tag:blogger.com,1999:blog-313347112024-03-14T07:25:48.178-03:00Estante VelhaEstante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.comBlogger79125tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-6756134133800762162020-12-29T11:57:00.004-03:002020-12-29T12:07:15.043-03:00Números 6 [COMPLETO]- O divino cotidiano<p><span style="font-size: large;">Salve, traças,</span></p><h2><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: right;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium; font-weight: 400;"><br /></span></div><span style="text-align: left;"><div style="font-size: large; font-weight: 400; text-align: justify;">Enfim a parte final de <i>Números 6</i> - O divino cotidiano<i> </i>(leia <a href="http://estantevelha.blogspot.com/p/downloads.html" target="_blank">aqui </a>as outras edições).<i> <br /></i>Aproveito esta última introdução para agradecer ao amigo Ito, a quem dedico a história. <br /><br />Download do zine: <a href="http://estantevelha.blogspot.com/p/downloads.html" target="_blank">Números 6 - O divino cotidiano. </a><br /><br /><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwyMFJ-0jAxEWkX3Z4D0DeUpmvsv18nW8Mng0FGweFFXOSqq0OZ4kmrihPZzGxRUxs_OV7UFaaHV-0RoYg8h1GIcwVVXy_LqVstPXBgwNDirrE00r32FX3n1Yz6lhBXGycbiEAbg/s1767/John+Milton_+O+para%25C3%25ADso+perdido+_+Pablo+Auladell.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1056" data-original-width="1767" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwyMFJ-0jAxEWkX3Z4D0DeUpmvsv18nW8Mng0FGweFFXOSqq0OZ4kmrihPZzGxRUxs_OV7UFaaHV-0RoYg8h1GIcwVVXy_LqVstPXBgwNDirrE00r32FX3n1Yz6lhBXGycbiEAbg/s320/John+Milton_+O+para%25C3%25ADso+perdido+_+Pablo+Auladell.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: courier; font-size: x-small; font-weight: normal;">Crédito da imagem: Pablo Auladell - O paraíso perdido</span></div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="font-weight: 400; text-align: right;"><br /></p></div></span></div></div></h2>Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-91436310301974809902020-10-21T17:30:00.005-03:002020-12-29T08:28:48.689-03:00Números 6 - A peregrinação<h2 style="text-align: left;"><div style="text-align: right;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium; font-weight: 400; text-align: left;"> Salve, traças,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium; font-weight: 400;"><br /></span></div><span style="font-size: medium; font-weight: 400; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">Esta é a segunda parte da história do meu sexto fanzine <i>Números </i>(leia <a href="http://estantevelha.blogspot.com/p/downloads.html" target="_blank">aqui </a>as outras edições).<i> </i>Relendo-a para publicar aqui, percebo que talvez apresente um dos personagens mais desprezíveis que já criei. Enfim, leiam e opinem. Outra coisa, por enquanto o título parece ser "Revelações por 200 reais", mas estou aceitando sugestões. Sei que o conto é longo, mas gosto de pensar que contém a menor quantidade de letras possível. <br />Se você não leu a primeira parte, leia <a href="http://estantevelha.blogspot.com/2020/09/numeros-6.html">aqui</a>. </div></span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: right;"> </div><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><div style="text-align: right;"><b>A peregrinação</b></div></b></h2>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>IV</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Será que ela será aquilo tudo ao
vivo? Fotos costumam enganar o mais atento observador. Mesmo o mais experiente
pode cair no truque da perspectiva alta. Do foco no rosto, do apelo ao bundão /
peitão que desvia a atenção do barrigão. Faria diferença? Em um sentido prático?
Não. De todo modo, não lhe convinha imaginar que ela usasse de truques tão tolos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao menos não novamente. Ainda preciso
entender a tentativa falha de manipulação. Por que ela não foi direto ao
assunto? Talvez um apego desnecessário ao papel destinado às mulheres. Porra,
veja bem, eu querendo que alguém seja mais direto. Eu, o senhor verborragia. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>De qualquer forma, estou pagando para ver, não
há retorno. – Isso, dentre outros pensamentos, era o que passava por sua cabeça
quando disse ao motorista: <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Pode me deixar aqui mesmo. – Estava a um quarteirão de
distância do bar onde marcara o encontro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A ideia era ter tempo para caminhar, elaborar
melhor algumas linhas de pensamento e de ação. Isso, é claro, também gerava o
efeito colateral positivo de deixar a garrafa de vinho que bebera tomar seu
corpo; calmamente. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- São 22 reais.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Só? Esta noite está começando bem!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>- Tem trocado, não?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Desculpa, só estou com isso. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O olhar do motorista, mesmo pelo
retrovisor, transmitia tanta raiva que assustaria o mais armado dos covardes. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Pode ficar com o troco amigo, no momento só estou com
notas de 200.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Silêncio.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Uma sirene soa distante.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Silêncio.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Uma nova música começa no rádio. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Tentando amenizar a tensão, afinal não tinha de continuar
ouvindo o ruído do motor do táxi, soltou:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Depois acertamos, sem problemas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que você disse?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">-<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pode ficar com o
troco, na próxima você me dá desconto.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Ficar com o seu dinheiro?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Sim, descontamos em uma outra viagem, o que acha?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Na próxima? Tá doidão? Tá me tirando? Não preciso de
esmola de playboy. “Só estou com notas de duzentos”, sério? Deixar o troco...É
cada um que me aparece. Vou arranjar o seu troco. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Calma, foi só uma sugestão...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Você vai ficar onde? Quer saber, não importa. Espera
aqui. Vou trocar essa merda de dinheiro ali na loja de conveniência e já trago
de volta.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Ok, eu acho... Obrigado? – Mas quando o respondeu o sorriso mental era tão evidente que o lábio se contorceu em direção às
orelhas. Involuntariamente, é claro. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Com certeza, voltará com o meu troco. E o sorriso veio fácil, novamente,
aos lábios. Preciso me conter. De todo modo, tenho de tentar entender que, como
um trabalhador sub-remunerado, é compreensível que um motorista se aproveite de
pequenos estratagemas para complementar sua renda. Não há um fator pessoal nessa atitude. Impelido pelas condições sociais, o sujeito age de maneira a sobreviver
em um ambiente que lhe é opressor. E ele está certo, é evidente para qualquer
um que pense um pouco mais. Não? Só não vejo a necessidade de toda aquela
atuação. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Enquanto o táxi se afastava, ele caminhou em direção à
bela igreja de inspiração barroca que se avizinhava do ponto onde ocorreria o
encontro. As torres, apontando o céu, mostravam a mais bela devoção humana: o
apego ao intangível, a necessidade de narrar o mundo, explicando-o. O maior dos
dons: criar a própria história. Riu do fato de ter usado o termo “dom”. Um erro
bobo, mas algumas higienes são necessárias com relação ao uso da linguagem.
Sim, nós nos criamos, uma vez que erigimos no solo de nossa mente o que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>significa “ser”. Dar sentido à vida, eis a
tarefa hercúlea que esta bela catedral representa! Sentia-se livre ao comungar
em pensamentos com aqueles autores que tanto admirava. Existencialismo; em sua
boca a palavra era um adjetivo. <o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgLUrN3nfAZDpBP9OqC2YaonNMFwz4t-PF8efpEyhtOACAH8_AtgTw4dHvutaVciwBrEl-0WPTWMm_V62qYUsNsmVDlw2_afw2DCxCYUxiD_PV5K9_bW7QddTaeGWKHoEeY7KQ-w/s928/1+-+Louren%25C3%25A7o+Mutarelli++-+Mundo+Pet.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="928" data-original-width="712" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgLUrN3nfAZDpBP9OqC2YaonNMFwz4t-PF8efpEyhtOACAH8_AtgTw4dHvutaVciwBrEl-0WPTWMm_V62qYUsNsmVDlw2_afw2DCxCYUxiD_PV5K9_bW7QddTaeGWKHoEeY7KQ-w/s320/1+-+Louren%25C3%25A7o+Mutarelli++-+Mundo+Pet.jpg" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Olhando para o céu, entretanto, esquecera-se do asfalto.
Quando percebeu a mulher, já estava quase passando por ela. Sentada sobre os
degraus da casa de adoração;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>junto com o
companheiro canino, aguardava o auxílio divino: a providência. Bem, hoje serei
eu o servo de Teu Deus. Tais pensamentos lhe faziam cócegas mentais...tinha de
segurar a gargalhada. Tirou, então, da carteira duas notas de duzentos e,
abaixando-se, entregou-as com a alegria de quem participa da melhoria do tecido
social. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>V</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Tinha um rosto a prova de qualquer vaidade. Herdara do pai
o táxi e o contrato de aluguel do apartamento no Edom, bairro razoavelmente bem
frequentado, lar da classe média que interpreta o paraíso com fantasias de excesso
e riqueza. Apaixonado pela derrota, tinha no olhar dos fracassados a companhia
para as noites rodando. Roubar de um playboy? Como se houvesse algo que ele
tenha e eu não possa ter. Viu naqueles olhos condescendência, pena. De mim?
Não...ele teria seu troco. Eu não sou como aqueles colegas de infância que
filha-da-putearam à deriva pela vida, esbanjando sorrisos por fazerem dinheiro
em cima de otários de nascença e criação. Felicitando um ao outro pela melhor
maneira de ganhar um trocado arriscando a existência eterna. Alguns levavam a
vida como um vício, outros como um hábito, mas eu compreendi: a existência é a
chance concedida por Deus para nos mantermos limpos; uma provação, um desafio
de força de vontade; uma maratona, não uma corrida com pódio de chegada e beijo
de namorada . O livre-arbítrio é dádiva do “não”. Essa pequena palavra, mas tão
grande característica, nos diferencia dos animais e daqueles que têm como
“humano” apenas a nomenclatura, não a qualidade. Negar o pecado que nos circunda
diariamente e, inabalável, caminhar pelo deserto, pelas brasas do prazer e da
iniquidade rumo ao trono do altíssimo, eis o desafio da religião racional.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Não devolver o troco? É isso que ele espera de mim.
Olha-me como superior somente por receber mais dinheiro mensalmente. Como se esperasse que pedido de desculpa por existir, por ser mobília em sua vida. Oras, só porque tem pai, mãe...tios
e tias e tantos outros pontos de uma rede social que se espalha pelos
corredores do poder da cidade. Uma vida que transcorre de “sim” em “sim”. Herdou
um sobrenome que o antecede nas interações sociais, e, quando isso não ocorre,
utiliza a carteira cheia de notas de duzentos reais como um sorriso simpático
para o mundo: posso compartilhar isso com você, quer? Um pessoa que só compreende
o “sim”, como poderia se aproximar de Deus? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">- Não. Não! Ele terá o troco, eu não uso o linguajar da
miséria, seu filha da puta.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>VI</b> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>E por que você não socializa no
próprio bar? Não é mais fácil arranjar alguém nesse ambiente? Muitas de suas
amigas já perguntaram isso. Como se tivessem alguma sabedoria para
compartilhar. Acham que, depois de terem se amarrado em um pau pelo resto da
vida, têm as respostas para todo e qualquer relacionamento. Como se o objetivo
de todas nós fosse ter uma foda garantida, depois uma criança para amar e
cuidar e cuidar e cuidar, e depois uma pica meia bomba para sentar uma vez por
mês; com sorte. Sim, amiga, estou esperando pela minha alma gêmea em um bar, em
uma sexta de chuva no final do mês. Toda trabalhada no uísque, não se esqueça!
E ao recordar-se do álcool que lhe toma as veias, ajeita a altura do vestido e
a janela de visão oferecida por seu decote. Escolher o decote ideal é uma arte desprezada.
Deve-se mostrar somente o suficiente para gerar o anseio. Não é muito. Enfim, elas
nunca entenderiam, afinal nunca frequentaram esse ambiente o suficiente para
saberem que o homem que está aqui não é o meu tipo. Meu prazer está em homens
na puberdade dos sentimentos. Virgens da malandragem. Incrivelmente cientes da
sorte que é estar com alguém como eu. <o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgi_SOHdVp0q8XSUXAZsI0UaArfITMB2Zo3ow-LivqNn-RisMjBSYPpJR2Ygh6wiOW18Sem1h0L-D9ooxMLn_TVMSB1r-5q_9DwflUeH7Z_XTKw41WT4bcXTChOoWz1h_GSE7v1VA/s735/2-+Louren%25C3%25A7o+Mutarelli++-+Mundo+Pet.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="735" data-original-width="712" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgi_SOHdVp0q8XSUXAZsI0UaArfITMB2Zo3ow-LivqNn-RisMjBSYPpJR2Ygh6wiOW18Sem1h0L-D9ooxMLn_TVMSB1r-5q_9DwflUeH7Z_XTKw41WT4bcXTChOoWz1h_GSE7v1VA/s320/2-+Louren%25C3%25A7o+Mutarelli++-+Mundo+Pet.jpg" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Isso não é um “eu” versus “elas”, lembra-se
a tempo de finalizar uma discussão consigo própria. Álcool: beba e ganhe
gratuitamente um companheiro para monólogos existenciais – eis uma ótima
propaganda! Feliz com suas pérolas, senta-se no boteco onde marcara o encontro.
Chegou antes, pois necessita quebrar o estereótipo que criara de mulher
certinha. É a hora de transformar o cérebro álcool alterado em um pântano de
desejo e uísque cowboy. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sim, outros tentaram a sorte. O
batom se esvaía na boca dos copos enquanto outros balançavam a cabeça, sorriam,
pagavam drinques...Tudo para tentar uma aproximação. Obrigado, mas o objetivo é
um só. Embora esses senhores a divertissem, não perderia uma noite com eles. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Vira-o de longe. Vinha da direção da
basílica de santo António Maria Gianelli. Caminhava lentamente e olhando ao
redor. Ela gostou...estaria pensando no que dizer? Em como começar a conversa?
Seria ela o vórtice dos pensamentos daquele completo estranho? Foi quando um
cachorro grudou na perna dele com os dentes. Com chutes, ele afastou o animal.
Com chutes, garantiu a permanência do bicho em estado de repouso; final. Uma
senhora de rua foi então na direção do “boy da noite”. Por quê? Grita a velha,
caindo no chão e tentando resgatar o animal da morte. Os chutes prosseguem.
Parecem ter, à distância, um alvo duplo. Acertam e acertam. Fortes, decididos e
bem sucedidos. O que não deveria ser uma bola; vira. O que não deveria explodir
em vermelho; explode. Quem não deveria chorar; chora. Aquele que não deveria ir
embora; vai? Vai para onde? Como assim? Ainda estou aqui. Aqui. Aqui, porra!</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>VII<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Compartilhar com o próximo. Que piada de mal gosto. Como
se fosse possível termos algo em comum para partilhar. Como se fosse possível
ceder algo que interessasse a alguém cuja grande aspiração na vida é permanecer;
ser mais um de tantos da espécie que se espalha desenfreadamente. Em que eu
ajudaria algo como ela? Em que isso me seria proveitoso? Não preciso dela. Não?
Não! Olhe para esse rascunho de pessoa: prostrada nas escadarias da igreja,
fantasiada de mendiga, acompanhada por um cachorro que consegue feder mais que
a dona. Não precisa de ajuda... Não quer aceitar meu dinheiro? Agora não posso
nem fazer-lhe uma boa ação? Olha-me nos olhos e diz não precisar de minha
ajuda? Desculpe-me, tomara que morra, velha. Você e seu animal. O surrei até a
morte, sim. No entanto, fora ele quem primeiro me atacou. E eu pedi desculpa;
ainda. Gostei do que fiz? Não. Tinha escolha? Não. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">A velha não aceitar minha ajuda fora, sem dúvida, a
atitude mais estúpida daquela vida. No entanto, analisando com um pouco mais de
frieza, ao menos ela assumira a posição de inferior com orgulho, mantendo assim a
humanidade; ou melhor, ganhando assim humanidade. Há beleza nisso! Sim, mesmo
esse projeto de gente teve a honradez de recusar as facilidades da vida na rua.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Tal qual o fio de Ariadne salvara a bela jovem da
depravação provinda de um ser inferior, o minotauro, a atitude dessa velha
revela um caminho. Não posso aceitar uma posição subserviente em todas minhas
interações sociais. Mesmo ela, pode ensinar-me algo. É meu dever ensinar pelo
exemplo, somente assim a evolução social será factível. Foi então que, tentando
desculpar-se por ter matado o cão, foi afastado com gritos histéricos. Como
esperado, ela não compreendeu. Por quê? Por quê? Oras, só há uma resposta e
todos sabem, não? Porque eu posso, porque eu quis. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Estava decidido, tomaria uma atitude. Não posso permitir o
caos total. Tome-se o exemplo do taxista. Se lhe perdoasse o roubo, o que seria
de todos nós? Não era questão de se apegar ao troco como se precisasse. Nunca. Mas
como poderia aceitar tal vagabundagem explícita? Seria contrariar todas as
regras que baseiam o contrato social. Aquele homenzinho de merda lembrando-se
de mim e sorrindo...Não! Feliz por se dar bem. Alegre por enganar mais um<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>playboy sem noção. Sei que ele pensou isso. Eu
sei. Dá para acreditar? Como se não fosse por minha causa que ele sustenta seja
lá a vidinha que tem: os filhos, a mulher permanentemente grávida, o pai e mãe
doentes. Dá para aceitar isso não... Esse tipo de gente acha que tenho algum
tipo de obrigação com eles. Têm de entender o valor da bondade! Perceber a
virtude do doar, o desprendimento solidário de deliberadamente entregar aquilo
de que não preciso para que tenham uma chance. Porra! Esse puto
está estragando a minha noite! Não vou conseguir conversar com a gostosa pensando
nessa afronta. A noite promete estranhas epifanias. – falava para os ares
enquanto a sangria de um sorriso escorria por seu rosto deformado pela raiva. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Ou respondo à altura ou em breve não terei uma sociedade
de que me orgulhar. Um local seguro onde possa dormir. Vão roubar tudo? Não
enquanto eu puder impedir. Aquele motorista sabia que fazia algo errado, mas,
oras, se ninguém fala nada, por que não continuar fazendo, não é? Sem crime,
sem pecado. Por que não continuar ganhando, troco por troco? Roubando, noite
após noite. Hoje não! Eis o livre arbítrio, a capacidade de dizer: “basta!”<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Eufórico ele sinalizou para que um táxi parasse. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"></p><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>- Por favor, siga aquele táxi. <o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>- Que táxi, senhor?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Após um momento de dúvida
inesperada, ele responde. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>- Pode seguir adiante, agora!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">A loucura é areia movediça em noites como essa.<br /> <o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6Sd1DpSoF61Tq4TkalXxHeEK-KUB78R1NQrOtbUBmoVRHZyD9-3UDO_ymXbZNJQYZE0sFnBCVex6BIfoF0wbkCUsTXptdVRQB7aWfqYwGcd3W7vdch06XmhO5S0mjf3No8OhNgQ/s2567/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_+Estampa+forjada.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1225" data-original-width="2567" height="306" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6Sd1DpSoF61Tq4TkalXxHeEK-KUB78R1NQrOtbUBmoVRHZyD9-3UDO_ymXbZNJQYZE0sFnBCVex6BIfoF0wbkCUsTXptdVRQB7aWfqYwGcd3W7vdch06XmhO5S0mjf3No8OhNgQ/w640-h306/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_+Estampa+forjada.jpg" width="640" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>VIII</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tentava entender...Sentada no local marcado ela o viu descer do táxi. Observou quando,
pensativamente belo, contemplou os céus. Lá estava o alimento de hoje, caminhando
em sua direção. Prestava homenagem com o olhar à bela igreja. Ela nem era católica,
porém gostou de notar algo não superficial nele. Era grande coisa? Não. Mas em uma
noite chuvosa como aquela, todos têm algo a oferecer. Começava a se preparar
para recebê-lo com seu sorriso treinado quando o sujeito ajoelhou-se próximo a
senhora abandonada à porta da igreja. Doava algo? Que belezinha, será que metia
bem? Esses idealistas costumam ter medo de lambuzar a boca em uma boa boquete.
E se tivesse nojo de suar? É uma hipótese. Não teve tempo de prosseguir os
devaneios a respeito dos caminhos futuros e possíveis. Foi trazida de volta ao
presente quando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>os chutes raivosos dele
lançavam o corpo do cachorro e da mendiga cada vez mais longe. Cada vez era
mais dolorido de observar. Por quê? Era esse o mesmo homem com quem conversara
no início da noite? Talvez estivesse se confundindo. Com certeza estava,
afinal, aquele desconhecido acabara de pedir um táxi, ou seja, aquele merda não
era o par escolhido. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>- Mais um uísque, por favor – pediu,
já tranquila por ter conseguido controlar o desenrolar descontrolado de sua
mente alcoolizada. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Assim que o garçom lhe entregou o
copo, sentiu um olhar distante pousando sobre si. De dentro de um táxi, ele a
olhava. O semáforo o prendera por instantes frente a frente com ela. Não havia
dúvida, era ele; partindo. Ainda teve a audácia de acenar e mandar-lhe um
beijo. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mandou-lhe um beijo e foi-se com a
liberação verde da sinaleira. Foi-se... <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Como assim? Quando o uísque chegou
as suas mãos, encarou-o como quem vislumbra no leito de morte o pai ausente.
Responda-me, por quê? E a resposta veio. Por caminhos tortuosos a verdade se
revelou. Uma trilha indicada por copos vazios: a do impulso. Seu batom não mais
se esvairia em repetidos copos. Nesse momento, seguir aquele olhar parecia o
ato racional a ser tomado. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como
ousara...Ela, abandonada? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Porra, olha o exagero. Pensa mais um
pouco. Estava ali por si própria, sim. Gostava de fantasiar ser uma vampira,
alimentando-se das emoções alheias. Ou melhor, da emoção: a esperança. Por que
precisa daquele merdinha? Não precisa. Contudo, tudo isso não é certo. Havia
contas a serem acertadas. Pela mendiga velha, pelo cachorro morto, acima de
tudo, por mim. <o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirTAYlMaPhRX_tm4l_iFd1mSQt3gHJCU6XBYgdqXE_ZcrbZONo92S15FbfQXvAYDn5BsKLZHwIGhOlvhefNxld1NPBprEydwD_gPDgcgOlQ0PANQIVTwypMwN0WPoP_XgJOiring/s1270/3+-+Louren%25C3%25A7o+Mutarelli++-+Mundo+Pet.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1270" data-original-width="594" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirTAYlMaPhRX_tm4l_iFd1mSQt3gHJCU6XBYgdqXE_ZcrbZONo92S15FbfQXvAYDn5BsKLZHwIGhOlvhefNxld1NPBprEydwD_gPDgcgOlQ0PANQIVTwypMwN0WPoP_XgJOiring/s320/3+-+Louren%25C3%25A7o+Mutarelli++-+Mundo+Pet.jpg" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-tab-count: 1;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Todas as imagens são de autoria de Lourenço Mutarelli e pertencem ao álbum <i>Mundo pet</i><br />Você pode encontrar esse álbum <a href="https://www.amazon.com.br/Mundo-Fac-s%C3%ADmile-Over-12-exclusivo-Amazon/dp/6500084276/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=capa+preta&qid=1603311593&sr=8-2" target="_blank">aqui</a>.</p>Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-66118236417820566242020-09-22T06:27:00.002-03:002020-10-21T17:21:48.896-03:00Números 6 - O chamado<p> Salve, traças,<br /><br /> Estou começando a publicação do fanzine Números em sua edição 6. O conto ficou um pouco longo, então, antes de publicar o arquivo completo, publicarei a história em três <i>posts </i>por aqui. <br />Ainda não tenho o título dessa história, AJUDEM-ME!. <br /><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><b><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">O chamado</span></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">I</span></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Futuro é um artigo de luxo. Ter um “a longo prazo” é um
puta privilégio de que ela não desfruta. Com fome, desejaria comer. Cansada,
pensaria em despencar na cama. Com tesão e solitária, o plano é sair para
meter. Hoje. Agora.<br /> <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><img border="0" data-original-height="603" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD7RbQgGMhS9-VepzL9BOsNn_Iot92oq3PAz7hquWbpqbMKPMXD6hs994G-BgrsXSnXnWZzj95Wha4PwI22_uzyUaKWFwusAz6zyJFu3Esvb1hELuzwh3hR9jAvJV2ksBvNo34vg/s320/1.jpg" style="text-align: left; text-indent: 47.2667px;" width="320" /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Certas noites precisam do amanhecer, enqu<span style="text-indent: 35.45pt;">ant</span><span style="text-indent: 35.45pt;">o outras
anseiam pela madrugada. Ela só queria se sentir querida, desejada, ser o plano
de alguém...Que um ser, em m</span><span style="text-indent: 35.45pt;">eio àquele deserto, a tivesse como norte. Que a esperança dessa pessoa fosse vê-la novamente. Não confunda a </span><span style="text-indent: 35.45pt;">necessidade de
desejo alheio com carência. O objetivo dela era tão somente se alimentar da
esperança contida na semente do desejo.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Acariciava a tela do celular, dançando com os dedos em
busca daque<span style="text-indent: 35.45pt;">las pessoas que eram belas, mas no limite da f</span><span style="text-indent: 35.45pt;">eiura. Ele ou ela
tinha de ter um ar de profundidade e inteligência, no entanto não poderia ser
distante o suficiente da sociedade para não se importar com a aparência. Sim, é
óbvio que o visual é importante. Em um cardápio, escolhemos o alimento pela
imagem que mais agrada. Para abrir o apetite, escutava jazz e tomava uí</span><span style="text-indent: 35.45pt;">sque</span><span style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Uma vez localizado o alvo e estabelecida a certeza do
interesse mútuo, declarava-se solitária e querendo conhecer alguém. Veja bem,
para se saciar, precisava criar o desejo verdadeiro, aquele que não acabava com
um jato de porra. Somente assim, aquele brilho esperançoso surgiria no olhar no
momento da despedida. Dizer “estou afim de meter” certamente atraíria
companhia, mas não era isso que buscava. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Encontrou. Hoje seria um “ele”. Cabelo <i>black power</i>, óculos
amplos, descrição engraçadinha e sagaz no perfil. Era um pouco mais novo que o
ideal, mas serviria. O papo foi direto. Não gosto de conversar on-line, prefiro
contato humano, por que não vamos a um bar? Ela não disse nada disso, ele o fez.
