Taubaté, ainda sinto?
Passeio pelo seu corpo recordando
as antigas curvas, os velhos pontos de prazer, os gozos e os excessos.
[Há rancor aqui]
Tudo foi demasiado. Foi?
Pode o olhar reviver o que
morrera? Pode a memória reviver o que ocorrera?
Destituído de toda a
racionalização bêbada, vislumbro que tentei imputar a você algo que é só meu.
Ao caminhar, percebo no jogo infantil, na mendicância dos extraviados da velha rodoviária, na ânsia por dinheiro dos jovens mal empregados, na beleza plácida da árvore que permanece no mesmo local, que o morto aqui sou eu.
Eu morri para você e, austera e calamitosamente
permanente, prosseguiu...como o faz há séculos.
[Há ingenuidade aqui]
Ainda sinto a sua falta, mesmo em
ti. O casal que formamos inexiste e não há nostalgia que faça com que, uma vez mais, compartilhemos nosso calor e esperança.
Algumas árvores estão floridas, outras desfolhadas, contudo estão todas em ti plantadas. E eu? Sem raiz, assombro errático velhas lembranças, ruas, esquinas, paixões, pessoas, amizades.
[Há mudez aqui]
Posso ter morrido em você, mas
você não morreu em mim. Há uma linha que a cruza, trilhos arruinados que
prosseguem pontualmente com um sonho enferrujado. Há uma linha que me cruza que
prossegue limitando um passado mofado, você.
Ainda sinto a sua falta e meu
orgulho me impedia de perceber que o degredo só fere o degredado.
[Há verdade aqui?]
Taubaté, 20/07/24.