho da viatura velha ligando e por fim a fumaça me indica a partida. Já distantes observo o carro partindo, respiro fundo e agradeço a corrupção inerente ao ser humano, não divago muito, deixo os pensamentos para mais tarde. Tenho de continuar e rápido. Talvez nem todos os policias sejam assim, talvez....
Talvez alguns dos homens que deveriam me defender, quem sabe algumas das pessoas em quem deveríamos confiar, realmente façam seu trabalho, prendendo aqueles que não seguem o que cremos ser certo, o que definimos como as leis que regem nossa sociedade. Que espécie de homem pode se vender tão fácil, filhos para cuidar, falta de dinheiro, falta de incentivo, ausência de moral, oras, desculpas são fáceis de se arranjar, justificativas mesmo um assassino tem. Pedro, o mendigo, o matador, o ser que sacrificou sua vida por uma idéia tem justificativas para seus crimes, ele está certo em cometê-los?
O caminho do coração é sempre o correto, pois é o único que te dá orgulho em troca de suas lutas, a derrota ou a vitória de nada importam se você fez o que desejava. O tentar, o realizar é o que se busca. O rugir no peito nunca deveria ser abafado, e só o é, para que a vida social, da maneira que a concebemos, possa se manter. Se todos seguissem seus anseios seria possível caminhar pelas ruas? Não! E por isso, desde jovens, somos treinados, domesticados, domados, do contrário, não haveria um reino para poucos reinarem.
Um policial que mata um ladrão é um bandido. Um ladrão que mata um policial é um bandido. Como tirar uma conclusão sobre isso? Não tiramos, apenas acatamos opiniões alheias, somos muito bem treinados em fazer isso, tivemos uma vida inteira para aprender a fazer isso.
Em uma sala de aula você aprende a se calar, a obedecer aos mais velhos, a respeitar o policial, a nunca reagir quando roubado, a entregar tudo o que tem. Ensinam-lhe que deve estudar para ser alguém, fazem-no acreditar que deve seguir e nunca comandar, deve ler, escrever jamais. O plano é que você seja o secundário, apenas um figurante na sociedade deles, apenas um mero grão de areia, esta não é a verdade? Realmente somos infimamente pequenos?
Nosso planeta é apenas um amontoado de rocha, jogado na periferia de uma galáxia de segunda ordem, no meio da inacabável espaço? Somos minúsculos, esta é a verdade? Você acredita nisso?Eu acredito que tenho de ter fé, não em mim, mas sim no que eles falam!
Eu acredito, sou humilde, sei de minhas limitações, as quais sei enumerá-las perfeitamente, opostamente as minhas qualidades, as quais desconheço. Eu sou um nada, sou um escravo de um mundo que, acima de tudo, ignora minha existência. Estou sobre controle, sou um ser, razoavelmente civilizado, triste, fraco, deprimido, a buscar a liberdade e a felicidade, embora desconheça totalmente, o significado real destas palavras dotadas de enorme abstração. Eu sou um vencido, um figurante em minha existência.
Os produtores de laranja não se preocupam com as laranjas, saudáveis, elas estão prontas, o trabalho foi bem feito. Os produtores temem as laranjas podres, amedrontam-se ao pensar no estrago que uma laranja estragada pode fazer nas demais.Eu não tenho importância, e o fato de acreditar nisso me faz uma laranja saudável; pronta para ser vendida, consumida, apreciada, devorada, ou mesmo jogada fora, meu destino não tem valia.
No passado eu escrevi sobre um protagonista.Ele levantava sua cabeça, caminhava para frente e fazia o que acreditava. Ele não se diminuía em silêncio, não acatava, não subornava, não se menosprezava em fazer o que tinha certeza ser errado. Pedro não deixava que o mundo o mudasse. Ele acreditava ser o centro do universo, o protagonista de sua vida. Esta é resposta, e esta é a verdade, sou a prova disto, sou um fracasso que mesmo em letras deixo meu papel principal ser tomado por um outro alguém.
Um protagonista se define não por fazer o certo ou o errado, e sim por fazer ou não o que acredita. O que o marca é a diferença que nutre do mundo domado ao seu redor, das laranjas saudáveis a sua volta.
É hora de tomar o controle de minha vida, assim como um certo Pedro fez.
Vestir a fantasia de super homem não o torna um herói, tão menos lhe da superforça e todo o resto, no entanto lhe dá algo fundamental; coragem.
Chegou a hora de estragar algumas laranjas!

2 comentários:

Francisco Castro disse...

Olá, gostei muito do seu blog.

Parabéns!


Um abraço

Old disse...

"Chegou a hora de estragar algumas laranjas!"

Foda!!!