Conhecia as linhas de força que comandavam a mente masculina média. À mulher,
rezavam os códigos, cabia o papel de apenas insinuar, deveria deixar para o
macho as proposições, as escolhas, os convites. Não se importava, era mais
prazeroso fazê-lo colocar em palavras aquilo que ela previamente desejava.
Marcaram o horário e o local. Era hora de banhar-se. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2sk0izBI1hFkLv64lUCuqrCcVJ7n8rayaZQz-pF0X4pHv2RYVH-VNhWK9izvY0BpzrpOXjuPnVnHjYFKZytMBxEPNCGcwDBKSgLgYP3_ECrC9a5QDqskmJgVjUivR-4acT8WxaA/s1024/2Luis+Royo+The+Bath.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 47.2667px;"><img border="0" data-original-height="817" data-original-width="1024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2sk0izBI1hFkLv64lUCuqrCcVJ7n8rayaZQz-pF0X4pHv2RYVH-VNhWK9izvY0BpzrpOXjuPnVnHjYFKZytMBxEPNCGcwDBKSgLgYP3_ECrC9a5QDqskmJgVjUivR-4acT8WxaA/s320/2Luis+Royo+The+Bath.jpg" width="320" /></a></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">II </span></b><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">A água escorria pelo alto da montanha. Um homem com a
loucura do deserto portava um cajado que brandia aos céus com todo o ódio que
só o amor fanático pode proporcionar. Relâmpagos cortavam a pele formando
irreconhecíveis rostos. Os cabelos longos ditavam os caminhos para a torrente.
Seu rosto convidava ao temor. Sua boca vociferava colericamente a verdade; cega.
Abaixo da montanha, várias pessoas representadas de costas observavam
consternadas a postura vilanesca do velho. O sabão tampava a mulher ajoelhada
que se recusava a pagar a devida atenção ao profeta. O calor gerado pela água e
pela fricção do sabão trazia uma tonalidade vermelho-s<span style="text-indent: 35.45pt;">angue à cena. A tinta que
rasgara a pele cobria a totalidade das costas. O movimento do corpo, recriava
vida na face do senil legislador sacro: o sermão renasce no calor do sangue que
se prepara para a vida noturna da capital.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Algumas leis são eternas, – na escuridão do banho quente,
ele pensava - há verdades além daquilo que nossa visão entrega. A revelação não
pode se dar pelos sentidos calcificados pela podridão do cotidiano. A bucha
raspava a pele em um movimento obsessivo; amoroso. O banheiro é o melhor lugar da casa. Banhar-se em silêncio
no ambiente sem luz, limpar o corpo e a mente, clarear o pensamento.</p> <o:p></o:p><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"> Repetia esse processo todas as
noites antes de começar a trabalhar. Apesar de tudo, ainda precisava de
dinheiro para alimentação. Levava uma vida simples e regrada, pois desejava
interagir minimamente com o mundo. Sob a luz bruxuleante das velas secava seu
corpo. Observava sua figura no espelho de dois metros de altura por um de
largura que mantinha em seu quarto. Gostava de admirar seus músculos, se
quisesse poderia colocá-los em ação e espremer qualquer um daqueles com quem
tinha de conviver. A imensa tatuagem de Moisés no monte Sinai que cobre
completamente suas costas o relembra de seu caminho. Traz com orgulho, na ruína
do corpo, a marca da revelação. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Veste-se sobriamente, toma um copo de vinho acompanhado
por pão e segue para o trabalho. Mais uma noite arrastando perdidos pela carne do
desejo que é a madrugada na capital<span style="text-indent: 35.45pt;">.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">III</span></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"> Segundo meu psicólogo, eu não
deveria brigar com as verdades que não me agradam, pois bem, sou verborrágico e
isso não é um defeito, de modo algum! A verborragia é uma das minhas
características preferidas. Vejo-a como um índice de superioridade intelectual,
afinal, por meio dela desenvolvi a capacidade de articular por meio da
linguagem verbal significados que normalmente seriam inatingíveis para o
pensamento confortável ao chão do asfalto. Eu poderia atravessar o deserto
analisando meu discurso. Dito isso, confesso que há verdade no que dizia minha
ex-empregada: “Cê só sabe plantar enganos na nossa cabeça”. Sim, ela dizia
rindo. Sim, ainda assim, é uma pérola de sabedoria. Sim, ela falava isso após metermos
novamente pela última vez. Sim, ela errou ao interpretar minha necessidade de
expressão clara, e talvez excessiva, como um sinal de afeto que atravessasse
nossas diferenças e nos unisse em algo mais do que um par de pessoas querendo
gozar. Acredito que atualmente ela perceba o erro em se declarar para um homem
/ pênis cujos desejos se resumiam a uma foda garantida durante o prólogo das
noites de sexta. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Do que falamos? Oras, este é o exercício de sinceridade
requisitado pelo psicólogo. Embate com a verdade. Trabalho terapêutico de confrontação
com o “eu”. Em outras palavras, uma piada bem elaborada por partes de mim que
nem mesmo conheço. Labirintos de pistas falsas para um ser único que existe
apenas nas planilhas de imposto renda de técnicos contábeis. E lá quero eu
saber quem EU sou? Respira. Respira. Volte! Devo controlar o fervor por criar
narrativas / justificativas. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Esta é uma tentativa de traçar algoritmos de
possibilidades, mapear minhas linha de ação com aquele sorriso envolto em desejoso batom,
flagrante esperança, fragrante tesão. Como é linda! Não há problema nenhum em
beleza e ingenuidade andarem juntas, ainda a valorizo, apesar dela ter tentando
me manipular feito uma criança de 22 anos. O fato de minha idade ser 22 anos enfraquece
o argumento? Crio piadas para o meu próprio riso contido. Ela tentou usar-me e
pensou que eu não perceberia. Um gesto lindo que despertou ainda mais o desejo.
<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">Como devo comportar-me com ela? Sigo com o papel a mim
atribuído? Explicito o quanto juvenil e óbvia ela fora? Ela compreenderia?
Entenderia minha demonstração de intelecto superior a média como uma tentativa
de agradá-la ou como um ataque? <o:p></o:p></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">In vino veritas. Não deveria fazer isso, porém tudo
aconteceu rápido demais e não terei muito tempo para me preparar. Talvez seja
positivo. Sinto que esta será uma noite de revelações! <o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFbn47_D_w6NqBc3NttOPOiRmpNPw6_eS-tAiZDqy0c9Vb9i-iJqXkIe4eFpSqJulysCsB7F-skRgH1QoWCLYAbjPd1Ol7kTWwT3vGwMNrl78sci4F-F3OsUlWEcPOXWL2jMjkTA/s960/susano+correia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="834" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFbn47_D_w6NqBc3NttOPOiRmpNPw6_eS-tAiZDqy0c9Vb9i-iJqXkIe4eFpSqJulysCsB7F-skRgH1QoWCLYAbjPd1Ol7kTWwT3vGwMNrl78sci4F-F3OsUlWEcPOXWL2jMjkTA/s320/susano+correia.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-family: courier;">Crédito das imagens</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-family: courier;">1 - Não encontrei o autor, aceito ajuda. <br />2 - Luis Royo - https://www.luisroyo.com/en/<br />3 - Susano Correia - https://www.instagram.com/susanocorreia/?hl=en</span></div>Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-55680446996305065642020-04-29T11:14:00.000-03:002020-05-03T09:06:56.355-03:00À deriva na ressaca de um mundo acabado, do qual só resta nostalgia<br />
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
</div>
<h2 style="text-align: center;">
<b>I - Cigarros</b></h2>
<br />
- Pode o destino ser uma punição? Sim, nós envelhecemos. Mas pense, em algum momento passou pela sua cabeça que não aconteceria? Nunca pensou na morte?<br />
<div>
<br /></div>
<div>
- Esse discurso todo
só porque pedi um cigarro, Maria Luísa?<br />
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- As vezes você me
cansa...sabe? Lembra quando sua pressão subiu e você desmaiou na rua? "Ó meu Deus! Pessoas tiveram que me ajudar, um ônibus parou e desceu
até o motorista para me socorrer. Pararam o trânsito e chamaram a
ambulância". E, imagina o que mais te perturba, Francisco? Te olhavam
com pena...Sim, Francisco, pena. Claro, viam a porra de um velho
sendo levado para o hospital após cair sozinho no meio do trânsito. O que você
queria que sentissem? Francisco. Chico. Seu Chico, você
é velho. Nós somos VELHOS, custa tanto aceitar a imagem no espelho?</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Você fala isso
porque não estava lá. Ficar sentado no chão esperando uma
ambulância, rodeado por desconhecidos. A vergonha. Sei que sou
velho, e por isso mesmo não quero mais passar por isso; se der para
evitar. Lembro-me muito bem dos olhares...todos os passageiros do
ônibus. Depois, carro por carro, passando lentamente para matar a
curiosidade. O velhote; coitado.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Você deveria
agradecer que teve, ao menos, alguns samaritanos para ajudá-lo. Pior
seria ficar caído na rua sem socorro algum.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Certo, certo. Tem
razão...sou velho para caralho e o escambau. Mas me escuta, você
não tem de buscar a ração do Rei? Então... Vamos ao
mercadinho, compramos a ração do Rei e aproveitamos para pegar meu maço
de <i>cigarritos</i>. O que acha? Sem brigas?</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Se você tem tanto
medo de andar sozinho na rua, não deveria fumar. Ainda mais sabendo
dos seus problem...</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Vamos Rei? Vamos
sair de carro com mamãe e papai para buscar sua comidinha?</div>
<div align="justify" style="border-bottom: 1px solid #000000; border-left: none; border-right: none; border-top: none; margin-bottom: 0.35cm; padding-bottom: 0.04cm; padding-left: 0cm; padding-right: 0cm; padding-top: 0cm;">
- Ah...foda-se, velho teimoso. </div>
<h2 style="text-align: center;">
<b>II - Destinos</b></h2>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm; text-indent: 1.25cm;">
No Brasil, todos os dias são quentes? Sim, a maioria e aquela sexta
fazia parte da porção em que o inferno se
estabelecia sobre o asfalto da cidade. Francisco, Chico, o Seu Chico, estava a quinze minutos no carro tentando atenuar o desconforto da
presença de Rei, o cachorro, com qualquer ruído do rádio. Se
ao menos tivesse gasolina suficiente para deixar o ar-condicionado
ligado. Se ao menos pudesse abrir todas as janelas sem a praga latir
para toda alma vivente passando pela calçada. Se ao menos o calor
não colasse a pele suada no banco. Se ao menos tivesse conseguido
ter filhos, talvez tudo fosse diferente, sem necessidade de cigarros,
cachorros e desmaios pela rua. Talvez nada mudasse; hipóteses para
tempo ocioso que foram interrompidas pelo latido estridente de Rei
chamando a atenção para a mulher à janela.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- O senhor é o Seu
Chico?
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Sim, sou. Por quê?
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- A sua mulher
precisa do senhor, ela desmaiou. Já chamamos a ambulância.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
Respirando fundo,
em choque, Chico saiu do carro. Em alguns passos chegou. Lá
estava ela, estendida no chão, ao lado do caixa. Um pedaço de carne
caído, largado; esparramado e chamando a atenção. Francisco ajoelhou-se, tomou-a pelos
ombros e chamou.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Maria Luísa.
Luísa. Acorda!
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTOq7I456zy2PGNnvxqCv2Vtf5ZIVREW3j7FO27E9A2aiTesWDZ-CIRp8iUtWs3DUzFdRhogzOcxLM9qxxXy0Fm3CjANJzbd4iXCo448jOfcb22wrNWYg5lrwBt0DoERd4AWYYgw/s1600/S%25C3%25A9rie+Tr%25C3%25A1gica_Fl%25C3%25A1vio+Carvalho.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="761" data-original-width="800" height="380" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTOq7I456zy2PGNnvxqCv2Vtf5ZIVREW3j7FO27E9A2aiTesWDZ-CIRp8iUtWs3DUzFdRhogzOcxLM9qxxXy0Fm3CjANJzbd4iXCo448jOfcb22wrNWYg5lrwBt0DoERd4AWYYgw/s400/S%25C3%25A9rie+Tr%25C3%25A1gica_Fl%25C3%25A1vio+Carvalho.jpg" width="400" /></a></div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Seu Chico –
disse o velho dono da mercearia – acho que ela teve um ataque
cardíaco.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm; text-indent: 1.25cm;">
Francisco, Chico, o Seu Chico, encarou-o, lembrou-se de todas as
brincadeirinhas desnecessárias que o velho tinha com sua mulher.
Sempre empacotando as compras com um comentário sobre o tempo, uma
piadinha sobre os últimos acontecimentos. Filho de uma puta.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm; text-indent: 1.25cm;">
Ao pé do ouvido, chamou pela esposa mais uma vez, porém a verdade ficava
evidente. Não havia mais aquela Maria Luísa da briga rotineira. Sem movimento, respiração e vida, sobrava o corpo. Como pôde fazer isso comigo? </div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm; text-indent: 1.25cm;">
Francisco, Chico, o Seu Chico, o velho, abraçou-a em uma tentativa
de passar calor do corpo ainda vivo para o que se esvaíra. Vive, Maria
Luísa. Não morre! Não aqui, não na frente de todo mundo. –
Pensava, já fazendo promessas que nunca cumpriria.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- A ambulância está
a caminho, Seu Chico, vem, vamos levantar. – dizia a jovem
atendente de caixa.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
Francisco, Chico,
o Seu Chico, o velho viúvo, fechou os olhos com toda força até ver
o mundo como uma televisão sem sinal. O que fazer? Na morte, a vida
torna-se insuportável, absurda e completamente compreensível.
Sentia o calor da juventude ao seu lado, a atendente de caixa
desconhecida, vendo-o assim, jogado, abraçado com um cadáver. O que
pensaria dele? A mulher era um corpo frio, ele um corpo morno, mas
aquela que lhe ofertava a mão era quente.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
Eu tenho de chorar?
Abrir os olhos? Agir? A cada momento que passava junto com a esposa
invejava-a mais. Antes fosse ele o morto a ocupar o tempo dos outros.
Respire fundo. Olhe o mundo, analise, tome decisões. Juntando
coragem Francisco, Chico, o Seu Chico, o pobre velho viúvo,
vagarosamente, vira-se. Vê, enfim, a atendente loira e não tão
jovem quanto esperava. Encara o maldito dono da mercearia. O puto tem
uma toalha na mão. Ao redor, o pequeno supermercado está parado. Há curiosidade estagnada contemplando a cena vergonhosa; desconhecidos e conhecidos. E
eu, aqui, ator trágico de uma maldita comédia! Respira fundo e
levanta, porra. Mas vejam só que caralho, o maldito cobrindo o rosto
da minha mulher com a toalha.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- A ambulância
está vindo?
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Sim, já
chamamos. – Responde a loira, não tão bela.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
Francisco, Chico, o
Seu Chico, o pobre velho viúvo e abandonado, vê caída a sacola
com o que Maria Luísa comprara. Dentro a ração do Rei, um ossinho de
brinquedo, um pacote de ovos com alguns ainda intactos e um pouco de
queijo. Revirando as compras, gema e clara se misturam com velhice e queijo. Tira os objetos, apressadamente,
joga-os no chão. O tempo não passa. Olha para os olhos que o
rodeiam. A angústia é contagiante; viral. A possibilidade de uma
vida escorre de sua mão. O almoço, seu e de Rei, jogado no chão,
assim como a cozinheira.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
E não há um
maldito maço de cigarros.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm; text-indent: 1.25cm;">
Francisco, Chico, o Seu Francisco, o velho viúvo, se levanta
enquanto limpa as mãos com a toalha que fora colocada sobre o
rosto da mulher.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
- Preciso de um
cigarro.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
Correndo, a
atendente abre caminho no círculo de curiosos. Traz um maço de cigarros e o isqueiro. Tenta, sem sucesso, abrir a embalagem.
Francisco, Chico, o Seu Francisco, calmamente, toma daquelas não tão
belas mãos a tarefa. Deixe comigo, estou acostumado. Com os cinco minutos de paz
fumegante em mãos, dirigi-se para fora da mercadinho. Na porta, no
pequeno degrau, senta-se para desfrutar da calma que entra pelos
pulmões. Até a ambulância não chegar, tenho ainda alguns minutos
para gastar.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
Os homens de branco
chegaram depois de três cigarros e levaram o corpo de Maria Luísa.
Francisco, Chico, disse que seguiria a ambulância, para acertar os
detalhes no hospital. Todos se opuseram a ideia, queriam que ele
fosse junto com a mulher. Não, não desta vez.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
A sirene ainda
podia ser ouvida quando chegou ao carro. À sombra de uma árvore,
ofegante, estava Rei. Devia ter pulado pela janela da porta da frente, incapaz de aguentar o calor do ambiente isolado. Francisco
saía com o carro quando o cachorro correu em sua direção.
Acelerou.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
No semáforo,
pensou no que acontecera. Buzinas o trouxeram de volta ao mundo. Não,
não havia do que se envergonhar. Olhou para o banco dos passageiros procurando e encontrou seus cigarros. Ligou o ar-condicionado e
seguiu para o hospital. A velhice não é uma
punição, é apenas destino. Ria.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<br />
<br />
<br />
<br /></div>
Crédito da imagem: Flávio Carvalho - Série trágica. </div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-88228994641705726352020-03-25T20:37:00.001-03:002020-03-25T20:37:10.255-03:00Fantoche<br />
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0.35cm;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">Não estava contente. Como poderia? O presente era o girar constante do disco
do rei e a melodia </span><span lang="pt-BR">trazia</span><span lang="pt-BR"> certeza. E</span><span lang="pt-BR">las morreram!</span><span lang="pt-BR"> Só; estava a salvo do vazio </span><span lang="pt-BR">do</span><span lang="pt-BR">
mundo satisfatório para pessoas razoáveis. Dobrava as roupas
</span><span lang="pt-BR">recém-passadas:</span><span lang="pt-BR"> roupa de casa, roupa de cama, roupa de mesa, </span><span lang="pt-BR">roupa
íntima,</span><span lang="pt-BR"> roupa oca, roupa </span><span lang="pt-BR">sua</span><span lang="pt-BR">.
Os planos para o dia eram a manutenção do estado de limpeza
hospitalar da casa, e da vida, no entanto, feito um soluço mental,
uma ideia saltava </span><span lang="pt-BR">entre</span><span lang="pt-BR">
pensamentos mecânicos.</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmOKCZYdZzi61cJLbF1wZJS2i3BZrS1ug7nx4dSt4ayKh9OkvuudoS2203hdv35mwN8QTrH6oY-4bq9Nav3c9IzztpASQ2mo76PnBre7wFv-rnDHlZNB4j3NUN0qK87YvOUVqgzw/s1600/Dc3B3QIVwAAhH4V.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="400" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmOKCZYdZzi61cJLbF1wZJS2i3BZrS1ug7nx4dSt4ayKh9OkvuudoS2203hdv35mwN8QTrH6oY-4bq9Nav3c9IzztpASQ2mo76PnBre7wFv-rnDHlZNB4j3NUN0qK87YvOUVqgzw/s200/Dc3B3QIVwAAhH4V.jpg" width="200" /></span></a></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0.35cm;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0.35cm;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">O vazio, sempre tão contido, </span><span lang="pt-BR">ansiava</span><span lang="pt-BR">
por forma. </span><span lang="pt-BR">Não, hoje não...S</span><span lang="pt-BR">abia
como agir. Foi até o banheiro e lavou o rosto </span><span lang="pt-BR">dando
às mãos </span><span lang="pt-BR">o carinho de uma camada de
hidratante e </span><span lang="pt-BR">à</span><span lang="pt-BR">
</span><span lang="pt-BR">face</span><span lang="pt-BR"> a proteção
de creme rejuvenescedor. Os olhos captaram uma imagem fugaz:
</span><span lang="pt-BR">a</span><span lang="pt-BR">dultecera rápido
demais, vestia uma fantasia velha e carcomida de sapiência
</span><span lang="pt-BR">insustentável</span><span lang="pt-BR">
frente ao olhar atento. O reflexo ensaiava um sorriso cujos dentes
brilhavam a felicidade de uma lâmpada nunca acesa. </span><span lang="pt-BR">Em
um momento de fraqueza, c</span><span lang="pt-BR">aminhou para o
quarto pront</span><span lang="pt-BR">o</span><span lang="pt-BR">
para se </span><span lang="pt-BR">unir</span><span lang="pt-BR"> à
cama. Morrer é mais fácil que nascer...soluçava</span><span lang="pt-BR">m
os pensamentos</span><span lang="pt-BR">. </span>
</span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0.35cm;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0.35cm;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">Amparado pelo abraço do colchão, uma voz </span><span lang="pt-BR">o
</span><span lang="pt-BR">trouxe de volta à superfície da vida. </span>
</span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0.35cm;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">- Deitado já? É cedo ainda.</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Calmamente arrumou os cabelos com as mãos e se
virou. Com um sorriso colado ao rosto, respondeu:</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">- Estou indisposto, um soluço horrível.</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Deixa disso, me ajuda. Preciso me arrumar. Hoje a noite será boa! Vou-me encontrar com o pessoal do trabalho e
o doutor estará lá. </span>
</span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Vejam só quem está toda cheia de planos.
Controle esses hormônios garota. </span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">- Vai me ajudar ou vai ficar aí beijando o
travesseiro.</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"> Toda aquela vida e ânsia por se conectar
lançando-se à imprevisibilidade do momento eram atraentes.
Contagiado levantou-se e foi</span><span lang="pt-BR"> até a</span><span lang="pt-BR"> </span><span lang="pt-BR">penteadeira.
Sentou-a e com uma escova começou a organizar os longos e loiros
fios de cabelo dizendo o seu amor com os dedos. Aqueles sonhos
requentados de filmes copiados de Hollywood traziam movimento para o
pensamento, algo parecido com vida, mesmo que de plástico. Uma voz o chamava para fora:</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">-Sabe, tive uma ideia, por que você não v</span><span lang="pt-BR">em</span><span lang="pt-BR">
comigo? Ou vai me dizer que tem algum plano para hoje a noite? O que
acha de tirar um pouco as teias de aranha?</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">- Olha o respeito menina! - Disse com um sorriso
insinuante. </span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> A possibilidade era tentadora e o lisonjeava. Não
pensava mais em receber esse tipo de convite. Para ele, sua presença
transmitia uma espécie de vírus. Sua velhice era uma doença que
permitia que interagisse somente com pessoas com a mesma patologia.
Um encontro entre amigos? Jovens ao redor da mesa conversando sem
objetivo algum além de estar ali, tirando prazer da presença alheia
e da fertilidade do futuro? Era uma ideia encantadora, todavia, seria
mesmo um convite, ou apenas um educado afago de piedade que,
logicamente, seria compreendido e, portanto, educadamente negado?</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Não brinque assim, vai que eu aceito. Não
quero te fazer passar vergonha. </span>
</span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">- Como você é bobo. Está decidido, iremos!</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Sem deixar que o silêncio disseminasse dúvidas e
inseguranças, respondeu:</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Iremos então, - com toda a determinação de um
crepúsculo, </span><span lang="pt-BR">disse</span><span lang="pt-BR"> - mas deixe que eu termine de te arrumar.</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"> Aceitar aquela afirmativa, aquela possibilidade
de convívio, pareceu tão abs</span><span lang="pt-BR">u</span><span lang="pt-BR">rdo aos seus ouvidos que nem a pele algodoada que tocava o trouxe para o
agora. Como proceder? Aceitara, </span><span lang="pt-BR">porém </span><span lang="pt-BR">não
poderia simplesmente ir sem se encerrar em um labirinto </span><span lang="pt-BR">de
“talvez”</span><span lang="pt-BR">?</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Tem certeza que não atrapalharei? Que espécie
de garota chama seu pai para acompanhá-la? </span>
</span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">- Uma que o ama e sabe que ele está precisando
de um pouco de sangue circulando rápido pelo corpo. Deixa disso,
está decidido. Agora mudemos de assunto. O encontro é social: umas cervejas e meia dúzia de palavras ao vento. Você aguenta umas horas sem expressar
tristeza em cada som e movimento?</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">- Você aguenta?</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="pt-BR"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"> A resposta instaurou um silêncio laborioso, que
buscava ser quebrado, mas era movediço, traiçoeiro. Restava
permanecer no pragmático </span><span lang="pt-BR">p</span><span lang="pt-BR">enteado,
mesmo que cada vez mais aqueles fios se assemelhassem a plástico,
mesmo que tudo parecesse falso. </span>
</span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Desculpe-me, fui injusta. Sinto falta de
mamãe tanto quanto você, apenas tento amenizar a dor de maneira
diferente. Acho que no último momento ainda estaremos pensando na
fatalidade daquele acidente e da falta que ela nos faz. Não há resposta certa ou modo
</span><span lang="pt-BR">eficiente</span><span lang="pt-BR"> para
lidar com a ausência. Você busca o silêncio; eu, o ruído. Você o
vazio; eu, a completude. De fato, talvez só falhemos de maneiras
diferentes, vai saber. Vamos tentar do meu jeito esta noite, pai?</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Sim, vamos. - Respondeu com o máximo de
felicidade que podia encenar. Queria abraçá-la e deixar fluir as
lágrimas, </span><span lang="pt-BR">entretanto</span><span lang="pt-BR"> seria egoísmo </span><span lang="pt-BR">e</span><span lang="pt-BR">
esta era uma noite para compartilhar</span><span lang="pt-BR">em</span><span lang="pt-BR">
felicidade, não tristeza. Acariciou com os olhos o retrato d</span><span lang="pt-BR">a</span><span lang="pt-BR">
família. Ele, a mulher e a filha na praia grande, em Ubatuba:
férias, calor, suor, risadas e música; a última viagem das duas.
Por que ele teve de sobreviver? Isso era traição.</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhismfE1tkyS7yLoEU74CfTfxSUCkqMZiqu1GAlZQpKCxVn-EDXxkK5eYxDEF-zEQPEpbtTmT3UooLjPS5l3e-lNfRTFn50cgV_qRoN9TsTuxwr-2ykduKZiMeXMyfDGRyYfFtIVw/s1600/Miles+Johnston.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="640" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhismfE1tkyS7yLoEU74CfTfxSUCkqMZiqu1GAlZQpKCxVn-EDXxkK5eYxDEF-zEQPEpbtTmT3UooLjPS5l3e-lNfRTFn50cgV_qRoN9TsTuxwr-2ykduKZiMeXMyfDGRyYfFtIVw/s320/Miles+Johnston.jpg" width="320" /></span></a><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Meu cabelo já está lindo pai, vai se
arrumar enquanto me maquio. - Disse </span><span lang="pt-BR">a</span><span lang="pt-BR">
filha, removendo-o de um redemoinho que talvez o afogasse em um
caminho sem retorno. </span>
</span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Está bem, nos vemos em breve então. </span>
</span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a><span lang="pt-BR"> Estava feliz? No mesmo sentido em que uma lebre
se compraz em fazer do corpo. Existem dores que acalantam e acompanhar a filha faria bem a ela, e
talvez a ele. O que tinha a perder? Internado naquela realidade,
bastava renunciar à paz irrepre</span><span lang="pt-BR">e</span><span lang="pt-BR">nsível
do velório contínuo que chamava vida. </span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"> Banhou-se, barbeou-se e se vestiu. No espelho viu o nascer de um sorriso. Perfumou-se e saiu, projeto
de novo homem. </span><span lang="pt-BR">N</span><span lang="pt-BR">ão se sentia assim desde a última vez que sairá, na noite passada.
Sim, talvez fosse um pouco dramático.</span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR"><br /></span></span></div>
<div class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span lang="pt-BR">- Vamos filha! - Disse, tomando-a no colo e
caminhando glorioso, tal qual uma aranha presa em sua próp</span><span lang="pt-BR">r</span><span lang="pt-BR">ia
teia, fantoche de si própria. </span></span></div>
<div align="justify" class="western" lang="en-US" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="pt-BR"><br /></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Créditos:</div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Imagem 1 - Asua Yordanova: <a href="https://www.artstation.com/asya_yordanova">https://www.artstation.com/asya_yordanova</a></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Imagem 2 - Miles Johnston: <a href="https://www.instagram.com/p/B6tFObXJPAM/">https://www.instagram.com/p/B6tFObXJPAM/</a></div>
<br />Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-54794575595103745812019-05-24T07:20:00.000-03:002019-05-24T07:21:16.081-03:00Números 5Salve traça!<br />
<br />
Tem nova publicação do zine <i>Números, </i>edição 5 agora! Quem diria...<br />
Baixe a sua versão <a href="https://estantevelha.blogspot.com/p/downloads.html">aqui.</a><br />
<br />
Para aquecer, aprecie o início:<br />
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: right; text-indent: 18,0000pt;">
<span style="font-family: "calibri"; font-size: 9 0000pt;">“os homens é só disso que precisam, tempo, e é só isso o que têm, o resto não passa de ilusão”.</span><span style="font-family: "calibri"; font-size: 9 0000pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: right; text-indent: 18,0000pt;">
<span style="font-family: "calibri"; font-size: 9 0000pt;">José Saramago</span><span style="font-family: "calibri"; font-size: 9 0000pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: right; text-indent: 18,0000pt;">
<br /></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 20,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Se contarmos por tempo suficiente, todas as histórias terminam em morte. Mas, temos tempo? E interesse? </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 20,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Naquele domingo, todos se sentavam à mesa para o almoço passavam de prólogos para indiretas, porém naquele dia havia um clima de ânsia no ar, necessidade peremptória de expressar tudo até a última letra. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 20,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">- Isso é só um trabalho, nada mais. Tem gente que daria tudo para estar no seu lugar, gente que ganha a vida catando lixo na rua...e você? Só reclama. Sério? Nossa homem...você cansa. Não fosse as criança arranjava outro, um homem de verdade. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">...</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-67585298593494278592019-04-27T10:34:00.000-03:002019-05-15T18:45:19.929-03:00A mulher das dunas <div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 20,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Amanheça, ela pensa. Na penumbra a carícia delineia a vida daquele que está ali, seu marido. Os olhos, a orelha, a boca. A geografia desbravada pelo tempo deveria ser conhecida? Com os dedos tenta marcar fronteira, estabelecer demarcações permanentes, transformar o que é estranho em familiar. Afinal, são quase dez anos de casamento. A noite insiste em abandoná-la aos gracejos do desconhecido, da imaginação. Adentra os cabelos, agora escassos, mas ainda grossos. Na escuridão ainda são escuros, como se o ambiente parasse o tempo. Viaja com os dedos pelas orelhas, protetoras do abrigo do som. Quanto de suas palavras ali morrem? Quanto de si perde a luz naquela caverna? Detém-se à beira de um sussurro. A hora é de silêncio. Cala! Não. Agora é a única hora. No ouvido, uma declaração: amo. Segue viagem e alcança os lábios. O toque é o reencontro de velhos amigos: propício à nostalgia e fabulações de futuros. O odor traz à memória as noites onde o vinho era apenas fogo. Os olhos...fechados. Não a refletem mas também não julgam. Uma tosse, um movimento, ele se vira. Uma vez mais, as costas. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span><span style="font-family: calibri;">Mesmo no silêncio da contemplação, a negação perdura.</span><span style="font-family: calibri;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> A manhã não chega, mas ela amanheceu. Levanta-se com dificuldade. Ainda lhe dói o ventre, as pernas, a face, a devoção, a noite. No banheiro aceita a acolhida quente da água, mas recusa-se ao julgamento do espelho, teme que seu rosto esteja marcado pelo amor excessivo que ocorrera. Perfuma-se, veste-se, penteia-se com o auxílio do tato. Está pronta? Caminha em nuvens pelo quarto, não quer roubar-lhe o sono com passos brutos. Fecha a porta com o afeto de um abraço em um velório. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Preparar o café é a rotina que a afasta da noite. Pela janela, ela vê o dia nascer no jardim vizinho; belo. Talvez a televisão ajudasse, todavia não seria justo criar ruídos desnecessários. Pega seu celular e mergulha na cachoeira social. Desce pela tela a corrente de vida. O dedo move-se sozinho. A mente se infla, se cala. Sua existência é o agora por onde rola pacífica, ao sabor da correnteza; alheia. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Retorna à vida assustada com a batida da porta do quarto. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> - Você fez o café?</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Sim, está quentinho. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Os movimentos dele são rápidos. Deve estar atrasado. Atualmente, mesmo aos domingos, tem ido trabalhar. Os sons geram as imagens, pois ela não se levanta. A garrafa abrindo, a fumaça subindo enquanto o café cai no copo. Ele bebe, gole a gole, olhando pela janela o jardim vizinho. Planejando o dia. Tudo o que terá de fazer, problemas a resolver. Dedicado. Sente vontade de abraçá-lo, pedir que fique, agradecê-lo por tudo com o calor de seu corpo. Não. Não agora. Há muito na mente dele, sempre há. Quisera poder ajudar-lhe com algo além da disponibilidade. Poderia ceder tanto mais...Assustada, é retirada de seus pensamentos por um olhar atento.</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> - Cuidado ao sair de casa. Caso perguntem, lembre-se de dizer que caiu e bateu em alguma coisa.</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Com o meneio do rosto ela concorda. Não é preciso mentir. A queda é longa e constante. A marca externa nada mais é que uma erupção; incontrolável. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Não sairei hoje. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Pensa em perguntar sobre o horário do retorno, gostaria de planejar algo. Arrumar-se e perfumar-se para além da madrugada...Mas seria injusto, não? Hesita e se contém. Além de ter de trabalhar tanto para sustentá-los ele ainda tem de se preocupar com o horário do retorno? Ele precisa se preocupar ainda mais com ela?</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Em suas divagações percebe que só lhe restou o vento. Ele passou apressado, bateu a porta. Ela levanta-se, ainda há tempo de uma despedida pela janela. Seu caminhar é rápido. Abre levemente a cortina, se ele olhar a verá. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga6LgeugtvWA6cXu7S1RTlB_QF8dw9VMEPvYJXC_ElH1BdnYhhaHap3dehhD8-Js_5iP9ZdkEMZ-EfhY2Xdh3oEA2L8-19TQ93gP37pxzimhU6uk77cxP6yA6kGUkyCd71lI3x-A/s1600/eye.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="750" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga6LgeugtvWA6cXu7S1RTlB_QF8dw9VMEPvYJXC_ElH1BdnYhhaHap3dehhD8-Js_5iP9ZdkEMZ-EfhY2Xdh3oEA2L8-19TQ93gP37pxzimhU6uk77cxP6yA6kGUkyCd71lI3x-A/s320/eye.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> A vizinha o aguarda no jardim, o trabalho dela é no caminho do dele. Abraçam-se com um sorriso de bom dia. Lembra-se da voz de sua falecida mãe: ele é muito educado, né? Sim mamãe, é. Entram no carro e partem. Ele não olha para trás. O sol os acompanha, tão cedo. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Sobra-lhe o vazio a pressioná-la contra a janela. Sente vontade de algo. Tem ânsia. Queria dizer, fazer... Falta-lhe uma palavra para demarcar o que está ausente e ao mesmo tempo a rodeia, comprimindo-a, ditando os limites de sua existência. Sente que há uma teste e ela foi reprovada, pois sua vida é toda pautada em terras a ela hostis; selvagens e arcaicas. Pode ser isso</span><span style="font-family: calibri;"> existir? Não sabe. Ela sabe. Não consegue dar forma ao vácuo que lhe tira o ar. Chega!, pensa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Ao menos respiro, portanto...vivo? Vivo. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> Há muito o que fazer. Abre a janela e o vento a toca. Sente o mar, o infinito, as possibilidades...de felicidades. Ali, no horizonte. É isso! Com os pulmões cheios dirige-se ao quarto. Tem esperança que não haja sangue no lençol e no piso. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span><span style="background-color: #f3f3f3; font-family: "calibri"; font-size: 15.4px;">Arte de: https://www.milesjohnstonart.com/</span></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-91600670488507742692019-01-24T10:53:00.000-02:002019-01-24T10:56:34.181-02:00Segundo Epílogo<div align="center" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: center; text-indent: 21,0000pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><b><span style="font-family: Calibri;">Epílogo para o nada </span></b><b><span style="font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: center; text-indent: 21,0000pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-size: 14 0000pt;"> Em janeiro do ano de 2019, foram acrescentadas 11 espécies à lista de animais extintos. Dentre elas a arara-azul, cuja penugem tem tom semelhante ao azul da bandeira do Brasil. Em janeiro de 2019, Evandro conheceu três garotas. Com uma passou uma noite conversando, com outra foi ao cinema em um tarde de mormaço e da terceira ele só lembra da covinha que surgia em sua bochecha esquerda quando ela sorria das piadas bobas que fazia. </span><span style="font-size: 14 0000pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-size: 14 0000pt;"> Em janeiro de 2019, Luísa começou sua nova dieta, ao término do mês engordara dois quilos. Em janeiro de 2019, recordes de temperatura foram, assim como no ano anterior, e no antes desse, e desde que começou a se anotar a quantos graus somos cozinhados, quebrados no mundo todo. Em janeiro de 2019, Adriana decidiu terminar seu relacionamento de 16 anos. Júlio não concordou e a torturou. Ele chamou sua ação de amor. </span><span style="font-size: 14 0000pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-size: 14 0000pt;"> Em janeiro de 2019, Thiago não conseguia parar de ver programas de acidentes aéreos e começava a perceber um padrão composto de três máximas neles. Primeira, nenhuma vida perdida é em vão na aviação. Segunda, é sempre uma cadeia de eventos que leva ao desastre, não um fato isolado. E terceira, a aviação é um meio de transporte muito seguro, mas sua chance de se safar com vida, caso haja um acidente, é mínima. Ele não conseguia parar de pensar no divórcio de seus pais no silêncio daquela casa vazia. </span><span style="font-size: 14 0000pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-size: 14 0000pt;"> Em janeiro de 2019, Beatriz saiu do emprego decidida a trabalhar em seus sonhos, até o final do ano ela estaria se prostituindo. Em janeiro de 2019, bandido bom era bandido morto a menos que usasse a bandeira do Brasil como lenço para esconder sorriso. Em janeiro de 2019, João e Elisa tiveram a primeira e única filha. Elisa sugeriu como nome para o rebento </span><span style="font-size: 14 0000pt;">“</span><span style="font-size: 14 0000pt;">Sofia</span><span style="font-size: 14 0000pt;">”</span><span style="font-size: 14 0000pt;">, ele aceitou. Sofia era o nome que ela e seu namorado anterior planejaram. Em janeiro de 2019, Gabriel se declarou para Rafaela, virtualmente é claro, ela o bloqueou depois de um mês, pois era incapaz de dizer que ainda o amava, mesmo depois de tê-lo traído. Em janeiro de 2019, fez 9 anos que Saramago faleceu e 5 que Gabo se foi. Em janeiro de 2019, em uma manhã equatorial fria, Jurandir se relembrou dos anos de 2004, 2007 e 2014. As mortes de sua mãe, seu irmão e seu pai. Vizinho da morte, ele aceitou a sinceridade da vida. Em janeiro de 2019, Júlio Roberto leu seis livros durante a suas férias, já que era incapaz de acessar as redes sociais por questões de saúde mental. Em janeiro de 2019, Maycon continuava a usar a data de aniversário de sua primeira namorada, de 15 anos atrás, como sua senha do cartão de crédito. A isso ele chamava tortura. </span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSJZy1Dqsp3KulQqvIr2Bzf6ZqSpcR_dWg3dDRx9jATPwnGPQ7dIbM_dHLq4A-eVjLt8yxVF4f_4V03kBsDf2_w3yLuEJrvsAiu4T67DNM6rfi7hE1iuguGC_XSE-lqrT5vYvKjg/s1600/DwaWO0ZUYAAmt47.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1072" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSJZy1Dqsp3KulQqvIr2Bzf6ZqSpcR_dWg3dDRx9jATPwnGPQ7dIbM_dHLq4A-eVjLt8yxVF4f_4V03kBsDf2_w3yLuEJrvsAiu4T67DNM6rfi7hE1iuguGC_XSE-lqrT5vYvKjg/s400/DwaWO0ZUYAAmt47.jpg" width="356" /></span></a></div>
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-size: 14 0000pt;"><o:p></o:p></span><br /></span>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="font-size: 14 0000pt;"> Em janeiro de 2019, o Sol permanecia nascendo e se pondo com todas as graças da previsibilidade e do tédio. Em janeiro de 2019, Ana Luísa olhou pela última vez nos olhos de Ricardo. Estavam abraçados quando o tiro lançou cérebro na camisa verde e amarela que usava. Em janeiro de 2019, Júlia se apaixonou duas vezes na mesma semana, somente para se apaixonar novamente na noite de sábado e amanhecer com um sorriso fora de lugar no domingo. Em janeiro de 2019, a folha lutava em manter-se em branco e Matheus teimava em preenchê-la com palavras. Ele sentia a idade chegando e a responsabilidade cobrando, por isso criou uma pasta em sua área de trabalho para colocar seus escritos. O título da pasta era 2018. Ele nunca percebeu o erro. </span><span style="font-size: 14 0000pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: 14 0000pt;"> Janeiro de 2019 era mais um final, mais um início e mais um ponto ínfimo em uma linha do tempo. Janeiro de 2019 era também onde a vida de muitas pessoas transformava-se radicalmente, enquanto a de outras permanecia estagnada. Em janeiro de 2019, para alguns o otimismo era amargo, para outros, ignorante. Em janeiro de 2019, todos se voltavam para o passado. Alguns desejavam regressar 10 anos, outros 55. Em janeiro de 2019, o tempo era punição. </span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Em janeiro de 2019, este livro terminou de ser escrito. Eu estava otimista, contudo peguei-me falando sozinho, em uma manhã de sono mal dormido, que este seria o meu último ano de vida. Este era apenas o segundo epílogo que escrevera naquele mês e ambos apresentavam a mesma falha: apontavam para o fim e não terminavam nada. </span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri";"><br /></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri";"><br /></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri";"><br /></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri";"><br /></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri";"><br /></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 2,0000; text-align: justify; text-indent: 28,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri";">Arte de: https://www.milesjohnstonart.com/</span></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-25982231446229742732019-01-07T11:05:00.000-02:002019-01-07T21:16:09.165-02:00Epílogo em três silêncios<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><b>I - Silêncio ensurdecedor</b></span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBDaE3iTgbzZyhwP0DLiIDuMrrO3nm3IN45wIA6ubr5Ml17cCqdP0-UT0XIOLdP54TVs5c7YZyF_cpRQFfYgodM7rMEb9vRNieg8bqM0LlZ9ee7HOcYn9RGn-_7DoiFLzgPB81mw/s1600/oamornostemposdocolera.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBDaE3iTgbzZyhwP0DLiIDuMrrO3nm3IN45wIA6ubr5Ml17cCqdP0-UT0XIOLdP54TVs5c7YZyF_cpRQFfYgodM7rMEb9vRNieg8bqM0LlZ9ee7HOcYn9RGn-_7DoiFLzgPB81mw/s320/oamornostemposdocolera.jpg" width="320" /></a><i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Tanto amor</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Tanto do amor </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Em silêncio </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Emoldurado </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Sem ânsia </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">A conta-gotas</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">À distância</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">A dúvida:</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">A distância</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">concentra ou dilui</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">o amor? </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Tagarelice...</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">A distância,</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">distancia. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Versos no papel, um quarto vazio, ecos ainda suando sobre a cama, o lençol ainda marcado. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Cicatrizes na carne , nos panos manchados, na memória.</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Angústia, porta fechada, silêncio. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Ele liga. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Eles vão se encontrar... </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><b>II - Silêncio bruto</b></span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">A escuridão amanhece cheirando a sonhos mofados. O olhar dopado ainda tinge a realidade de vestígios oníricos. Toda a arquitetura do reino de Morfeus insinua-se nos mínimos detalhes daquela manhã. A fechadura da porta o ameaça com sorriso de desdém, ele a abre. A cortina da sala move-se ensandecida ao som de um fado português, ele tenta ignorar. O vento frio matinal guia seus passos até o banheiro. No espelho a confirmação: terra devastada; domingo de ressaca. A água não lava, nem alivia. O reflexo agride. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Caminha de volta ao quarto. A janela limita a figura que vê nos céus: algo entre um pavão e uma serpente move-se em desafio à realidade, saudando-o em meio às nuvens com um sorriso sibilante e abissal. Se esforça para crer que está tudo bem, que a quimera não lhe devassa os olhos, que o dia não se prepara para se introduzir nele à força, que não há mal agouro, apenas imaginação. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Deita-se ao lado dela. Aquele par de olhos, outrora conhecidos, agora o desafiam a compreensão. Ela vê, mas não enxerga. Sua visão o esvazia. Ela busca atalhos, mas encontra labirinto. Retalhos de memórias e do que foram, do que desejavam ser, são carregados pelo frio vento contínuo do dia que os toma de assalto. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8ZUIb3mmVTe7dsnaJSAUeSwcQKP3p_8l_zxtY9Nd1MF7Vfqg_hjb3SyXKhl9mEKUuN7CSE8CFWFjtMNX8p14ggakGa0zyNzjNbphgq2sS_JKlSi3z7gG2IyEbSiPC7_qTfaJW9Q/s1600/Imagem+%252813%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="1007" height="227" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8ZUIb3mmVTe7dsnaJSAUeSwcQKP3p_8l_zxtY9Nd1MF7Vfqg_hjb3SyXKhl9mEKUuN7CSE8CFWFjtMNX8p14ggakGa0zyNzjNbphgq2sS_JKlSi3z7gG2IyEbSiPC7_qTfaJW9Q/s320/Imagem+%252813%2529.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">O que ele esperava? Mesmo o filme que assistiram, romântico, antecipava o fim. A levou para uma noite de felicidades, porém só bailaram com os fantasmas de si próprios. Deitaram para se redescobrirem e acordaram em um covil, reféns; auto-exilados. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Um suspiro, um bocejo; o silêncio é precário. Paira a ameaça beligerante do adeus. A solidão falha ao tentar maquiar de esperança e vida o mais ignóbil e envelhecido dos espantalhos. O cheiro excessivo do álcool trai qualquer narrativa menos visceral. O futuro agora é do pretérito; possibilidade não realizada. A noite inacabada rompe na manhã ressequida para que penumbra do não-dito seja varrida pela iluminação crua do encontro daqueles olhares. O espaço entre eles é preenchido pela ausência. </span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Acabou...</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><br /></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">III - Silêncio austero</span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">A festa da ilusão nunca acaba? A tarde já e noite e ele está só novamente. Observa a foto que foi planejada para ser um presente, para permanecer exposta na entrada da casa em que um dia viveriam. Nela, a imagem de um passado feliz em que se abraçavam e compartilhavam um domingo de felicidades, sorrisos, planos e trilhas por desbravar. As cores envelheceram mal, não aparentam vitalidade; fantasiam-se em preto e branco. O sabor amargo perdura enquanto ele lança o porta-retrato em uma gaveta qualquer. Em sua mente reticências terminam esta história, entretanto sabe que o tempo apagará dois dos três pontos. </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQZ0PRQ7JEIyUwoGj2guCO9ev97JBNENtUeD1J8njeNv7swRuFaLoIlVBaGPUhHzJPiAENJK5GQCBw8vF9Ajo1NFHVx2oKZf075Kvilv_rYqxjjBrt3UNJPNkqBOoflW8lMqSYrw/s1600/calar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="447" data-original-width="798" height="356" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQZ0PRQ7JEIyUwoGj2guCO9ev97JBNENtUeD1J8njeNv7swRuFaLoIlVBaGPUhHzJPiAENJK5GQCBw8vF9Ajo1NFHVx2oKZf075Kvilv_rYqxjjBrt3UNJPNkqBOoflW8lMqSYrw/s640/calar.jpg" width="640" /></a></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><br /></span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Crédito:<br />Imagem 1 - Alterada - Capa de Amor nos tempos do Cólera, 6ª edição da editora Record</span></div>
<div align="justify" class="MsoNormal" style="mso-char-indent-count: 0,0000; text-align: justify; text-indent: 21,0000pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';">Imagem 3 - Alterada - </span><span style="font-family: "calibri";">https://noticias.up.pt/metade-dos-homicidios-conjugais-sao-precedidos-de-violencia-domestica/</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"> </span><span style="font-family: "calibri"; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-spacerun: 'yes';"><o:p></o:p></span></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-20737991301022747712015-06-25T09:40:00.000-03:002015-06-25T10:11:49.176-03:00Escrevendo Sofia - ISalve traça,<br />
<br />
A ideia é:<br />
Todas as segundas: um conto / texto / alimento para traça, novo.<br />
Todas as quintas: um trecho de <i>Escrevendo Sofia</i>.<br />
Hoje começo com<i> Escrevendo Sofia</i>. A história é maluca, mas sua loucura vai se revelando aos poucos. Não vou adiantá-la. ;)<br />
Não gosto muito do texto, mas, eu acho, que ele vai melhorando aos poucos.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<h2>
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Escrevendo Sofia</span></h2>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<i>Ah, quem
escreverá a história do que poderia ter sido?</i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<i>Será essa,, se
alguém escrever,</i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<i>A verdadeira
história da humanidade. </i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<i>Álvaro
de Campos</i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><b>I</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><b><br /></b></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Aquecer a
glacial vida com um pouco de morte. O cemitério, o velório público, tudo
higienicamente abandonado, distante; diria, coletivo, impessoal. Não! A noite
já deitava suas carícias nas partes íntimas, era hora de visitar um velório
privativo, casa de luxo, bairro de outro mundo, rostos conhecidos em sofrimento disfarçado. Do bolso de seu casaco o homem
em preto retira uma das notas de cinqüenta reais e entrega para o dono do bar.
Despede-se da suçuarana dormindo em seu galho, belo quadro, e parte ouvindo o
homem a gritar-lhe pelo troco. Suçuarana dormindo sossegada ao som ambiente de
Country music americana? Por que não? Por que não chamá-la onça? Suçuarana. A vida; amontoado de escolhas estranhas.
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Pelas ruas ambulâncias choram em desespero enquanto o homem de casaco preto caminha,
cabisbaixo, no verão tropical. À brisa quente de um bueiro ocasional ele ajeita
seu cachecol. Caminha certeiro, seus dentes abraçam-se incessantemente, calafrio,
febre. A vida; uma seqüência interrupta de delírios travestidos de realidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Memórias; talvez
dez anos atrás, ele se revê recebendo a dádiva: um sobrenome, Sr Montuani. Os Montuani, família
enriquecida pelos anos regados pela escravidão; muito dinheiro e status. E agora
a vergonha; o casamento de sua filha mais nova, Tatiane, com um desconhecido. Um
garoto de merda, de uma família de merda. Sim, embora ande com as costas
arcadas o homem em preto já fora jovem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A memória: Lucas, deitado no quarto dos fundos de uma mansão, ao seu lado a
jovem Montuani, uma mulher qualquer, sua futura esposa. Em sua mente, o fim do
túnel, visto do ponto de vista da imensa garganta de seu pai, deformada por ter
engolido todas as misérias da vida simples. Casar-se com uma mulher rica, não era
essa a única salvação para uma pessoa como ele? Toda a luz no fim do túnel não seria capaz de
iluminar as trevas que se seguiram. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A vida: Lucas Montuani,
em preto, caminhando rápido em direção a um velório.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><b>II</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><b><br /></b></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">O mundo vai
acabar, disse o velho. Assim tem sido, respondeu o homem de casaco preto. Um
trago, um gole, os dois se olham; o silêncio é a manifestação mais palpável de
Deus. Sobre eles uma ponte une o centro da cidade ao Jardim das Nações, bairro
nobre, rico e silencioso. Grandes casas abandonadas aos cuidados de vigias invejosos e empregadas sonhadoras (como adjetivar a alienação completa?).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Teria a
paciência de escutar um velho contar uma velha história? Um trago, um gole, Deus
e uma buzina. Sr Montuani decide escutar o velho. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Tudo aconteceu em uma esquecida cidade na qual o Sol brilhava abaixo do chão, a antiga Lástima, sim,
haviam escolhido mal o nome, mas isso não mudava o fato de naquelas terras
haver muito ouro. Sabe, morreram lá muitas pessoas, e veja bem que naqueles
tempos ainda não era comum morrer sem ter vivido. Lá, naquela cidade que nem
todo o brilho do ouro era capaz de iluminar, permaneci por vários anos no
encalço da felicidade, ou melhor, do ouro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace; text-indent: 35.4pt;">Não ria.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Todos
os dias, ao voltar do cansativo trabalho nas minas, eu passava em frente ao cemitério; era o caminho para minha casa, e lá sempre
via um velho sentado na sombra de um poste. Embora ainda carregasse muitos
dentes na boca, já tinha o costume de me atentar às pessoas ao meu redor. Aquele
senhor me intrigava; deverás. Sentava-se sempre na sombra do poste, de maneira
que o imaginava como um relógio solar em forma de velhice. Certo dia, quando os
céus caíam sem trégua, e meus passos
eram firmes e rápidos, rumo a minha casa, vi-o na chuva, cabisbaixo. Não
suportei – Senhor, qual o sentido de tomar esta chuva? – Não se engane meu rapaz, não havia bondade em minhas palavras, curiosidade era o que me movia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Vagarosamente
ele tirou um relógio de seu bolso, uma antiguidade, conferiu as horas com um
sorriso nos olhos e então se levantou. Com suas duas mãos enrugadas ele jogou
seus cabelos para trás, jovialidade inesperada. Olhou-me e sorriu. De seu
paletó tirou uma pequena garrafa, tomou um gole e ofereceu-a a mim. Chuva, frio e
curiosidade; sim, obviamente aceitei. E assim ele me perguntou, entre um gole e
um sorriso – Qual o sentido?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Por
um breve segundo nossos olhos se tocaram; profundamente.Sabe meu jovem, hoje
sou velho, feio e meu o odor afasta até mesmo os pássaros, porém houve um tempo
onde tive muitas mulheres em meus braços. Apesar disso, digo-lhe do fundo do que
ainda me resta de coração, aquele momento em que encarei aquele velho foi a maior experiência
de intimidade que já tive em minha vida. Aquele matreiro desvendara minha alma,
e, após uma piscadela, rimos. Rimos como africanos a trocar negros por cachaça;
rimos como um aniversariante que celebra seu centésimo aniversário; rimos, e na sombra de nossos
sorrisos estavam os restos de todo o resto. Qual o sentido? Sim! Há piada
maior?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl6ErJ2L41ozr2wSk-CmBvmaW4XKxyeK5uxThk_q31fUBBl5F_kfDYGWq2J1u4FbRjaCaXXw-nTSUR8hp-IhVC8JpImKtEGjTjI0HBeHGeDXHWa_Uv1wpKalm1ZK9crH4WyQDCUg/s1600/sandman+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl6ErJ2L41ozr2wSk-CmBvmaW4XKxyeK5uxThk_q31fUBBl5F_kfDYGWq2J1u4FbRjaCaXXw-nTSUR8hp-IhVC8JpImKtEGjTjI0HBeHGeDXHWa_Uv1wpKalm1ZK9crH4WyQDCUg/s400/sandman+%25282%2529.jpg" width="262" /></a><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Caminhamos
até a praia, cientes da cruz que trazíamos atrelada à nossa felicidade. Como
grandes mandíbulas famintas as ondas abocanhavam a praia deserta. Vento, chuva
e fim de tarde, paisagem afrodisíaca para um suicídio. Arranje um pedaço de
madeira. – disse o velho - Fácil, tomei-o da árvore ao meu lado. Um grito logo
fez–me perceber a falha. Tem de ser galho seco, morto há tempos. – Certo,
alguns minutos mais e entreguei-lhe um pedaço de madeira encontrado próximo ao
lixo. Qual o sentido, o jovem quer saber? – Esbravejou o velho para o vento,
seus passos lentos o levavam para as ondas. Por instantes pensei o pior, porém
ele parou próximo o suficiente para ter os pés açoitados pelo mar. Mãos firmes,
um desenho na areia. Um círculo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Um
círculo a mão livre, na areia, efêmero como o carinho das ondas na praia. O
tempo se acalmara e a Lua já se estendia no céu. Uma vez mais o velho desenhou,
um círculo, e uma vez mais, as ondas tomaram seu desenho. Aquilo me parecia
loucura, mas de um tipo estranho, algo como uma sabedoria somente acessível por
vias tortuosas. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Tome,
não preciso mais deste relógio; agora é seu. – disse-me aquele velho, envolto na escuridão de uma noite há muito passada. E é exatamente isso o que lhe digo,
jovem. Leve com você agora este relógio. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Estas foram as últimas palavras ditas pelo velho ao homem de casaco preto. Que rindo,
prosseguiu seu caminho, ignorando a oferta do velho. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Um círculo desenhado
com um galho morto na areia da praia, continuamente sendo refeito, só para ser
apagado pelas ondas? Esse é o sentido? Que piada. E ainda queria compartilhar comigo sua maldição com ares
de trabalho feito? De sabedoria? Velho maldito. – E pensando, longe, o homem em preto ia.</span> </div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-41388363871970885842015-06-15T09:05:00.001-03:002015-06-15T09:05:52.831-03:00Frente e verso<h2 style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: small;">Salve traça,<br /><br /><span style="font-weight: normal;"> Hoje posto um conto que foi apreciado por algumas traças do "mundo real". Este conto foi um dos finalistas do Mapa Cultural Paulista 2013-2014. Segundo os organizadores, uma Antologia seria publicada com os contos e poesias finalistas. Como esta antologia foi prometida para o início do ano de 2015 e até agora nada, vou postar por aqui mesmo.Traça por traça, vocês são as minhas favoritas. ;)</span></span></h2>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<b><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<b><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<b><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: large;">Frente</span></b><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Era uma vez é coisa de
criança velha, solitária e de mente ociosa. Daquele tipinho de pessoa que
planta flores em estufa e espera por borboletas. Daqueles sujeitos que
percorrem as ruas carregando quilos de amor indigesto, cuspindo em todos, orgulhosos de seu romantismo de mamãe. Fabinho, formado em Letras, escritor de
pérolas pós-modernas, poesia visual e tudo mais, além de<span class="apple-converted-space"> </span><i>fessor</i><span class="apple-converted-space"> </span>da molecada do fundamental, é dessas
pessoas. Pegou o ônibus hoje só para fazer sua parte, essa coisa de evitar o aquecimento
global sabe? Sem falar, que ele, escritor, tem de conhecer essa figura
peculiar: o povo. Não vou dizer que ele está arrependido, sabe como é? Esta
gente se manipula muito bem; come carne de soja e fala que é delicioso.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Parado, dentro do ônibus a caminho da escola,
o professor-escritor filosofa assistindo uma peladinha infantil na chuva. Os
moleques parecem colocar a vida em campo, Fabinho vê nisso a fibra brasileira.
Um deles, que estranhamente é bem branquinho, se destaca. Vê-se que é fonte de
inveja constante, brinca com a bola, entenda: faz todos os outros meninos de
bobos. É chapéu em um, vão de perna em outro, drible da vaca, e lá está o
pivetinho, de cara com o gol. O craque em miniatura estaca frente ao goleiro, o
gol não é seu objetivo, quer fazer de besta a molecada. Eis que recebe um
pontapé, cai e chora, ou não, a chuva esconde as lágrimas. Um pouco de
bagunça e estão reorganizados, hora do pênalti. Fabinho acompanha atento, empolgado
com a história do menino, torce para que ele perca o pênalti, a habilidade, a
vontade de jogar, que fuja da maldição do<span class="apple-converted-space"> </span><i>crack</i>.
Futebol não dá futuro, é uma ilusão hereditária propagada nas favelas só para
enterrar de vez a vida dos meninos, eis a conclusão, já velha, do <i>fessor</i>. Fabinho imagina um conto:<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Após perder um pênalti, o
garoto que era visto por todos como um futuro profissional, desiste da
potencial carreira de jogador e se torna cientista, descobre a cura da AIDS, ou
não, algo mais simples talvez. Poderia inscrever esse conto em algum concurso,
e se ganhasse, enfim, o descobririam, valorizariam seu trabalho...Sim, poderia
dar voz aos necessitados, coisa social, sabe? Ajudar esse país tão carente. Mas
sem papel para dar concretude a ideia, o esquecimento é certo. Mas agora não,
apenas torce, o garoto precisa errar, isso seria uma profecia para ambos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">
O ônibus parte, liberaram a via, não há mais corpos, sangue ou metal de
carro-do-ano retorcido, apenas o asfalto, abarrotado de pneus e impaciências
enlatadas. Fabinho não viu a conclusão do lance da pelada, mas tinha a
história, ao menos até esquecê-la, na cervejinha de sexta; prazer merecido de
trabalhador, não? Fato estranho, que também serviu de lenha para o motorzinho criativo de Fabinho, foi a garota que estava no ponto de ônibus, protegida da
chuva por uma sombrinha amarela, toda molhada. Ela lhe deu tchau...Quem seria
está garota? Qual a razão deste gesto? Será que foi para ele mesmo? Esta
história se perde rápido. O poste caído na avenida, vestígio do acidente, é
autoritário; demanda atenção.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpm1s7DQmVnPq1JkYrBmSHui2HQc4MOFwUWiyFTc650tAtSGsnFMPqlmbrWVtcLnptlN2VAS2DAimqCGqh-4laWnoa01F3Q6m1AQ2i6atVOcSMmIRWEcV06nXTqDpoK_uAL60R5w/s1600/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Caderno+antigo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="325" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpm1s7DQmVnPq1JkYrBmSHui2HQc4MOFwUWiyFTc650tAtSGsnFMPqlmbrWVtcLnptlN2VAS2DAimqCGqh-4laWnoa01F3Q6m1AQ2i6atVOcSMmIRWEcV06nXTqDpoK_uAL60R5w/s400/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Caderno+antigo.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<b><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: large;">Verso</span></b><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Maria Estefânia, a menina do ponto de ônibus, é do mesmo tipinho que Fabinho,
tem como o inferno a falta de guarda-chuva em dia nublado. Pertence a nova
classe média, peculiarmente calada e só. Vive em seu apartamento, pago com muito
suor, acompanhada do fedor de uma família de gatos sobreviventes ao cinza da
dona. Ela é dessas pessoas que colorem a vida com giz de cera e comem algodão
doce com culpa canibal. Nome de novela mexicana e coração de autoajuda esta é
Maria Estefânia, que agora fantasia a praia ensolarada, ao pôr do sol, na qual
se casa com um belo jovem que viu no ônibus. Mas ele se fora. O destino é ingrato e
cruel...Não! A culpa é minha, pensa, deveria ter entrado no ônibus, ter tido
coragem, declarado meu amor à primeira vista.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">
Há algo em comum entre estas duas pessoinhas: Fabinho e Maria Estefânia: ambas
nutrem o solo infértil de suas vidas com sonhos em palavras. Porém, a mesma
palavra que os une os separa: a de Fabinho busca a poeira da biblioteca, mas
mesmo nesse ambiente esquecido é necessário etiqueta, logo, ele a traveste de
social, a perfuma com suor do povo. Por outro lado, a palavra de Maria
Estefânia quer ser e-<i>moção</i>, mas sem
movimento. Vê na leitura solitária das entranhas do que somos, não os anseios
mal digeridos, mas as sementes de um algo qualquer, que é a beleza de que são
feitos os alimentos da traça, as páginas dos livros.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Em uma noite, em um lugar não distante daqui, Maria Estefânia, com dor no
coração, abandonou seus gatos com a síndica, recém divorciada e quarentona,
para buscar amor. A esperança venceu o medo, tal qual na propaganda. Partiu
para desbravar o desconhecido, mergulhando num mar agitado por correntes de
paixão; oceano em copos de cerveja. Sim, a investida noturna tinha ares épicos.
Maria Estefânia, maruja sem experiência, não tardou em sentir soçobrar o
estômago. Ao seu lado, um tritão, para tirar água da metáfora, lhe ofertava o
canto, ou melhor, o braço, para evitar a queda da beudinha trôpega. Era ele, o
belo rapaz do ônibus. É o destino! Esta é sua chance de ser feliz, seu príncipe
encantado viera salvá-la. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Pergunto-me: será que
Maria Estêfania se lembra desta noite?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Viveram felizes para
sempre é coisa de criança velha, solitária e de mente ociosa, feito estes dois
aí. Mas eles não são gente como a gente, dão linha demais para a pipa, ficam
presos no vento longínquo de outros ares. Não são práticos como nós. Não
cresceram, essa é a verdade. Têm mais é que se foder, pois a vida ensina; se
não for por amor é na dor, não é? Essa gentinha você reconhece fácil, é livro
dando movimento aos olhos e imaginação empurrando a vida. Ah, nós não somos assim, pois esse tipinho de pessoa,
que vive em contos de fada, quando você reflete um pouco, se torna o que mais
admiram: baboseira romanceada. Não sei de você, mas eu não sou assim;
definitivamente. Não me interessa o fim desses dois, o único fim que me interessa é o do mês; nada mais<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmlfE0YbnaxT7s1xf054l2jezdhHUsLJFupt4kX3jUl0RSbKdsVkmY8yfidv9Ux4niLK2ol_WT13e4ve17J1IhfZnWx1DPCM2reS-R7M84mXBWS7_Mj5Sd_NDIEidZybByY-mb7A/s1600/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Caderno+antigo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="325" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmlfE0YbnaxT7s1xf054l2jezdhHUsLJFupt4kX3jUl0RSbKdsVkmY8yfidv9Ux4niLK2ol_WT13e4ve17J1IhfZnWx1DPCM2reS-R7M84mXBWS7_Mj5Sd_NDIEidZybByY-mb7A/s400/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Caderno+antigo.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Crédito:Imagens de um caderno antigo postadas no Facebook por Lourenço Mutarelli. </span></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-84899089621009861822015-06-08T07:43:00.000-03:002015-06-09T06:59:02.819-03:00Vida adulta<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;">- Aguarde aqui - ela disse para o
taxista - levará em torno de uma hora.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- A senhora não quer chamar outro táxi
depois? É que vou ter que deixar o taxímetro ligado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Não, espera aqui.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Sem esperar reação Lidiane seguiu seu
caminho. Era mais uma manhã de um sábado qualquer, nada em especial. Só mais
sábado que amanheceu depois da sexta-feira; de novo. A poeira de toda uma
semana se assentara na casa de Romeu, seu ex-marido, e agora era preciso
limpá-la. Eis o plano. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Lidiane mantinha os escombros do homem
amado naquela casa. Eles eram apenas namorados, nem se conheciam muito bem, mas
a morte inesperada de Romeu deixou um sentimento azedo em Lidiane. O que eles
poderiam ter sido? A morte precoce de sua única paixão, embora ela não gostasse
de pensar muito sobre isso, levara consigo um pedaço dela, a parte que sabia
viver. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Romeu fora um homem muito recluso. Aos
seus quarenta anos não tinha família ou amigos. Vivia em seu apartamento imerso
em sua biblioteca, imerso em si, mergulhado em <i>dosinhas de uísque</i>, como ele gostava de dizer. Lidiane o conheceu
no supermercado em que é caixa. Aquele quarentão misterioso, sempre com uma
máscara de simpatia e educação. Após meses de sorrisos lançados sem resposta,
ela se excedeu e flertou com ele de forma mais clara. Daí em diante tudo foi
rápido. Sexo, álcool e sexo: estavam namorando. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Após quase um ano de relacionamento
ela conseguira quebrar o silêncio de Romeu, sabia uma coisa ou outra da vida
dele, uma coisa ou outra de sua personalidade, uma coisa ou outra... Mas era o
suficiente. Só o que não foi suficiente foi o tempo. Ele falecera de câncer no
pulmão. Somente Lidiane velou o corpo; uma noite de silêncio para pensar no que
nunca mais seria: eles. O enterro foi simples e solitário. Ela, um buraco, um
caixão e dois funcionários da prefeitura. A senhorita soitária derramou apenas
uma lágrima, egoísta, pois sabia que enterrava com aquele homem, que mal
conhecia, uma parte de si. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O tempo passara, mas ela mantivera uma
rotina. Viúva por escolha, aos sábados ia até a casa de Romeu fazer faxina.
Manter limpo o museu, manter fresca a memória, manter viva a vida. Como quem
entra no sarcófago de si própria, ela adentrava o pequeno apartamento de seu
ex-marido, todos os sábados pela manhã, sem exceção. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O apartamento do ex-marido era
minúsculo. Um quarto, um banheiro e uma sala que era também cozinha, além de
escritório. O falecido possuía um toca discos, uma imensa coleção de LP’s e
muitos reservatórios de poeira. Muitas vezes Lidiane tentou entender a lógica
da organização das centenas de vinis, mas ainda não conseguira. Não seria hoje
o dia que desvelaria esse segredo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Vassoura em mãos e algo de noite ainda
em seu rosto ela inicia seu papel nessa história. Sua mente flutuava baixo, tal
qual a poeira que ela movia de lugar com suas vassouradas de estimação. Acordando,
devagar, ela divagava a pensar sobre tudo isso. É isso vida? Aqui? Varrendo sem
saber porquê ? Varrer... A esta altura da vida deveria saber mais, ter menos
perguntas e mais respostas. Três décadas, trinta anos e viúva; por escolha. Mas
o que esses números diziam sobre a mulher que tirava o pó da casa de seu, para
sempre, ex-marido? Trinta anos, um período de tempo, uma vida. Minha vida? E
pensando ela sentia algo como uma percepção, inquieta, se remexer em seu
cérebro. Intrigada ela seguia as ramificações desse pensamento, descuidada, em
busca de resposta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tinha família, tinha amigos. Oras, não
era uma pária reclusa, feito Romeu. Seus dias exibiam pessoas que importavam e
outras que não. Simples. A dificuldade era ter de interagir com o mundo. Por
isso gostava tanto de Romeu, ele não perguntava sobre o dia de trabalho ou
sobre os problemas familiares; sobre as razões para o novo corte de cabelo ou
para a lágrima que descia sem ser chamada nos momentos pós sexo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAou7SZLM78iCMb8sy2mZ6syAfJ3n3eSwUY5YbXOZkSeNaGin9EOPN38VLZbDHO0mL2cM0OT9WAnog2R2JwxfoGQn83b5RIRPDuzF2TGGWfIffd4mUshL7aTq5KxMMZpvZ6VUp7g/s1600/Perfect+Lovers%252C+1991.+Felix+Gonzalez-Torres..jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAou7SZLM78iCMb8sy2mZ6syAfJ3n3eSwUY5YbXOZkSeNaGin9EOPN38VLZbDHO0mL2cM0OT9WAnog2R2JwxfoGQn83b5RIRPDuzF2TGGWfIffd4mUshL7aTq5KxMMZpvZ6VUp7g/s320/Perfect+Lovers%252C+1991.+Felix+Gonzalez-Torres..jpg" width="320" /></a>No aconchego do silêncio que
compartilhavam eles fizeram a morada do relacionamento, ignorando todas as
palavras desgastadas do convívio cotidiano. Eles haviam chegado a seguinte
conclusão: a mais simples das perguntas, <i>Está
tudo bem com você?</i>, por exemplo, sempre recebia como resposta uma mentira. Logo,
se a resposta será sempre mentirosa, por que se importar em responder? Ou
mesmo, qual a razão para perguntar? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Vamos, volte, o taxímetro estava
ligado lá fora. Ela não tinha como se perder em pensamentos pelo tempo que
quisesse enquanto sua conta com o taxista continuasse a aumentar, essa era a
sua âncora. Era adulta, e, portanto,
tinha responsabilidades. Nada de divagar por horas no apartamento do ex-marido
morto. Tudo tinha preço, e alguns ela não podia pagar. E assim recomeçava a
limpeza, agora mais objetiva. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Adulta, sim, era adulta. Mas o que era
isso? Trilho após trilho seguir criando seu caminho: trilhando? Máquina a vapor
rumo à estação desconhecida? Mas por que seguir quando, quanto mais distante se
está, mais passageiros se perde? Por que seguir se a cada passageiro que se
perde, torna-se cada vez mais leve, mais vazia? Qual o propósito de um trem de
passageiros sem passageiros? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Adulta, táxi, dinheiro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A sala estava limpa. Sem pó nas
estantes, sem sujeira no chão. Hora de partir para o banheiro. O tempo é caro
dentro da casa. No banheiro, ao menos, não há muitas lembranças. Trabalho rápido,
ok? Pensava Lidiane, segundos antes de...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O espelho. A mais humana das
invenções. Quão falso pode ser o
reflexo? Lidiane era bela, ainda não tinha marcas claras de idade a lhe
emoldurar a face. No entanto, como poderia crer naquilo que via? Ela, que também
revirava com a vassoura cada canto de si, que sentia o cheiro ruim dos becos de
sua consciência, que tinha noção de quão horrenda fora capaz de ser; como crer
naquele reflexo; belo? A única verdade disso é a poeira que a todos cobre: eu e o
espelho. Varrer? Limpar? Desculpas para ritmar o pensamento com
realidade, para dar gaiola à melancolia. As vezes penso que, mesmo Romeu, não
passou de uma desculpa para eu existir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Era adulta. Tinha mais respostas que
perguntas; sim! Um exemplo para sua
sobrinha, para os maios jovens. Era adulta...e mentia. Era adulta e a maturidade
nada mais era que o desenvolvimento da capacidade de falsear tudo, seja para
si, seja para o outro. Do velho da padaria à amiga mais próxima, a poeira da
mentira cobria todos os pontos de sua relação adulta com o mundo. Casar-se,
amar, viajar, conquistar sua casa, a liberdade do carro, o sucesso, filhos,
saúde, orgulho, universidade, serviço cumprido, parabéns!, a terceira idade,
netos, a melhor época e, sorrindo, cruzar as mãos sobre o peito, agradecida
pela vida e por ter tido o bom senso de se calar, de se convencer, de mentir,
de viver, feito uma adulta. Adulta! Varra! Limpe!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E a poeira subindo aos ares trazia
consigo um espirro antes de se deitar sobre um novo objeto. Nossa...acalme-se
mulher! Está se excedendo. Olha no relógio e decide. Precisa se apressar. É
quando um ruído a convoca. A campainha toca. Lidiane, intrigada, para de varrer
e vai em direção à porta. Abre a porta e um sorriso. Prontamente se abre ao
mundo externo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Bom dia, tudo bem? – Ela diz, agindo
por reflexo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Bom dia, estou bem. E a senhora? - Responde
um homem, na altura de seus 18 anos, um garoto, impecavelmente embalado em um
terno escuro. Com uma pasta na mão e um sorriso no rosto ele se convida para
entrar. Diz vir em nome dos interesses mais urgentes e importantes de Lidiane. Ela
não se questiona, deixa-o entrar. Sente-se estranhamente atraída pelo rapaz,
especialmente por seu sorriso. Vê-lo sorrir é como uma memória feliz, há muito
levada pelo tempo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ele senta-se à mesa da pequena cozinha
do apartamento de Romeu. Coloca sua pasta na mesa e retira um calhamaço de
papéis. Rápido e eficiente, em meio a várias folhas, localiza a que procura e guarda
o restante de volta em sua pasta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Senhorita Lidiane Madalena Augusta,
sente-se, por favor – Disse, pausadamente, inclinando de forma sutil o rosto e
apontado com a mão a cadeira à sua frente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Lidiane, que estava ainda à porta,
ainda sem entender o que se passava, fez tal qual o rapaz pedira. Sentada,
agora, olhava-o intrigada. O que poderia querer com ela aquele jovem? De perto
o rosto do jovem era encantador, porém olhá-lo fixamente causava repulsa. Era
jovem em demasia, vivo por demais. Não havia uma só imperfeição em sua pele;
juventude em perfeição. Seu perfume, de flores, trazia consigo tardes perdidas
de uma infância imemoriável. Sentar-se ao lado dele era como reencontrar um
velho amigo, que se perdera nas veredas da vida. Era reconfortante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Senhorita Lidiane, eu poderia
chamá-la de Lidiane? – E sem esperar resposta prosseguia com seu discurso –
Lidiane, já passou por sua cabeça o bem-estar de sua família quando você vier a
faltar? Em um momento de dor, o mínimo que podemos oferecer é a tranqüilidade,
e como fazer isso quando não somos mais capazes de estar fisicamente ao lado
daqueles, que durante a vida tanto nos apoiaram e amaram? Lidiane, venho aqui em
nome da Funerária Santa Casa, oferecer-lhe nosso plano <i>Prevenir Plus</i>. Este plano de assistência familiar apresenta os
serviços póstumos com a melhor relação custo benefício disponíveis no mercado.
Veja bem Lidiane, em nosso plano...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O rapaz continuava a falar, soltava
palavras com tamanha elegância que hipnotizava Lidiane. Falava sobre a morte
como quem olha para o arroz, já queimado, apontando várias soluções para o
almoço. Oras, ele seria capaz de convencer alguém que o arroz não estava
queimado. Oferecia opções, lançava valores ao ar, soluções, paz e
tranqüilidade. Ele sabia do que falava, com certeza. Lidiane nada ouvia.
Mantinha-se ali por pura curiosidade de encarar aqueles olhos familiares. Era
certo, conhecia-os de outros tempos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Não entendi, o senhor poderia
explicar mais uma vez. - Ela dizia,
sempre que o silêncio se instaurava. E lá ia o rapaz, uma vez mais executar seu
discurso tão bem ensaiado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
No entanto, um cheiro desagradável se
infiltrava no ambiente. O leve perfume nostálgico de flores agora era escondido
por um forte odor de enxofre. Cada vez mais forte, o desprazer olfativo
competia com o prazer visual e auditivo de acompanhar aquela fala. O jovem,
notando o cheiro, resolve então ser mais direto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Fechamos negócio então Lidiane?
Basta que assine aqui e zelaremos pela tranqüilidade de seus entes queridos
quando o momento se apresentar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Sim, sim, claro. – E sem muito
refletir ela assinara, mesmo sabendo que não tinha no mundo uma só pessoa com
quem se preocupar. Sua mãe morrerá quando ela ainda era jovem, e seu pai
falecera há dois anos. Isso era a sua família. Não havia mais nada. Mas a
promessa de paz e tranqüilidade fora maior. Logo, por que não?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tão inesperado quanto a visita do
vendedor de tranqüilidade, veio um ruído ensurdecedor. O som pareceu ressoar em
todos os órgãos de Lidiane; machucando. Antes mesmo de se perguntar o que fora
aquilo, o mundo se tornara escuridão. Pressionando seu corpo contra o chão, o
teto desabou sobre seu corpo. Um cheiro acre de mofo misturado com esgoto e uma
pressão forte em sua cabeça a levaram diretamente para o silêncio; absoluto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Não se sabe quanto tempo se passou,
mas ele passou. Lidiane, embora ainda na escuridão, via um pequeno ponto de luz
em meio à pilha de destroços que a cobriam. Estava soterrada. Após alguns
segundos ela decide-se por agir. Com algum esforço se desvencilha dos restos de
parede e levanta. O pequeno prédio, onde antes era o apartamento de Romeu, não
existe mais. Onde ficara a bagunçada coleção de vinis de seu ex-marido jazem
agora as paredes de dois andares de entulho. Em pé, Lidiane contempla, ainda perplexa,
toda a destruição. Tranquilidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ao longe, o som insistente de uma
buzina convoca a atenção de Lidiane para fora de si. É o táxi. Mas que diabos quer
comigo? Por que não vem me ajudar? Virando-se vagarosamente, Lidiane desliza
até o táxi. Essa conta deve ter ficado caríssima, pensa ela enquanto flutua em
direção ao carro amarelo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Vamos, hora de partir! Não agüento
mais ficar aqui. Senta aí e nos tira daqui. – Diz uma mulher, no banco de
passageiros, cujo rosto é exatamente igual ao de Lidiane. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Incapaz de compreender, Lidiane vira
seu rosto para o lado, inclinando-o levemente, na esperança que mudar a posição
do cérebro e o ângulo de visão, de alguma maneira, fosse uma atitude capaz de
ajudar os pensamentos a se organizarem e fluírem novamente. Não, não surte
efeito. Até que uma voz conhecida a
retira do momento de estagnação. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Vai ficar parada feito uma louca aí
até quando? – Era Romeu, no banco de trás do táxi, abraçado a mulher idêntica a
Lidiane. – Vamos!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em um sopro vívido de compreensão ela
olha para trás, para o monte de entulhos que ela limpara por meses. Virando-se
ela encara Romeu, enfrenta a sua própria imagem abraçada a ele; acessório
daquela existência. Ela era isso? Uma parte dele?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Entre. – Ele diz uma vez mais –
Vamos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Não, não vamos. Você já leva consigo parte
de mim, agora é hora de eu ir sozinha com esse resto que me resta. – E assim,
virando-se em direção contrária ao táxi, ela flutuou em direção ao infinito de
possibilidades, cheia de perguntas, mas sem âncoras. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO2vpsVIb3QQdAHQ0Kax-6ZGWwvEzad-0BSkRItu8lu3rtb9nIkrVIx1ckR-49TxSOuKmjbidjjk4GeUlZYBW6mCFAqxTDP6uqNU74Ulekxkvm63MNTnvrcw4Kydpu8XgYu9KBww/s1600/memories_by_Quovandius.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO2vpsVIb3QQdAHQ0Kax-6ZGWwvEzad-0BSkRItu8lu3rtb9nIkrVIx1ckR-49TxSOuKmjbidjjk4GeUlZYBW6mCFAqxTDP6uqNU74Ulekxkvm63MNTnvrcw4Kydpu8XgYu9KBww/s400/memories_by_Quovandius.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Explosão em prédio residencial mata quatro em Taubaté</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma explosão em um apartamento matou quatro pessoas na
região da Estiva na manhã do dia 13 de julho. A polícia e os bombeiros ainda
averiguam a causa da explosão, mas indícios apontam para um vazamento de gás.
Dentre as vítimas foram identificados a dona de casa Maria Eduarda Galvão, 32, e
seu marido, o coveiro José Paulo Galvão, 37.
Outros dois corpos foram encontrados no local, mas ainda não foram
identificados. Os cadáveres foram encaminhados para o IML de Taubaté. Quem são
essas pessoas? Essa é mais uma dentre as muitas perguntas sem resposta que
envolvem este triste acidente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p>Crédito: Imagem 1 - Perfect Lovers, por Felix Gonzalez-Torres.</o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p> Imagem 2 - Memories, por Quovandis.</o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-72339663388710385692015-06-01T08:47:00.000-03:002015-06-08T07:45:06.017-03:00A pirâmide<div class="MsoNormal" style="margin-left: 141.6pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>I – O Paiva </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Até
quando vou fazer isso? Masoquismo? Nostalgia? Hábito? Necessidade de contato
social? Nada melhor para fazer? Fuga...Sabe-se lá porque me arrasto até o bar
para encontrá-los. De fato, importa? Como costumam dizer, essa é a vida, e
ninguém precisa de mais um anônimo pensando feito porta de banheiro de
rodoviária. Quando se cai até a meia idade é indicado parar de se perguntar
demais sobre isso tudo. Não dá para rastejar pelo que resta de vida tentando
descobrir a lógica do silêncio de cada mendigo de porta de banco. É isto: somos
os três amigos e tornamos a nos encontrar para tornarmos uns copos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Não me agrada,
mas convém repetir mentalmente. Eu sou isso. Um cara que acabou sentando em um
bar, <i>happy hour</i>, rodeado por pessoas
desconhecidas cujo passado nos gruda umas as outras: passamos pelo período de
faculdade juntos, deveria ser só isso, mas insistimos. E hoje, não há sorriso
que não seja amarelo, não há abraço sem perfume de mofo, não há nostalgia que
sirva para algo além de evitar o silêncio. Mesmo os dentes clareados quimicamente
do Ferreira, brilham algo de podre ao serem emoldurados em seu rosto de
vendedor, bem sucedido, de carros. E a
barriga imensa do Ivan, cada vez mais fazendo jus ao apelido de “o horrível”.
Não somos mais os mesmos, aqueles jovens que curtiam tomar umas, com os olhos
nas minas, enquanto falavam alto seus sonhos sobre o futuro, não existem mais;
há muito tempo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- E chega o
Paiva e sua clássica magrelinha. Ah meu velho, você tem que me deixar te vender
um carro. Te faço um descontão, parcelo...É só você pedir. Amigos são para
isso! Até você consegue pagar. – E
assim, do alto de seus quase dois metros de orgulho, Ferreira me recebe. Ele brinda com o vazio, apontando seu copo de
uísque para o alto em minha direção. E lá se vai mais uma dose de <i>Red Label </i>para dentro. Minha boca se
enche de água. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Não preciso
de carro Ferreira, ao contrário de certas pessoas, não tenho necessidade de
colaborar com a destruição do mundo. – Eu rebato, mais por hábito do que por
convicção.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Sim, claro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- É tão
difícil aceitar que alguém não quer um carro?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Sim, isso
mesmo. Olha aí Ivan, nem chegou e já está dando discurso. É um puto mesmo esse
Paiva. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ivan, o
horrível, como sempre, empunhando sua arma de longa data, a dose de cerveja,
concorda com Ferreira, fazendo lhe um gesto de brinde com o copo, agora vazio,
tal qual seu sorriso, discretamente replicado. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Maldito gordo.
Tem hora que é melhor falar sozinho viu. Mal cheguei e o Ferreira já começa com
suas insinuações. Jogando na minha cara que não tenho carro. Se acha o melhor
só porque tem dinheiro. Pobre desgraçado. E ainda insisto com ele. Como se não
fosse possível ser bem sucedido na vida e ainda assim pobre. Pobreza é minha
opção, uma ação política. Minha bicicleta, minha casa, meu emprego. Eu escolhi
isso tudo, não sou um vendido superficial e hipócrita como...Maldita tranca!
Emperrando de novo, marca de merda. Mês que vem compro uma tranca descente. E
ainda trava justo agora...só para me fazer passar vergonha. Foda-se! Vou beber.
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E assim começava
mais uma noite. Na porta do velho boteco dos tempos de <i>facul</i> os três se reencontram, novamente. Após um pequeno embate com
a tranca da bicicleta Pauva finalmente podia beber tranqüilo sem se preocupar
com roubo. E assim ele pulou para o bar, mas não sem antes, carinhosamente,
carimbar o pneu de sua magrela com um chute, reprimenda mais do que justa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>II – O Ivan, o horrível</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E o que não
faço pela vaca da Alcione e aquela peste de moleque? Bastardo filha da puta,
literalmente. Faço tudo por eles. Sim, tudo...Para me ver livre deles. Mais um
brinde Paiva, por que não? E esse ainda vem com um riso falso de brinde, ou
você acha que sua piada teve mesmo graça?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em que mesmo eu
estava pensando? Sim, nos carrapatos que deixei em casa; duas das criaturas
mais repulsivas que conheço. Assim como estas com quem sento. Oras Ivan, não
seja injusto, eles não são mais repulsivos que a massa com que você tem que
trombar pelas ruas diariamente. Laços, amigos: o melhor no pior? Como se você
fosse diferente. Ivan, ser repulsivo é uma qualidade inerente ao ser humano,
urbano. Urbano, repulsivo: você Ivan. Volta! Para de filosofar: você é diferente.
– E por isso brinde, ria; óbvio. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Por que fui me
casar com aquela vadia? Minha vida era perfeita: sambinha, cerveja e buceta, de
vez em quando. Ok, <i>muito</i> de vez em
quando. O mal do homem? A necessidade de sexo que travestimos de amor. Tenho
certeza que é por isso que estou com a puta da Alcione. Mais vale um pássaro na
mão do que dois voando, não é assim a sabedoria popular? O idiota aqui
acreditou. Tudo por sexo...Sexo? Veja os cachorros, são mais sinceros que muita
gente. De costas uns para os outros; transam. A parada é só prazer. Amor? A
palavra tenta, mas falha. É Incapaz de disfarçar o fedor do ato, a
inconsciência do orgasmo, a natureza animal, natural, reprodutiva. Prazer? Eu
digo: chantagem da natureza. Nós o sentimos ao comer, espirrar, cagar, meter,
opa; amar. O prazer é a maneira que a natureza encontrou para nos obrigar a
seguir em seus trilhos enferrujados. Essa é a viagem, longa, mas sempre nos
trilhos. Se quiser olhe para os lados, mas eu não aconselho. Lá vem um brinde.
Sim Ivan, agora é a hora de balançar a
cabeça em sinal de aprovação, isso é suficiente para o Paiva e para o Ferreira
te deixarem em paz por mais alguns minutos. Não seja injusto, não é tão ruim
assim, pelo menos se livra da Alcione por algumas horas. Bora beber, sem
pensar. E aí vem mais um brinde. Até que hoje eles estão um pouco mais suportáveis.
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Veja o Paiva.
Paivão...Queria ser como você cara. Um fracasso sim, mas protegido por toda uma
ideologia do mal sucedido, uma luta imaginária contra o sistema. Pobre Paiva,
de quantas revoluções participou? Todas, sem exceção, você e seu travesseiro,
sob o vigilante olhar do forro do teto e da poeira do ventilador. O invejo por
ter ornamentado seu fracasso com utopias. Olha para mim? O que sou? Só um
fracassado. Para você, que é branco, é fácil escolher ser pobre. E eu? Negão,
sem talento, e saco, para futebol; sem coordenação para o pandeiro; sem
estatura para bandido: baixo, gordo e de pinto pequeno. Sou um fracasso até
para estereótipo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Isso Ferreira,
o jeito é não pensar. Mas você precisa pensar em que? Seu pai te deixou uma
fortuna. “Importadora F&F, porque é sua obrigação realizar seus sonhos”. O
que te preocupa além de comer e encher a cara até não poder mais? Será que você
ainda mete com aquela gostosa da Jéssica? Será que algum dia você se perguntou o
porquê de uma gata daquelas casar com uma pessoa tão feia como você? Tenho
certeza que sim, mas deve esconder essas inseguranças no fundo da carteira.
Dentre nós você é o que sempre teve o espírito mais prático, e somente por isso
te invejo. Um brinde? Claro. Deixa vida me levar, vida leva eu. Bem, hora de
evoluir esse porre para algo mais forte: </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Galera, este
papinho está ficando bom. Estou passando para a cachacinha, me acompanham? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Sai dessa
Ivan. O esquema vai ser uma rodada de <i>Red</i>,
minha conta. – Retruca Ferreira.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Larga dessa
porra gringa, prefiro mil vezes a boa e velha cachaçinha; tesouro nacional.
Esta merda escocesa que você bebe ainda te mata Ferreira. Pega a cachaça lá
Ivan, eu te acompanho. Hoje a noite promete. – Responde, como se esperava, o Paiva. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Promete? É
sempre uma promessa; nunca cumprida. Assim como nós três. O jeito é a cachaça
mesmo, quem sabe na próxima vez que for ao banheiro o espelho me entregue uma
imagem melhor. Promessas? Fico com as certezas: um sono bêbado, sem sonhos, sem
notar a presença, o fedor, da minha loira. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>III – Ferreira</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- E o que foi
prometido ninguém prometeu, nem foi tempo perdido... - Animado por um bocado de
dozes de Red, Ferreira gritava a música de seus ídolos. Tudo se encaixava,
fazia sentido. Segundo sua concepção algumas músicas somente ganhavam sentido
ao serem cantadas, gritadas, embebidas em longas tardes de uísque. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Temos nosso
próprio tempo! </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E ao som
destas palavras morreu Adenor, que por ali só passava. Seu corpo se chocou
contra o importado japonês de Ferreira tal qual uma mosca. No alto de sua ebriedade e de sua empolgação com o mundo que,
agora, fazia sentido pois era acompanhado pelas letras do grande Renato Russo,
Ferreira só percebeu o impacto. Não vira nada, só a sombra que se jogou sobre
seu carro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Traumatismo craniano, seis costelas quebradas,
um pulmão perfurado, hemorragia interna, fratura exposta na coxa esquerda e no
braço direito, muito cansaço, um tanto de sono e um restinho de sonhos; isso
era Adenor. O velho talvez voltasse do trabalho, talvez estivesse indo para o
turno noturno. Do bar ou da fábrica? Cidadão de bem ou ladrão? Importa? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Velho, esta
foi a conclusão de Ferreira ao ver o corpo jogado no asfalto. Adenor não morreu
na hora, após o trauma seu corpo cortou sua consciência, de maneira a preservar
funções vitais. Tal fato fez com que seu peito ainda se movesse, se arrastasse,
quando Ferreira carinhosamente colocou novecentos reais em um bolso do jeans,
agora rasgado, que vestia o velho. O pulmão ainda cumpriria sua função por mais
alguns minutos, numa tentativa desesperada da vida de permanecer naquele corpo
gasto, mas Ferreira não estaria ali para presenciar essa cena. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Desesperado
Ferreira sumiu dali tão rápido quanto apareceu. A rua estava deserta, mas em
casos como esse não se pode facilitar para o azar. Tremendo, e um pouco mais
sóbrio devido à adrenalina, ele pega seu celular, precisa de ajuda. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Ô Dinei,
seguinte, deu merda mano, preciso dar fim no meu carro. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Relaxes seu
Ferreira! <i>Easy man</i>. Que pegou? Que
ocorres?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Deu merda
porra. Peguei um cara na rua. O velho
está vivo, graças à deus, mas como estou trêbado sai andando. A merda é que meu
carro está todo zoado, sangue e tudo..Se a polícia me pega estou fudido. Me
ajuda mano. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Porra! Me
fala do carro. Está zuado como? Consegues sair de perto da treta?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Zoado
caralho! Sangue para todo lado, mas andando. Mano, dá um jeito nisso para mim.
Preciso sumir com o carro. Verba não é problema, me ajuda velho. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
-
Compreendido. Só que ficar malucão de nervosismo não ajudas em nada. Tem
maconha ae? Se não tiver te levo um trago. Tu precisa se acalmar. Vai fazer o
seguinte: diriges para o ferro-velho do Caixinha. Lá, esperes no portão. Tou lá
em quinze minutos. Combinados?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
- Demorou,
Dinei. Cara, te devo essa. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em cinco
minutos Ferreira estava no ferro-velho, no ponto combinado. A rua estava deserta,
escura, perfeita. O bairro industrial não tinha movimento algum durante a
madrugada. Um pouco mais tranquilo, e compactuando com a escuridão do local,
Ferreira começou a pensar no acontecido: a culpa chegou forte. Como pude
machucar tanto um inocente? Que espécie de pessoa sou eu? Dirigindo por aí
machucando vovôs. Se bem que ele deveria estar voltando do bar. Não! Não há
desculpa. Mas na certa o dinheiro ajudará bastante. Há males que vem para o
bem. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E então
Ferreira se lembrou de algo de extrema importância. Merda! Pegou seu celular e
ligou 190. Ao ser atendido, rapidamente desligou. Idiota! Podem te rastrear.
Com o celular no bolso e o carro trancado Ferreira correu em direção a um
orelhão. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Preciso ajudar
o homem!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMy63g5sN2XPlA5JnvFY3f6xIcCqdzrjBOhrXY-FUmzFgh-1X28NplVOa4iyVbS-kSX4uzbGO6dsYMUFGKi0CNDxxVnO63CPZ44XbIKVwbiXHJUPZGV_azzHJlk9yXUaY0IAuCMQ/s1600/Transubstancia%25C3%25A7%25C3%25A3o+-Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMy63g5sN2XPlA5JnvFY3f6xIcCqdzrjBOhrXY-FUmzFgh-1X28NplVOa4iyVbS-kSX4uzbGO6dsYMUFGKi0CNDxxVnO63CPZ44XbIKVwbiXHJUPZGV_azzHJlk9yXUaY0IAuCMQ/s640/Transubstancia%25C3%25A7%25C3%25A3o+-Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" width="428" /></a></div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p>Crédito: Painel de Lourenço Mutarelli em Transubstanciação. Você pode fazer o download <a href="http://estantevelha.blogspot.com.br/p/downloads.html" target="_blank">aqui</a>.</o:p></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-57753312289927507412015-04-13T09:01:00.003-03:002015-06-08T07:46:00.388-03:00O ato de Helena.<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Silêncio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">O tédio e o cheiro de mofo trazem consigo lembranças nostálgicas
de uma infância embolorada na memória. Meu irmão, hoje empresário milionário, naquelas
tardes amarelas não passava de uma sombra do outro lado do corredor da velha
casa de praia. O chão, todo em madeira, brilhava; marca do zelo de mamãe. Do
outro lado do corredor ele vinha: o carrinho. A miniatura de qualquer carro de
luxo da época era lançada por meu irmão, com toda força de seus músculos em
desenvolvimento, em minha direção. Eu o pegava e lançava de volta. Essas eram
as tardes na casa de praia em meus primeiros anos: sem praia ou prazer, lágrimas
ou risos. Ah, aquelas tardes...talvez nem fossem tardes. As coisas eram assim,
não havia no que pensar. Imersos na correnteza do tempo, fomos levados, dia
após dia, para longe daquele corredor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6MhsQtMtOeaoSpxMMyaJSih8Me7ggyigekxCVw8zbuchJ96K9QC-MFS58s0-_UWzQFeWjqTgTxZycvQ4-CUhSi4xi9L_N1ZnzSXx-gdt5HK9l1YJB1_FUtG-y98vt3-ri1N2j5w/s1600/Marion+Fayolle_Les+coquins.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: left;"><img border="0" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6MhsQtMtOeaoSpxMMyaJSih8Me7ggyigekxCVw8zbuchJ96K9QC-MFS58s0-_UWzQFeWjqTgTxZycvQ4-CUhSi4xi9L_N1ZnzSXx-gdt5HK9l1YJB1_FUtG-y98vt3-ri1N2j5w/s1600/Marion+Fayolle_Les+coquins.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Hoje ainda há garotos que lançam seus carros em minha
direção. Embora a brincadeira seja outra, também não há sorrisos; tão menos
prazer.O chão não é de madeira, mas nele há brilho. Tudo aqui brilha
e se disfarça de limpo. Há necessidade de transparecer limpeza. Como as câmeras
não captam o cheiro de mofo, ninguém se preocupa com ele. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Somos três agora. Duas garotas e um garoto. Observo-os
brincando; lá fora e aqui dentro. Toco-me com a leveza de uma lembrança. Enxergo novamente as ondas pela janela da velha
casa de madeira. Enquanto eles se divertem eu os observo. Ele me chama,
chega de diversão solitária. Ele quer brincar comigo agora; é minha vez. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; text-indent: 35.4pt;">Flashes se tornam relâmpagos, relembro de um medo infantil.
Vejo-me nos braços de meu pai, o aconchego que tal abraço trouxera outrora
agora é apenas calor e suor; transpiração. Sinto falta de meu pai. Seria ele me
olhando através daquelas lentes? Sua ausência me preenche, um gemido escapa.
Viro meus olhos, vejo o teto, a parede branquíssima. Escuto uma voz de
autoridade, é um elogio: “Continue assim Helena, está lindo”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Estará a casa da praia abandonada? Vazia, suja? Talvez invadida
ou demolida? Existirão ainda crianças brincando nela? Continuando a jogar
brinquedos de um lado para outro do corredor, imersos no tempo...passando o
tempo. E o chão, como se manteve limpo sem mamãe? As crianças vão destruí-lo;
tenho certeza. Não há mamãe, não há papai, não há ninguém que impeça esses
garotos desconhecidos de jogarem o carrinho cada vez mais rápido, cada vez mais
forte. Bando de brutos, assim vão
estragar o chão de madeira. Arranhá-lo, manchá-lo. Danificá-lo sem volta. Parem!
Preciso fugir dessas imagens. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Penso em meu pai. O que será dele? Ainda há carne em seu
corpo? Ou será ele apenas um punhado de ossos protegidos do abraço da terra
pelo melhor caixão que o dinheiro de meu irmão pôde comprar? Onde estará aquele
que amei, embaixo da terra? Com deus? Aqui, dentro mim? Sinto dor. Olho para o
céu e vejo somente teto. Abraço-me ao ator com quem contraceno. Olho em seus
olhos; busco vida. Rasgo sua carne com minhas unhas, descubro sangue; quente.
Ele me inunda. Calor, dentro e fora de mim. CORTA! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Sinto frio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">O diretor me elogia à distância com um aceno de cabeça. Não
valho uma palavra? Meu parceiro não está tão grato. Reclama, mostra o sangue
que escorre pelas suas costas. Tudo pela arte querido. Ele retruca – Estamos na
indústria da masturbação e não há beleza na porra – enquanto sacoleja seu
brinquedo, agora molenga. Eu sorrio indagando – Por que não? A pergunta fica em
minha cabeça. Ganho o aconchego de uma toalha branca e a promessa de limpeza
feita por um banho quente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Vapor e água quase fervente. Meu pai me limpa. Ensaboa meu
corpo rapidamente, sou mais uma de suas obrigações intermináveis. Suas mãos são
grossas, calejadas do trabalho diurno na oficina. Sem carinho, mas com cuidado,
ele me lava tal como uma peça de carro de um cliente qualquer. Desde a morte de
minha mãe tudo tivera que se tornar rápido e distante, ele não faz por mal. É assim que tem de ser. Carinho se
tornara uma especiaria que não tínhamos tempo suficiente para usufruir. Limpa,
punha-me a esperar o jantar assistindo TV. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Meu pai morreu e estou suja. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">O barulho da descarga me lança à realidade. Não tinha
percebido que estava acompanhada. De volta ao presente, a pouca felicidade com que me ensaboava começa a perder o efeito. Sei, com toda a
certeza, que nunca superarei a morte de meu pai. O tempo, dizem, cala as mais
dolorosas feridas. Não sou capaz de acreditar, tudo lembra-me ele. Sim, sou
dramática. Algum problema? Todos, mas o relógio não para. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Horário para chegar, comida para fazer, sorriso para usar.
Visto-me rapidamente e pego o dinheiro com o Rubinho. Falta uma parte da grana.
Reclamo. Semana que vem pagamos tudo. Xingo! Mandam-me reclamar no sindicato.
Cuspo. Engulo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Pego um táxi para casa. Ao ouvir o primeiro comentário a
respeito do clima peço silêncio. Hoje não. Viajamos breves, cada um em seu
silêncio. Peço que pare no bairro vizinho ao que moro. Assistente
administrativa não tem dinheiro para ir de táxi para casa, tem? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Caminhar me faz bem. Oxigena o cérebro. A leve brisa do fim
de tarde leva-me longe. Distancio-me dos carros, das buzinas, da vida ao
rés-do-chão. O toque delicado de uma teia de aranha em meu rosto subtrai-me das
garras da gravidade e me coloca a levitar ao cálido sopro do ar. Os cheiros e
dissabores do chão não mais me tocam. Levada pelo vento vou-me veloz até a outra
vida: dona de casa, das 18h as 24h. Entro pelo buraco da fechadura. Silenciosa,
leve. Vejo meu marido. Espanto. Odair vendo pornô? Está a me ver. Ele me vê.
Intrigada, com sabor de alívio e felicidade na boca, apóio-o me na porta em
busca de sustentação enquanto ele caminha em minha direção. Finalmente saberei sua
reação. Ele me toca; me toca dali. Suja, nojenta. Puta ordinária. <o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCb9wNIqs5wZGD8KzCg4ibHMpA9kNtvWMnu8hfMMw2ug-RsRSnlSsrpFII_-BIughmrWuiFSQWIsFMvYtdlZ4-7ve-pd4NcYhVpVlQTwZw-BlnghAS6Q87l9Gd5NYZUG4rVlBdKw/s1600/Marion+Fayolle_Les+coquins2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCb9wNIqs5wZGD8KzCg4ibHMpA9kNtvWMnu8hfMMw2ug-RsRSnlSsrpFII_-BIughmrWuiFSQWIsFMvYtdlZ4-7ve-pd4NcYhVpVlQTwZw-BlnghAS6Q87l9Gd5NYZUG4rVlBdKw/s1600/Marion+Fayolle_Les+coquins2.jpg" width="278" /></a><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Jogada para longe rolo pelas escadas; dura. Não respondo aos
seus insultos. Após alguns instantes caída me levanto. Calo-me em voz alta. Enquanto
desço as escadas penso em tudo que poderia ter lhe dito e não o fiz. Suja,
nojenta? Oras, já passou por sua mente desvalida que talvez eu goste do que
faço? Você seria capaz de compreender isso? A sujeira que sinto cobrindo meu
corpo só existe pois foi jogada por suas palavras, por seu olhar, por seu
pensamento manco.Puta ordinária? Oras, sou atriz! Sou tão atriz que tenho
fingido ser feliz ao viver esse papel secundário, que o seu intelecto “superior”,
de “escritor”, me elencou. Sou atriz sim, e é minha atuação que tem sustentado
as histórias que você não tem produzido ao passar o dia todo a reclamar do
“estado das coisas” de bar em bar. Grande provedor de folhas brancas, vazias:
eis você! Esses seus sonhos, jogados sobre a escrivaninha, sobre o papel, nada
há de real neles. E ainda assim eu os financio; seus devaneios de fantasia.
Sim, sou eu quem pago tudo nessa casa, da comida na mesa à cerveja no copo para
você se descontrair. Relaxar? Do que? Sim, sou atriz, e acabo de engolir tudo
isso que poderia lhe dizer. Em engolir sou boa, não? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">À portaria do prédio onde vivo meu monólogo silencioso é
finalizado abruptamente; sem minha permissão. É o seu Zé, o dono do prédio. O
aluguel está atrasado demais para o velho se dissuadir pela minha aparência
transtornada. Sou breve - Aqui está o dinheiro seu Zé, mas não fale para o
Odair quem pagou, por favor. O velho me responde com um sorriso de canto de boca
e um abraço. Um abraço. Sua magreza me permite sentir seus ossos, sua coluna
torcida pelo tempo, suas mãos trêmulas. Abraço-o com carinho. É uma troca de
favores: ele pensa que o estimo e eu relembro o abraço de meu pai. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Saio sem destino. Voltarei amanhã, talvez. É provável. Odair
está batalhando com seu orgulho agora, mas a fome e o tesão sempre vencem essa
batalha, basta tempo e paciência. Sento-me à porta de um prédio em construção. Observo
um enorme caminhão despejar concreto em uma tubulação que se eleva até o ultimo
andar em construção. As maravilhas da modernidade tecnológica, as aberrações da
humanidade. Concretar o céu, criar terra firme no ar. Tolice. Lá, no alto,
homens trabalham nessa abominação. Vê-los me força ao chão. Tenho ânsia.
Deito-me.</span><br />
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Um bueiro; o abismo me acolhe. Em meio a baratas e ratos retorço-me em vergonha. Vejo meu pai e Odair se aproximando. Como pude trazê-los aqui? Como justificar que me deito na sarjeta? Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Dissolvo-me rumo aos esgotos onde não há luz para revelar meu corpo sujo. Lá em cima, onde ainda há iluminação, os vejo. Rastejo para onde não há sombras. Fecho meus olhos com força, para fugir de seus olhares carrascos. Tampo minhas orelhas para não ouvi-los, mas suas vozes inquerem-me, mesmo aqui. Quão mais baixo preciso ir? Quão mais suja preciso ser? Calem-se. Deixem-me. </span></div>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"></span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">
</span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"> </span></div>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"> Ser. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
Crédito das imagens: <a href="http://cargocollective.com/marionfayolle" target="_blank">Marion Fayolle</a></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-34987873085938492462015-03-30T08:51:00.001-03:002015-03-30T09:10:43.373-03:00Felicidade, um filme B. <div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E repito:<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
É mulher? É
bonita? Gostosa mesmo? Pois então, é ela! <br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E nunca foi
você. <br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Nunca fomos
NÓS.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mulher bonita
sempre arranja emprego e <b>você</b> sabe
bem o que quero dizer com “sempre”, não? Mas enfim, baixe um pouco suas
expectativas; é o melhor a se fazer. Olha, você pode ser um manequim
disfarçado de vendedora em lojas de sapato/móveis/casa/imóveis ou uma
secretária (mas, por Deus, chame-se auxiliar administrativa ou secretária
executiva!), só não se esqueça que, de nada importa a profissão escolhida, a
beleza continuará sendo um diferencial que nunca terás. É óbvio que ninguém
fala isso. Talvez conscientemente até tentem se convencer que não levam em
conta os aspectos físicos mais aparentes, mas não tem como escapar, a mais gostosa
sempre é escolhida pelo seu “currículo”. Por que você não trabalha como
vendedora de chip de celular? É mais fácil.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Veja bem, existem
dois grupos na humanidade: os belos e os não. A beleza é relativa? Sim,
é um padrão social situado no tempo, e, vamos lá: você é feia! Sabe aquele cara
todo malhado para quem você perguntou onde era o departamento acadêmico de
engenharia? Sim, aquele um que fingiu que não te escutou. Fosse bonita e ele tentaria
puxar assunto enquanto te acompanhava até o local, pode ter certeza, e ainda tentava
te convidar para uma cervejinha imaginando que com o álcool tivesse a chance de
ter seu corpinho. Corpinho...Isso é natural e você sabe disso tão bem quanto
eu. A única diferença entre nós e os outros animais é que criamos um
sistema complexo que estipula os padrões de dominância, e, querida, quando você
não os possui só lhe resta conviver com o desprezo. Sem dinheiro, sem beleza,
sozinha, o que resta?<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ah, já sei! Vai
encontrar seu gordinho e tentar se convencer a vida inteira que a aparência é
secundária? Que o que importa é o “que se tem por dentro”? Tudo bem, assim você
pode comer até chegar aos cem quilos e tirar disso o prazer de sua vida.
Escolhas, escolhas. Isso tudo, é claro, enquanto deseja os corpos malhados dos galãs
das novelas e admira a beleza “interior” do monte de carne ao seu lado apelidado de "amorzinho". Seria uma pena se ele não te fodesse há seis meses, não
seria? Esse é o seu futuro, e ter comido aquele X-bacon no café da manhã não
ajudou em nada.<br />
<span style="text-indent: 35.4pt;"><br /></span>
<span style="text-indent: 35.4pt;">Desculpe-me
se fui muito dura, não faça essa cara. Lembre-se, o mal que te inflijo é a
mesma dor que sinto. As vezes, ao pensar no passado, sinto-me triste, por mim;
por nós. Éramos tão diferentes, você se esforçava. Tudo bem, eu entendo que
mesmo se esforçando as coisas não eram as mil maravilhas, mesmo na magreza não
éramos lá grande coisa. Mas convenhamos, relaxar tanto assim? Aquele passado,
que quando presente nunca me agradou, é hoje um paraíso se comparado com esse
inferno que vejo; que vivemos. Sim, vou te relembrar todos os dias, todos os
momentos se possível, daquela criança gordinha, fofinha, cujos cabelos
encaracolados ainda eram acariciados pelos ventos da esperança. Olhe-se e
admita: estou certa!</span></div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvhZuW24-JIi3xwXzRk_Jwp8js-eHUcuDBwFRR0EQBPs08rmG7SvO_gJhqlyVeWsNF5NicSjeHOH3w_DdKblc6rf1p1oPJqts3Np2lmaexdJD0zwg8n7rhORehfvAR8SrsORmn6w/s1600/A78C81_thumb.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvhZuW24-JIi3xwXzRk_Jwp8js-eHUcuDBwFRR0EQBPs08rmG7SvO_gJhqlyVeWsNF5NicSjeHOH3w_DdKblc6rf1p1oPJqts3Np2lmaexdJD0zwg8n7rhORehfvAR8SrsORmn6w/s1600/A78C81_thumb.JPG" height="508" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: justify;">
Ao
terminar de passar o batom ela olhou uma vez mais para o espelho, de relance.
Não agüentava mais escutar a si própria resmungar. Seu reflexo lhe causava
náusea. Respirou fundo, olhou as horas e percebeu que estava atrasada; melhor
assim. Apressada, pegou sua mochila, seu celular e as trufas que preparara
noite passada. Selecionou uma música
qualquer que a entretivesse e partiu. Tinha muito que fazer hoje, entre o
trabalho, a faculdade, as contas do mês e a mãe doente, ouvir um cara cantando
o amor era o melhor que podia esperar do dia. Ao menos era isso que ela
imaginava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: justify;">
Distraída
ela caminhava, contava os intervalos entre os pisos da calçada, desviava de
montes de merda de cachorro e camisinhas abandonadas. Na caminhada, de sua casa
até o trabalho, só descolava os olhos do chão ao atravessar a rua. Foi quando,
feito um chamado de outro mundo, escutou um assovio vindo do outro lado da rua.
Era Mateus, colega de infância, hoje modelo de cuecas. Ele acenava em sua direção.
Espantada olhou-o, sorriu. Há tempos eles se trombavam pelas ruas e ele sempre
fingiu não reconhecê-la, mas isso era passado. Um grito! Um olá! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: justify;">
Foi
quando, rápida como o lampejo de felicidade que tivera, passou por trás dela
Chintya, a namorada de Mateus. Coincidência, era óbvio que ele não estaria
falando com ela; a gorda, mas sim com sua namorada: burra; mas gostosa. Talvez “burra”
fosse um exagero, talvez. Envergonhada de existir ali naquele momento, atrapalhando
a vida das belas pessoas, abaixou a cabeça e saiu caminhando rápido para sair
do caminho. Os desenhos geométricos da calçada a acolheram de volta sem
reclamar. Sua realidade, sua segurança. Olhou no relógio, estava atrasada, em
algum lugar era esperada, apertou o passo e atravessou a rua. </div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Você soube da gordinha da
logística?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Gordinha da logística?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- É, aquela que todo dia depois
do almoço passava aqui no setor vendendo umas trufas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Não lembro não, por quê?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Fiquei sabendo que morreu
atropelada mês passado. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Sério? Mês passado? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Exatamente, sacanagem.</div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
- Te
juro, não lembro dela, mas bem que aceitava uma trufa. </div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
[Gargalhada]</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
[Gargalhadas]</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
[GARGALHADAS]<br />
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
[The End]<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: left;">
Crédito da imagem: <a href="https://www.facebook.com/pages/James-Jean/19612561823?fref=ts" target="_blank">James Jean</a>.</div>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
</div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-72343175497091895872014-05-28T16:18:00.002-03:002014-05-28T16:19:14.735-03:00Conto, um estudo em pedaços<div style="text-align: justify;">
Salve traça,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aqui estamos, duas semanas seguidas em um mesmo mês. Há mais bits e palavras para serem devoradas, rapidamente e sem pensar; gula de informação. Esse estudo que apresento é um desafio, também sou guloso e anseio por um conto escrito para devorar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você é capaz de fazê-lo ou vai ficar somente devorando letras na passividade de sua gula?</div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: large;"><b>Um estudo em pedaços</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="font-family: inherit;">“A primeira coisa que me vem à
mente na idealização de um conto é, pois, uma imagem que por uma razão qualquer
apresenta-se a mim carregada de significado”. Italo Calvino</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">1 – Num braço uma tatuagem. U</span><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">ma imagem. </span><span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Uma mulher. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">2 – Menard fez uma tatuagem no
bíceps, o rosto de uma mulher. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">3 – Luís fica vislumbrado pela
tatuagem de Menard. Durante uma festa ele repara que a tatuagem começa a se
movimentar. Luís sonha com a tatuagem. Obsessão. Certo
dia, Luís fala com a tatuagem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">6 – Em uma aula de história da
arte, Luís encontra uma representação datada do século XIV que se assemelha
muito à tatuagem de Menard; autor desconhecido. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">7 – <i>Fürsten Von Liechstein, </i> em nota
de rodapé à <i>A arte e a igreja na baixa
idade média</i> refere-se a uma iconologia fantástica que era transferida em
carne entre os seguidores de São Leopoldo que percorreram as rotas da seda. <i>La</i> <i>Madonna
sangrienta</i>, era como os freis chamavam uma das imagens mais emblemáticas.
Luís reconhece a imagem como a tatuagem no braço de Menard.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">8 – Em uma digitalização de um
códice romano do século V d.C Luís encontra a representação imagética de sua
obsessão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">10 – Luís tem contato com um
escrito apócrifo de Champollion no qual o francês faz menção à deusa <i>Thessa</i>, mãe de <i>Thot</i>. As palavras do francês “<i>prisonnier
de l'imagerie écrite dans la viande” </i> ecoam em sua mente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">11 – Ao pesquisar sobre as
origens da tatuagem, Luís encontra referências a um culto à <i>Gonatse</i>, divindade relacionada à imagem
e à escrita, realizado pelos bosquímanos na África. No livro <i>Las crencias bosquímanas, </i>do etimólogo
Manuel Escobaldo, <i>Gonatse</i> é descrita
como a imagem em sangue feita por um mortal dos deuses<i> Tsui’goab</i> e <i>Gunab</i> enquanto lutavam pelo domínio do mundo dos sonhos humanos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">12 – Em um trecho do diário de
James Cook, Luís lê sobre a crença dos polinésios a respeito dos espíritos da
imagem, seres que surgiam das tatuagens e possuíam os homens. Segundos as
crenças polinésias, os tatuadores tinham que realizar um sacrifício à <i>Kunolea</i>, a deusa da memória, para que
acalentasse esses espíritos, evitando assim a possessão dos homens que estavam
sendo tatuados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">13– Luís sai à procura do
tatuador de Menard. A loja aparenta estar fechada há meses e não há sinais do
paradeiro do tatuador. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">15 – Luís aproxima-se cada vez
mais de Menard. Sua psicóloga diz que a tatuagem simboliza uma manifestação de
seu inconsciente. Libido reprimida. Trauma de infância. Fale-me do seu
relacionamento com sua mãe. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">16 – Menard se apaixona por Luís.
Os dois passam várias noites juntos. Luís sempre pede que Menard durma sem
camisa. Luís está apaixonado pela tatuagem, após Menard adormecer, ele e a
imagem passam horas conversando. Menard finge não ouvir Luís falando sozinho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">17 – Ao se declarar para Luís,
Menard é rejeitado. Luís afasta-se do amigo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">18 – Menard abre-se com outro
amigo, Pedro, a respeito de seu relacionamento com Luís. O caso entre Luís e
Menard se torna assunto nas rodinhas de intervalo no departamento de artes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">20 – Os rapazes brigam. Luís
culpa Menard pelos rumores que se espalharam. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">21 – Luís começa a beber e a se
drogar. Sua droga preferida é o LSD.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">22 – Luís não consegue
distanciar-se da tatuagem. Em sonhos ouve um clamor. Luís pensa em assassinato,
em cortar a pele de Menard e resgatar sua musa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">23 – Luís para de freqüentar a
universidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">24 – Certa noite, ao ir embora
para sua casa, Menard nota que Luís o segue. Várias vezes durante o dia o
telefone de Menard toca e somente o silêncio responde ao alô de Luís.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">25 – O bíceps de Luís, no mesmo
lugar da tatuagem de Menard, começa avermelhar e a doer. A dor aumenta quando
Luís se aproxima de Menard. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">29 – Luís convida Menard para
passarem o final de semana juntos no sítio de sua família. Menard, relutante,
aceita.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<!--[if gte vml 1]><v:shapetype
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiclEUuAnbPmHh_kSkxOMb13rqcskbrLYbAcLk0rAgOo6YWjEnnkoIX16jpBuk30dWw-E2GCq6Zn8aA0hoPhAlmYO3X4_tgXsnbOpLIMgGHNQQTPRahGvm3v2WiQICfgWX5YusW0w/s1600/Ela.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiclEUuAnbPmHh_kSkxOMb13rqcskbrLYbAcLk0rAgOo6YWjEnnkoIX16jpBuk30dWw-E2GCq6Zn8aA0hoPhAlmYO3X4_tgXsnbOpLIMgGHNQQTPRahGvm3v2WiQICfgWX5YusW0w/s1600/Ela.jpg" height="640" width="442" /></a></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">[Agora posso escrever?]</span></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-53365140139435670942014-05-21T16:07:00.000-03:002014-05-21T20:14:45.600-03:00ElaSalve traça,<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Após um ano de proliferação silenciosa volto a trazer páginas amareladas recheadas com pensamentos empoeirados. Alimento envelhecido para a gula de traças desocupadas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Minha mão ainda tropeça ao tentar trazer estas letras ao papel, foi-se um ano de silêncio e para mim não está sendo fácil quebrá-lo.Meu objetivo é semana que vem escrever mais algumas linhas de baboseira e, no final, felicitar-me por postar por duas semanas seguidas. Veremos, mas por enquanto...</div>
<br />
Bom apetite!<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: large;">Ela </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Deitada, costas no mato e olhos
na escuridão da noite, ela contemplava pequenas luzes pelo céu. Lua, Via Láctea, Cruzeiro do Sul, nomes que
para ela soavam como divindades modernas, inalcançáveis, passíveis somente ao toque
da imaginação e da fé. Luzes a vagar pelo infinito, imagens de um tempo que se
fora. Se esta frase não está em uma obra de ficção deve ser parte de algo religioso,
transcendental. Luzes, seja no tempo ou no espaço, distantes. Memória
constante da insignificância humana. Sobre tais corpos celestes, gastam-se números, criam-se palavras. Na matemática ou na ficção, aproxima-se o
infinito na tentativa de torná-lo mais real, parte de nós, para, quem sabe assim,
nos sentirmos parte do todo; acolhidos, não apenas grãos de areia estelar
sonhando existir e crendo conhecer. Aqui, deitada sob o mesmo céu que milhões, ela pensava sobre tudo o que não havia necessidade de pensar. Penso e
penso, invento, crio, desespero: e para que? Tudo se resume a solidão e abandono,
acaso e caos? Ela pensava em demasia e nunca gostou disso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_Dt8OqFlAhTUIy2d4lkdywB-e1WtQFHSHlMoJBwg2hIuw0t586lnmn_2fFq8wUljWJ12mP7CzpmA9uTaolTFciMi3lO2FYBZBSxCAcfesK08O5VvtU7ULU-u5GtvO8iyngNlmCQ/s1600/BEC7DB_thumb.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_Dt8OqFlAhTUIy2d4lkdywB-e1WtQFHSHlMoJBwg2hIuw0t586lnmn_2fFq8wUljWJ12mP7CzpmA9uTaolTFciMi3lO2FYBZBSxCAcfesK08O5VvtU7ULU-u5GtvO8iyngNlmCQ/s1600/BEC7DB_thumb.JPG" height="235" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Suas costas sentiam um leve toque
de frieza provindo chão molhado pelo orvalho noturno. Seus olhos carregavam a
mesma umidade que o gramado que a acolhia. Seus tímpanos, atentos, excitavam-se
com o bater das asas de um besouro em seu vôo impossível; rotineiro. Tudo
estava tão distante que não fazia diferença. Uma estrela, o Sol. Um satélite, a
Lua. Um planeta, a Terra. Um hemisfério, um continente, um país, estado, bairro,
rua, casa, número de registro geral, tipo sanguíneo, crença, amores, mágoas,
tipo sanguíneo, localização no GPS, angústias. Que diferença faz isso tudo?
Isso tudo sou eu? Quem sou eu? O que é uma consciência a se questionar em um
mar de bilhões de outras que se sucederam no tempo? O que pode haver de belo e
único em mim? E assim ela se perdia em pensamentos e acabava por se culpar,
pois se achava, uma vez mais, perdendo tempo ao pensar. E ela não gostava
disso. Deixa disso, não há nada...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E vinha o nada. Com a mão ela cobria
a Lua, ocultava a pouca iluminação da noite de verão. Olhava-se na escuridão.
Sentia e temia. E assim, ao tocar carinhoso do vento, pensava em sua pele. A
pele, o que é isso? O maior órgão do corpo humano, parte da experiência de ser.
Por ela eu sinto o caminhar da formiga em minha perna, o calor do outro, o
beijo do metal frio das mesas de hospital. E quem faz isso tudo? Ela, eu? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu? Entre meus dedos uma pequena
marca branca, um trecho de pele destoante, uma memória. Uma comunidade de criaturas procria e vive aqui,
nesse minúsculo vale entre meus dedos. Nessa idosa marca, cicatriz da longínqua infância. E esse mesmo luar ilumina seres que somente via imaginação consigo
tocar. Tudo está tão distante e ao mesmo tempo tão próximo, do pó de estrelas
que dizem que sou aos seres microscópios que me habitam. Tudo, igualmente
inalcançável. Coisas e seres completamente aquém da minha percepção, mas ainda
assim, o conhecimento que o mundo provém me diz: acredite.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixNH0xUmfz6SRrrNFasd8ikC6I62r8UmsODD4-0IWlmkDhwOcuyepPbN2HduidgiRUC-mhp5cksbBCLeiMOTczTqCo_NFbzn1XDi8qzqFI4fPzo87y2gU7SA828HefgM-ZhMKTdw/s1600/James+jean_moleskine-viscera_full.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixNH0xUmfz6SRrrNFasd8ikC6I62r8UmsODD4-0IWlmkDhwOcuyepPbN2HduidgiRUC-mhp5cksbBCLeiMOTczTqCo_NFbzn1XDi8qzqFI4fPzo87y2gU7SA828HefgM-ZhMKTdw/s1600/James+jean_moleskine-viscera_full.JPG" height="513" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Olho para céu, olho para mim.
Fecho meus olhos, abro meus olhos. E não importa o que faça tudo o que posso
fazer é acreditar? Estou presa a fragilidades que fogem ao toque de minha
compreensão, por isso creio. Sento-me em descobertas e criações alheias. Sim,
que eles pensem, quero viver; existir. E o pensamento se desenrolava em sua
cabeça com a mesma fragilidade das crenças que ela dizia sustentar. Existir,
viver, eu? Mas o que há em mim que seja meu, que seja eu? Ela nunca gostou de
pensar, mas um silêncio profundo lhe dizia que isso era tudo de existência que poderia ter.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu seria isso? É pensar que me
torna o que sou? Que me dá um “eu” para grudar a tudo o que digo? Necessidade lingüística,
psicológica? É nesse momento, pensando, que sou singular? Um garoto na idade
média, do outro lado do mundo, deitado nas areias da noite africana não poderia
também ter pensado isso? Se eu posso pensar nele, vê-lo deitado se questionando
sobre o que é existir, ele também poderia ter pensado em mim? Uma garota no
futuro, a imaginar-lhe existência? Seria eu, nada mais que seu pensamento, tal
qual ele é o meu? Ou talvez ainda de um terceiro, que somente agora surge?
Quem é você, por que nos cria em sua mente? Talvez também busque respostas,
sentido, existência. Ou então, assim como eu, principiara tentando encontrar
leveza para navegar na maré do infinito e acabara por se ancorar em redemoinho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela nunca gostou de pensar, mas
era aqui, atravessando a insignificância aparente de seu corpo e de tudo que a
rodeava que ela se criava. Um pensamento sem começo ou fim. Um fluxo constante
de impressões fugazes e marcas profundo-superficiais a se recriar a cada
instante; breves singularidades a explodir. Ela, mais um pensamento. Talvez seu, talvez da mente de um outro alguém.
Talvezes a orbitar o espaço-tempo do agora infinito, no aqui indeterminável. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pensando.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Emerge. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVty14N0zyv_xLwZyKeV0tK4hUrD2Ub8kA_z5czY9FNkH67GU7xWIrd9ySYGl8oxf9OlidiZMRdfBIxtvEXKP_2zkzwFIh_zmTwzuKnRjf8UXLvoT9wMqcNbLVMxWSNL9G9q4NWQ/s1600/sea_monster_by_ambird.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVty14N0zyv_xLwZyKeV0tK4hUrD2Ub8kA_z5czY9FNkH67GU7xWIrd9ySYGl8oxf9OlidiZMRdfBIxtvEXKP_2zkzwFIh_zmTwzuKnRjf8UXLvoT9wMqcNbLVMxWSNL9G9q4NWQ/s1600/sea_monster_by_ambird.jpg" height="640" width="480" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Créditos:<br />
Desenhos 1 e 2, obras dos sketchbooks de James Jean. Disponíveis <a href="http://www.jamesjean.com/" target="_blank">aqui</a><br />
Imagem 3 - Autor desconhecido.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-60627677873087342452013-01-28T17:38:00.000-02:002013-01-28T17:42:21.366-02:00Aglomerados de estranhas entranhas. <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
Salve traça!<br />
Entre besteiras e asneiras, não há muito o que se falar, resta-me aglomerar, talvez, palavras demais.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<b><span style="font-size: large;">Aglomerados
de estranhas entranhas. </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: right;">
<b>Meridiano
de Sangue</b>. </div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
<br />
“Em qualquer acontecimento a história de todos não é a história de cada um nem
tampouco a soma dessas histórias e ninguém aqui no final pode entender o motivo
de sua presença pois ninguém tem como saber nem mesmo no que o acontecimento
consiste.” </div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>Intoxicante amor. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
Sábado,
26 de janeiro. Em sua casa Ingrid se decide pela calcinha vermelha com detalhes
em renda preta. É isso, será hoje. O ano tem sido perfeito até agora, tudo está
dando certo; desde passar no vestibular até o lance com Peter. Será hoje! Sim.
Depois da festa vamos para a casa de Peter, seus pais estão viajando. Se você
não fizer ele vai buscar com outra. Mas será que dói muito mesmo? Que linda que
ficou esta calcinha em você, preparada para matar heim. </div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
De costas, Ingrid admira
no espelho a visão daquilo que seu namorado tanto anseia. Foda-se, diz olhando
para o pequeno frasco com lubrificante; de morango. Eu o amo, farei o que ele
quiser. Mas não custa nada tomar umas doses a mais de vodka, não? Risadas. Ê
amiga, responde Julia, você está com fogo hoje! </div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>Cicatrizes. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm;">
“Entre mortos e feridos, entre
gritos e gemidos,<br />
(a mentira e a verdade, a solidão e a cidade)<br />
Entre um copo e outro da mesma bebida<br />
Entre tantos corpos com a mesma ferida.”</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>Prenhe de esperança.</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
Sylvia, de joelhos ao lado da
cama, ora. Não consegue dormir. Precisa passar. Fazer faculdade, o sonho de sua
mãe, de seu falecido pai, talvez o seu. Precisa! </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
Não
consigo expressar teu poder ó meu pai, o quanto é misericordioso. Só me resta
esperar o milagre e <i>as</i> benção de Deus
na minha vida, porque o que o Senhor promete e cumpre. É só descansar e tomar
posse da vitória, tenho fé no Senhor. Sei que segunda feira terei a vaga. Obrigada
Jesus por me amar tanto assim, mesmo eu sendo tão pequena diante da sua
grandeza...</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>Voyeur.</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
Na casa ao lado, Oliver,
entediado zapeia pelos 150 canais da TV a cabo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Nickelodeon, ESPN, Sexo, corrida, luta de boxe, um policial correndo, zap. Um
olhar: um leão agachado contempla a manada; o alimento. Preparado, o mais apto,
analisa os movimentos da grande massa de animais que lhe cabem. Busca o fraco,
o menos capaz. A língua, quase humana, molha o lábio. O leão respira fundo e
parte, feito um tiro. Seu corpo se movimenta sem dificuldades, movimentos certeiros,
lapidados por milênios. Seu corpo se destaca frente ao vermelho crepuscular,
uma sombra em movimento, a morte que vem feito um disparo. A manada dispara. A
adrenalina os desperta do prazer do pasto. Salve-se quem puder? Eles não
pensam, correm. O cérebro responde rápido ao instinto mais básico,
sobrevivência. Oliver está atento. Interessante ver a morte na segurança de um
sofá velho, não? A manada de gnus, algo como um boi magro, em desespero, tromba
entre si, atrapalham-se, pisoteiam-se: sobreviver. O leão vence, não há
surpresa nisso. É o fim para mais um gnu, mais um dia natural. Ninguém chora,
ninguém se vangloria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A câmera filma tudo, com detalhes: o golpe do leão, sua mordida, o sangue que
escorre. A mente de Oliver divaga na
madrugada, imagina-se filmando o leão, porém em suas mãos traz uma arma. Olhos
cerrados, ele espera o leão se distrair em seu banquete. Tal qual o
cinegrafista focando a caçada, Oliver está lá, caçando. Ele dispara. É o fim.</div>
<br />
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>27 de janeiro, dia internacional
das vítimas do Holocausto.</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
“Vários soldados da época de Hittler e muitos
dos mortos podem ter vindo reencarnar aqui no Brasil, no Rio Grande do Sul,
para resgatarem seus débitos espirituais. PROVAVELMENTE (sem comprovação
nenhuma, neste momento) os jovens que desencarnaram hoje no acidente podem ter
feito parte do comando de Hittler, e os envolvidos no caso como “culpados”
(alguns seguranças, dono da boate...) podem ter sido mortos dentro dos campos
de extermínios nazistas. Ou seja, a Lei da Ação de Reação pode ter sido
aplicada neste caso.” </div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<o:p><b> Dinâmica. </b></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><b><br /></b></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“A terceira lei de Newton afirma
que a interação entre dois corpos quaisquer A e B é representada por forças
mútuas: uma força que o corpo A exerce sobre o corpo B e uma força que o corpo
B exerce sobre o corpo A. Estas forças têm mesmo módulo, mesma direção, mas
sentidos contrários. É usual dizer que as forças relacionadas pela terceira lei
de Newton formam um par ação-reação. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
Por outro
lado, é importante que fique bem claro o seguinte. A interação entre dois corpos
origina duas forças de mesma natureza.
As forças atuam em corpos diferentes e, por isso, elas não se cancelam
mutuamente. As forças são simultâneas: uma não vem antes e nem depois da
outra.” </div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
</div>
<div style="border-bottom-color: windowtext; border-bottom-width: 1pt; border-style: none none solid; padding: 0cm 0cm 1pt; text-align: start;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>Espetáculo.</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
O circo chegou. Veio de
madrugada, não acordou ninguém, mas pela manhã todos sentiam no ar sua
presença. Não chegou em caravana, não montou lona, mas fará o show. Foi
chegando aos poucos, van por van, animal por animal. Uma vez maquiados os
palhaços, enfim, fez-se a luz: o maior espetáculo da terra, agora ao seu alcance.
Assista também! </div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
As entranhas expostas do destino: útil inutilidade.</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>Luto: Faça você também a sua parte. </b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“O momento é de solidariedade, ajuda e oração. Uma tragédia
em Santa Maria, num incêndio no salão de festa, vitimou 245 pessoas e muitos se
encontram hospitalizados. A maioria são jovens universitários. É a maior
tragédia já acontecida no Rio Grande do Sul. A Igreja reza pelos familiares
para que tenham força, fé e coragem em Jesus Cristo. Cremos na ressurreição,
sinal de esperança para os que morreram e para familiares. Ore você também.” </div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b>Segunda feira, 28 de janeiro. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esperançosa Sylvia economiza uns
trocados no almoço para pagar um tempinho na <i>lan</i>. Preciso ter passado. Senta-se no computador, faz o nome do pai
e uma breve prece. Aperta com força as pálpebras, fecha-se brevemente em sua escuridão.
Você precisa passar, você vai passar, eu tenho fé. Entre promessas e esperanças
ela entra no site, mal consegue respirar. As informações estão disponíveis, lê.
Sem pensar, passa de clique em clique, página por página. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chocada, relê. Finge não entender
as letras: não obteve nota suficiente. Respira fundo, abaixa a cabeça, odeia por
alguns segundos o teclado, o mouse, sua mão, a si e a toda sua burrice. Respira
fundo e abandona o local em meio a tropeços e lágrimas represadas. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Naquela mesma noite, após muita
oração, Sylvia colocou sua cabeça no lugar. Plantou fé e colheu esperança. Esta
ainda é apenas a segunda chamada, ainda tenho chances. Pessoas ainda podem
desistir!</div>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm; text-align: justify;">
Na
terceira chamada Sylvia foi convocada para matrícula. Ocorreram muitas
desistências imprevistas no ano de 2013 em Santa Maria, RS. Sylvia passou, com
a ajuda de deus. Ela merece.</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; padding: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-82765397262892964742013-01-01T12:12:00.002-02:002014-05-21T16:53:03.584-03:00A insustentável nobreza de ter II. <br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Salve traça!</span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Enfim, após dois meses sem postar nada, um pouco de bits amarelados. Razões? Talvez seja porque não tive saco de escrever sobre o Natal durante o Natal; retorno agora. Como o conto é em 4 partes, vou acelerar e tentar postar o mais rápido possível. Veremos. Aproveitem, pois o ar está carregado da poeira de meses sem movimentação! </span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">
<div style="font-size: large; font-weight: bold; text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><b><b><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></b></span></div>
<div style="font-size: large; font-weight: bold; text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><b><b><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></b></span></div>
<div style="font-size: large; font-weight: bold; text-align: right;">
<br />
<br />
<br />
A insustentável nobreza de ter. </div>
</span></div>
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><b style="font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: justify;"></b></span></span><br />
<div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white;">
</span>
<div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: center;">
<span style="background-color: white;"><b><br /></b></span></div>
<span style="background-color: white;">
<div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: center;">
<b>Parte II - Na fábrica</b></div>
<div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="line-height: 21px; text-align: center;">
<div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 15px; text-align: right;">
<b><b><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></b></div>
<div style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 15px; text-align: right;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihm2tz8WbBIXRYMatrjRsmD3tA2TRgY0mos1FdDqCmPkBCU3X8IW2PkBEdyvt6LrLm6FBzkVLwCVekwzhWbyuVFeFeGiyIQOMwGthX73AifOflKvzPROPC0gmsZ6umwvDmVTwBFw/s1600/T%C3%A9cnico-em-Automa%C3%A7%C3%A3o-Industrial.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihm2tz8WbBIXRYMatrjRsmD3tA2TRgY0mos1FdDqCmPkBCU3X8IW2PkBEdyvt6LrLm6FBzkVLwCVekwzhWbyuVFeFeGiyIQOMwGthX73AifOflKvzPROPC0gmsZ6umwvDmVTwBFw/s400/T%C3%A9cnico-em-Automa%C3%A7%C3%A3o-Industrial.jpg" height="205" width="400" /></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
Júlio seguia o senhor engravatado pelas ruas da
fábrica. Além daqueles dois homens, não havia pessoas lá. Milhões de máquinas
trabalhavam produzindo incessantemente. O quê? Não era possível reconhecer, o
processo era rápido demais. Pequenos componentes eram soldados, encaixados,
prensados. Era possível sentir a magia naquele local, o mágico funcionamento do
progresso técnico, a máquina e seus truques incompreensíveis. O galpão era
enorme, no céu, pois era muito alto para ser um teto, cabos e canos de várias
cores se cruzavam em estradas. Energia, combustível? Impossível saber. Fato
estranho para Julio era que ali sua perna, antes purulenta, estava boa: não
doía ou fedia. Ele só percebeu isso quando começaram a subir uma escada. Ao
longe, no alto da escada, atrás de um vidro, via-se a silhueta de um homem grande,
gordo. Sua posição era ameaçadora, de poder. Este era o chefe, com certeza.</div>
</div>
<div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglStleJujfapWjgE_ZJlIiwAcXmww5f8REkdDxduTuywyjTLJ_4hsNW89zTsqyc7etCxCkF9NyrABOEtFwqoBdykCWh37Nrch3GUjn6SgDijQ6XtM36ITyBE0QTx5X2X6MI7Z7Qg/s1600/automatisierungssysteme_siemens.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglStleJujfapWjgE_ZJlIiwAcXmww5f8REkdDxduTuywyjTLJ_4hsNW89zTsqyc7etCxCkF9NyrABOEtFwqoBdykCWh37Nrch3GUjn6SgDijQ6XtM36ITyBE0QTx5X2X6MI7Z7Qg/s400/automatisierungssysteme_siemens.jpg" height="246" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para onde estamos indo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Providenciar seu presente, só precisamos cuidar
de uma pequena burocracia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Você é mesmo Papai-noel?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ora Júlio, não me faça rir. Como pode perguntar
uma coisa dessas e nem ficar vermelho? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Calada, a dupla continuou a subir as escadas. Com
a altura se tornou possível olhar o complexo industrial de uma nova vista,
porém quanto mais se subia menos nítidas as máquinas ficavam. Grandes braços
mecânicos movimentavam-se em linhas elevadas, giravam livremente movimentando
componentes mil. Estranhamente não havia fumaça, ou mesmo qualquer cheiro que
indicasse um ambiente fabril. O passado voltava à mente de Júlio no compasso da
sinfonia concreta. Antes de ver sua vida em queda livre, ele fora feito gerente
de uma montadora multinacional, em outras palavras, conhecia, como poucos, o
ambiente fabril, e isso o assustava, pois naquele lugar sentia-se descobrindo a
América, tudo era exótico, feito de outro tipo de matéria, no entanto, fantasiando-se
de comum. Como se "algo mais" dissimulasse o fato de não ser uma fábrica, feito
tesão, fingindo-se amor em busca de uma gozada adequadamente satisfatória.
Metáforas à parte, ele seguiu, com um aperto no alto da garganta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Enfim, de frente com a sala no topo da fábrica
eles pararam. O senhor, impecável em seu terno, após abrir a porta, apontou
servilmente o caminho para Júlio. – Por favor – Diziam sua mão e seu rosto, ligeiramente inclinados para esquerda, mas, evidentemente Júlio hesitava. Respirou
fundo; disfarçou nada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A sala era simples, branco sobre branco,
higienicamente hospitalar. Uma mesa de escritório, silêncio, duas cadeiras, um
velho enfeitando o canto, figura de porte, olhos voltados para a imensa
fábrica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaFtawzVTSYOG-wvzTVjp9tS2vAIh-gX07G70rrc6VqB9pmHMwZ6Yqy5-eR6Rz0ODCPzBGP-rV_4eNwgHbA2UF1LavsP4M_J52GDEA4CxFgaC_hzbzoA7bUjnxyPcebMa8ilVnFg/s1600/automacao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaFtawzVTSYOG-wvzTVjp9tS2vAIh-gX07G70rrc6VqB9pmHMwZ6Yqy5-eR6Rz0ODCPzBGP-rV_4eNwgHbA2UF1LavsP4M_J52GDEA4CxFgaC_hzbzoA7bUjnxyPcebMa8ilVnFg/s640/automacao.jpg" height="640" width="316" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Vamos, senta.
– Disse o velho com uma voz estranhamente fina, de maneira alguma
condizente com seu físico, enorme. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Júlio, segurando o riso, senta-se. Arruma o
cabelo, afaga a barba, encara a ponta de seus tênis velhos. Com o pé direito
ritma o tempo que se estende em silêncio, total. Toda aquela ausência de ruído
o faz pensar não estar mais na fábrica. No entanto, as máquinas visíveis pela janela
onde se encontra o velho desmentem seus sentidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O velho senta-se: enorme, pesado, sólido. Seus
cabelos e barbas são de um branco amarelado, estragado. Restos, provavelmente de
comida, povoam sua barba. Seu rosto lembra a aparência estereotipada de papai-noel, porém
algo não se encaixa. Sobras, restos e faltas, mas ainda, trajando a pele de "papai-noel de sempre". Veste uma calça social preta, uma camisa branca e um
suspensório para manter a calça sobre a barriga. De uma gaveta, abaixo da mesa,
retira uma garrafa e um copo. Abre, cheira, cala. Seus olhos se fecham, seu
peito se espuma, um sorriso rola em seu rosto. Vagarosamente, dois dedos do líquido
marrom claro são lançados no copo. Ele guarda a garrafa e ,com o copo em mãos, diz:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Você nunca vai beber isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Uma vez mais Júlio segura o riso. A voz do velho
é muito fina, de criança mesmo. Como pode alguém tão grande ter essa voz? De
maneira a não sorrir, acaba fechando os olhos e abaixando a cabeça. Respirar
fundo também é importante. Tem de se controlar, é impróprio rir da cara dos
outros, aprendeu isso junto com a lição de respeitar os mais velhos, na mesma
época em que descobrira que papai-noel não existe. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se eu descrevesse o gosto desta bebida você
enlouqueceria de desejo. Mas pode sossegar, não farei isso... Tenho juízo. Ei,
olhe para mim quando falo com você! Está com algum problema?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não senhor...não senhor...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Muito bem, você pediu outra chance, certo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Você é papai-noel? E aquele outro senhor?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Relações públicas. Prefiro que ele faça o
primeiro contato, tem lábia, saca? Aquele maldito poderia te fazer meter uma
arma na garganta e puxar o gatilho, e, se ele quisesse, você faria sorrindo de
agradecimento. Mas, se pensarmos em termos básicos, ele passa uma imagem melhor
que a minha, mais aceitável. Sabe como é, toda essa coisa de gordura em excesso,
sem falar no minha relação com a bebida. Essa geração politicamente correta é
uma merda gigante. Tenho saco não. Fico aqui no controle, que é o que faço de
melhor. Sem falar que não temos tantos clientes quanto antigamente. Não, não! Sem nostalgia, é verdade. Good old times. Mas é isso, não dá para arriscar
perder um cliente só porque estou de ressaca. Então ele cuida de todo estes
procedimentos de primeiro contato. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Júlio somente olhava para papai-noel, tudo
parecia surreal demais para se aceitar sem titubear. Mas, sem dúvida, o mais
perturbador era a voz. Era como se uma criança chata, que fala demais, ficasse
puxando papo no meio do velório de sua própria mãe. Não dá...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Porra, você é mudo? Que caralho viu! Quase nunca
vem ninguém aqui, e quando aparece alguém, é um retardado que não fala. Puta
que o pariu, haja saco viu. – Disse o velho entornado o copo de bebida em um só
gole. – Olha, negócio é o seguinte, você pediu outra chance, pois bem. Só
preciso que faça algo para mim. É tipo um teste para eu ver se você não vai
ferrar com sua vida de novo. Vou te levar no setor de bombons, lá trabalhamos
voltados para a nova classe média. O povinho avarento que não tem um puto para
comprar algo melhor, e fica dando caixas de bombom no natal. Enfim, você irá
provar os bombons que produzimos. Quero que você me diga qual dos bombons da
nossa linha é o melhor, o mais gostoso, aquele que para você é o ideal. Avalie tudo, e quando digo tudo, é desde a
embalagem até o cheiro do seu peido depois que digerir o chocolate. E por que
isso? Você me pergunta com essa cara de trouxa que não está entendendo nada.
Simples, sua nova vida será tão boa quanto o bombom. Nossos engenheiros tem um
algoritmo complexo que relaciona e converte as mais variadas características do
bombom em variáveis para sua “nova vida”. Assim, a cor da embalagem, pode ter
relação direta com o local onde será sua casa. A consistência do bombom pode
estar relacionada com sua relação amorosa com sua nova mulher, ou mesmo com
seus filhos. Obviamente não entendo desta conversão, muitos detalhes técnicos.
Eu sou o chefe, só aprovo e faço com que funcione. Entendeu?<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsw_Iu1lR3ImCbsjOAEMoDKZ2sQPdwS6CxWjCg4V6_gPruh0c3Rncoy0zAMRwjU5TCdt9JV0hyp_bOVjK28lCDc9D9RC9jfXjcxIdoXWZwuiL2v7Q8audU05VZrNs_A254ZERDlw/s1600/MotorLines3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsw_Iu1lR3ImCbsjOAEMoDKZ2sQPdwS6CxWjCg4V6_gPruh0c3Rncoy0zAMRwjU5TCdt9JV0hyp_bOVjK28lCDc9D9RC9jfXjcxIdoXWZwuiL2v7Q8audU05VZrNs_A254ZERDlw/s400/MotorLines3.jpg" height="400" width="266" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Muita informação e pouco tempo, como assim
relacionar bombons com sua nova vida? Júlio somente balançou a cabeça, em um
gesto muito mais de consentimento do que de compreensão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Então me diz? Você está com cara de que não
entendeu porra nenhuma. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Júlio engoliu o ar que lhe faltava. Pensou fundo
e soltou, feito gemido. - Eu escolho um bombom e, quanto melhor ele for, melhor
será a vida que o senhor me dará. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Isso porra! Basicamente. Mas ó, você tem que
provar e já tomar a decisão. Você provará cada bombom uma única vez, não tem
volta não, então fica esperto. Quando você decidir você pega e fala para meu
assistente: é esse que eu quero. Daí ele vai rodar o algoritmo de conversão e
você vai acordar em sua nova vida, nova chance, novo eu, novo tudo...O que você
sempre quis, todo bacanão e tal. Bom para caralho, né não?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Júlio permanecia em silêncio, o que mais havia para
fazer? <i>Não é possível nadar contra a correnteza na queda da cachoeira</i>, frase de
vovô. Restava seguir o percurso, mergulhar. Escolher um bombom? Simples, se é
isso que ele quer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Beleza então, já perdi tempo demais. Tenho que
voltar ao trabalho. Noue, – gritou papai-noel – acompanha o Julinho aqui para o
setor de bombons, ele vai fazer o teste. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E assim Júlio saiu, acompanhado de Noue, o velho
encarregado das relações públicas de papai-noel. Eles se dirigiam para o setor
de bombons. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
</div>
<div style="line-height: 21px; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
</span>Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-64266977762514225092012-11-04T13:15:00.001-02:002012-11-06T09:33:15.375-02:00A insustentável nobreza de ter. <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Salve traça,</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Hoje começo a postar um conto que, dividido em capítulos e seguindo com a periodicidade semanal, devo terminar em dezembro, às portas de papai-noel. Logo, a conclusão é: se não gostarem, nos vemos mês que vem...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><b></b></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><b><b><span style="font-size: large;">A insustentável nobreza de ter. </span></b></b></span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><b>
</b><div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Parte I - No beco.</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<br />Há tempos não chove. O calor não é insuportável,
é o de sempre. Falta comida. Não há serviço. A dignidade persiste,
envergonhada. Junto do que me restava de dinheiro foram-se os amigos. Vendi o
carro, despejaram-me de casa. Filha e mulher partiram sem adeus. Resto. Sobram
vontades e desejos. Cada corpo que se desvia de mim é um outdoor vendendo o que
não posso ter, ser. O cheiro? Não ligo mais, o fedor se tornou comum, é o mundo
que estou:<o:p></o:p></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi61T1OiicI8PsRY-O_pnk5tmg6UC-S2UPBBpkszakk8f1cRE3k_wisv0FebaSg3kzNcVv2jBatIYiyuu22fRA5msBFK3U1H237FsoAi-mOfAId3HlM4EtqamMoAyp7IjLGbfmByg/s1600/Transubstancia%C3%A7%C3%A3o+-+Mutarelli.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi61T1OiicI8PsRY-O_pnk5tmg6UC-S2UPBBpkszakk8f1cRE3k_wisv0FebaSg3kzNcVv2jBatIYiyuu22fRA5msBFK3U1H237FsoAi-mOfAId3HlM4EtqamMoAyp7IjLGbfmByg/s1600/Transubstancia%C3%A7%C3%A3o+-+Mutarelli.jpg" /></a></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Estou manco, uma de minhas pernas apodrece. Nada a fazer? Esquece. Este não é o fim do mundo, acredite.
Estou assumindo uma perspectiva positiva frente aos fatos. Por que não
tentar? Esta carta é mais um passo de
retorno ao topo da montanha. Voltarei a beber felicidade dentro do ar
refrescante das noites em quatro paredes. A mudança está em mim, questão de
força de vontade. Consegue entender?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">A cidade tem crescido, os imóveis se valorizaram,
o progresso chegou, até os becos mudaram. Os anos que me esperam piscam
gloriosos, logo ali, à frente. Talvez ano que vem já possa visitar meu irmão no
Japão. Cruzar o planetinha em vinte quatro horas, perfeito. Ano que vem, com
certeza. Só depende de mim. Globalizaram o globo, mas ainda me pergunto se
conseguiria dizer, agora, caso meu irmão estivesse aqui, que o amo. O amor só existe entre pares, da maneira que estou agora seria incapaz de olhá-lo nos
olhos. Isso é temporário. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">O papel está acabando, mas ainda tenho muito que
lhe dizer. Vou tentar ser conciso. Faz tanto tempo que não falo com ninguém,
por isso percebo uma certa verborragia. Estou meio bobo sabe? Costumava
escrever muito, vários formulários, memorandos, relatórios, vez ou outra um
cartão de aniversário, um lembrete de carinho na aba de um livro; deveres
sociais cotidianos. Enfim, hoje em dia estes hábitos são incomuns por aqui. Não
estou reclamando, aprendi com isso, será útil daqui para frente. Só caímos para
aprender a levantar, não é? Os erros do passado agora são claros, aprendi com
eles. Sou uma nova pessoa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">E vejam só, estou escrevendo demais novamente.
Vamos direto ao ponto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Nobre amigo, Papai Noel, <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Desculpe-me pela ausência de contato por todos esses
anos. Acredita que cheguei a duvidar de sua existência? Agora que as coisas andam
endezembrando, tudo brilha e pisca; vários sonzinhos alegres acompanham os
sorrisos estampados pelas ruas, lembrei-me de uma verdade esquecida; de você. Peço-lhe uma nova chance! Só isso, pelas minhas
palavras sei que vai perceber que eu mudei, sou um novo homem; amadurecido. Farei
acontecer desta vez, garanto, só preciso de uma mãozinha. Com sua ajuda
voltarei com Judite, poderei rever minha filha, meus amigos, a vida. Não serei
específico, o presente é simples, um novo começo. Sei que fui um bom garoto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Já ia me esquecendo, embora eu tenha certeza que
não se importará de receber minha carta escrita em papel de pão, não custa nada
se desculpar, é o que faço. Desculpa. Quando tudo estiver melhor receberá em
papel perfumado. </span></div>
<span style="background-color: white;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"></span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Com carinho, Júlio Gueha.</span></span></div>
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<o:p></o:p></span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Com um sorriso disforme Júlio amassou a folha de
papel de pão em que escrevia e jogou-a no chão. Apoiado na parede do beco ele
se levantou com dificuldades, sua perna estava cada vez pior. Suor escorreu de
sua testa, mas ele estava em pé, curvado, mas sobre duas pernas. A madrugada
estava presente, e na praça central tinha maior chance de conseguir um pratinho
caridoso de sopa. O difícil, e doloroso, seria chegar lá. Estava em frente ao
banco, seu ponto de esmola diurno, no entanto, ali o movimento noturno era inexistente.
Já saía do beco quando uma voz lhe chamou a atenção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">- Sim, você foi um bom garoto senhor Júlio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Dentro da escuridão do beco havia um velho. Trajava
um impecável terno vermelho. Sua presença emanava luz, destacava-se do
ambiente, parecia mal colado àquela escuridão. Tinha barba e cabelos brancos.
Sua barba, aparada rente ao rosto. Seus cabelos, curtos; penteado básico,
estilo empresário. Tinha em mãos o papel de pão no qual Júnior escrevera a
carta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">- Não ria, acredite na vida. Estou disposto a lhe
conceder o seu pedido. Só depende de você, de fato. Venha comigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Atrás do velho uma porta se abriu, luzes piscavam
dentro dela. Um ruído característico se propagava do interior do local; sons de
uma fábrica. O velho, magro e austero, em toda simpatia apontava o caminho com a
mão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">- Vamos, você tem de ir primeiro. Não hesite,
liberdade é só mais uma palavra para nada mais a perder. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Júlio olhou profundamente para o rosto do velho,
sentia-se atraído por ele. Sua presença era fraternal, emitia cores infantis,
protetoras. O estranho homem tinha a voz rouca, muito semelhante a do falecido
Martins, seu avô. Não havia como não confiar naquela figura. Se existia desconfiança ela desapareceu perante a visão do sorriso que o velho
lhe dirigia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;">Júlio entrou e logo após a porta se fechou. <span style="font-size: 8.5pt;"><o:p></o:p></span></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Crédito: Imagens pertencentes ao álbum </span><span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Transubstanciação</span><span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">, de </span><a href="http://www.devir.com.br/mutarelli/" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start; text-decoration: none;" target="_blank">Lourenço Mutarelli.</a><br />
<span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Você pode fazer o download </span><a href="http://estantevelha.blogspot.com.br/p/downloads.html" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start; text-decoration: none;" target="_blank">aqui. </a></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-51297757053846773222012-10-28T12:32:00.000-02:002012-10-28T12:32:44.900-02:00O diálogo do eu.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1Lqn6058rFpllOU49FeDr9USBnIAkfW0_NqYWz2a4-FwgYwzsOeNlikLTmeL_u1w5ys4OLPX5ZirSZxGc3s-Ss_Flz4xmXfXHr9N60r0rQDahaqT8bTqBKWvkot-gCxykjjUXAA/s1600/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Desgra%C3%A7ados+(6).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1Lqn6058rFpllOU49FeDr9USBnIAkfW0_NqYWz2a4-FwgYwzsOeNlikLTmeL_u1w5ys4OLPX5ZirSZxGc3s-Ss_Flz4xmXfXHr9N60r0rQDahaqT8bTqBKWvkot-gCxykjjUXAA/s1600/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Desgra%C3%A7ados+(6).jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tem como brincar de Adão e Eva sem ter nas costas o peso do
mundo? Sim, estou arrependido, mas isso é papo para os meses adiante. Agora a
noite chega ao fim.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ilusões caminham para casa, voltam da festa. Caminho ao lado,
altivo. Não sou do tipo sonhador, costumo me apoiar na dor do solo, não nas
canções de horizontes ensolarados. Chamam-me insensível. A verdade é o inverso. Com sono, flerto com o chão de asfalto, é
quando o vejo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nas raízes da árvore ele dorme confortável. Usa um cobertor
como barraca. Não vejo o homem, mas o corpo está ali, respirando. Veja: a
árvore, o homem e a manhã em trapos. - quadro pintado às pressas por um olhar
sonolento. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não me pergunte, mas sei que há mais vida ali, naquela
cabeça sobre o travesseiro de raiz, do que no ônibus lotado, silencioso em sons
humanos, que vem pela avenida. Buzina para mim, quase me atropela. Eu pedi para que meu
corpo parasse, mas ele seguiu. Não tome o ruído por
ruína, não ainda. Ainda estou vivo, apesar. Uma frenagem inesperada, um susto e nada mais.
Quase acordei as pessoas enlatadas ali dentro. Chega, tenho de ir. Embrulho
minhas reflexões em passos certeiros e sigo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cabeça baixa por cabeça baixa ele dormia, eu não. Seria
homem, ou mulher? Estranhamente fiz daquilo um homem, mas isso diz de mim, não
do corpo sob o lençol. Continuar o caminho é o caminho, para lugar algum, mas
com um sorriso amanhecendo. Sim, eu quis; quero, ajudá-lo, mas de leve, com um
tanto de preguiça, confesso. Mas quem sou eu para tirá-lo do sonho? Só o que posso lhe dar é inveja. Com vergonha.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Atrasado revejo algumas cenas há muito ensaiadas: eu
dançando, indo, sorrindo, mas hoje não mais. É segunda-feira, grita o calendário.
Dia útil, tempo de ignorar corpos pelas ruas. Tenho de ir para casa me lavar. Bora-bora
que o despertador está cumprindo seu trabalho, mas eu ainda estou carente de
utilidade. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O final da semana, passada: destroço de castelo. Quiça
construa outro no paraíso da semana seguinte, outra princesa com roupas largas,
outra fantasia de príncipe remendada. Mas isso é outro conto e
mesmo que haja muita felicidade que não me caiba, no baile resta bailar, por
isso, desconecto a tristeza para construir a esperança de sexta próxima. Mesmo
que minha gata borralheira calce sapatos de cacos de garrafas, novamente. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chove chuva, chove sem parar. Canto e rio, dentro de minha
discrição etílica, é claro. Ele terá frio? Eu tenho, e apresso o passo; isso se
chama maturidade. Ocupar seu lugar com responsabilidade. Afinal, o avião está
partindo, o ônibus já se fora... Aproveite a viagem, sorri a placa. Para onde
vou? Para onde o corpo dormente vai? Esqueça o homem, deus! </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chega de diálogos. Agradeço ao corpo que dorme, deu um rabo
para meus pensamentos correrem atrás. Ele está lá, eu vivo aqui, em minhas
próprias avenidas. Não posso me culpar por lhe faltar caixão, por não haver
quem lhe carregue em marcha. Feito buquê, ninguém jogará lágrimas sobre o solo no
seu fim, mas e daí? As árvores continuarão a crescer e outros farão delas
travesseiros, questão de conforto. A mim, instiga este futuro tão bem escrito
no presente. Orgulho é saber ler, em minha ignorância, tocar essas vozes que
não ouço. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Viro a rua, mas quem se vira sou eu. Caminhar, sempre à frente, é
alucinógeno. Na sexta tem mais! Tenho de rir, estou atrasado, mesmo que vovô
tenha morrido semana passada, e todos ainda falem dele, tenho que guardar o
silêncio para o casamento de meu irmão. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sem senso de tempo me perco na rua reta. Eis porta a porta
de casa, ufa. Tenho chaves nos dedos, porém a fechadura dança. Minha religião
não se lembra como agir. Olho para trás, somente a árvore é visível. Deito-me.
A porta de metal não conforta minha cabeça, não a descansa. Penso naqueles para
quem finjo sorrir, o que pensarão de mim ao ver-me aqui? Largado, em frente à
própria a casa, trêbado, incapaz de abrir seu próprio lar. Parabéns! Não quero,
mas durmo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Relâmpagos, a chuva é pesada. Acordo em minha casa, deitado
em minha cama. Alguém me ajudou, desconheço quem. O relógio marca três da
tarde. Perdi o horário, talvez o emprego. Pela janela de meu quarto vejo os galhos da
árvore, distante, sacudidos pelo vento. Falta-me a lembrança de algo, tenho
certeza. Meus olhos doem. Tento dormir.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHYJTB4FNXyyC4HKypMFcG2t9Bx7jIgR0T40UKTxVrpdYep0CWYLV4qcenLCUMscmSytAs8UoN2hbgzFy7I5b8wbT6RJDzYavTJtF_iuzb0vLoGw7DnwYDNq0RKT0eR6h7hL7h5g/s1600/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Desgra%25C3%25A7ados.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHYJTB4FNXyyC4HKypMFcG2t9Bx7jIgR0T40UKTxVrpdYep0CWYLV4qcenLCUMscmSytAs8UoN2hbgzFy7I5b8wbT6RJDzYavTJtF_iuzb0vLoGw7DnwYDNq0RKT0eR6h7hL7h5g/s1600/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Desgra%25C3%25A7ados.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Crédito: Imagens pertencentes ao álbum Desgraçados, de </span><a href="http://www.devir.com.br/mutarelli/" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start; text-decoration: none;" target="_blank">Lourenço Mutarelli.</a><br style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px;" /><span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Você pode fazer o Download de Transubstanciação, de Lourenço Mutarelli, </span><a href="http://estantevelha.blogspot.com.br/p/downloads.html" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start; text-decoration: none;" target="_blank">aqui. </a></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-76530985794706917082012-10-23T07:54:00.003-02:002012-10-23T08:10:36.890-02:00A roda e a fortuna.Salve traça, mais um conto!<br />
Este mês cumpri a meta de quatro publicações. Não que exista uma ligação entre qualidade e quantidade, mas acredito que a prática é muito necessária, logo, estabelecer uma meta é uma das maneiras de me forçar a fazer algo. Infelizmente ter prazos e pressão é uma necessidade que já internalizei. Enfim...<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br />
<br />
<b><span style="font-size: large;">Roda e fortuna</span></b><br />
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b>
<div style="text-align: right;">
<i>Para Luci Rosa, motivadora profissional.</i></div>
<br />
<br />
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s1600/O+dobro+de+cinco_Louren%C3%A7o+Mutarelli.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s320/O+dobro+de+cinco_Louren%C3%A7o+Mutarelli.jpg" width="166" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na agenda do pesadelo há vida na dor, a despeito da dor.
Mesmo o prazer, a felicidade e todo o resto, quando apregoados na cruz cotidiana, fazem o amanhecer de um escuro noturno. Difícil? Não, nada mais que viver; e
isto não é o mais simples de tudo? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O dever de deslizar pela existência, sem alarde, sem excessos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela escorrega, vento no rosto, desliza leve pelo escorregador. O vento a sopra,
calmo feito avô. Seus pesinhos fincam na areia pisada, batida, dura. Levanta-se
rápida, corre e sobe novamente. Do alto, não contempla, se lança com a certeza
da carícia do vento. Sorrir é desnecessário. Feliz? Talvez. Inconsciente? Sim. Tais
memórias: o chão de areia do parquinho, o odor úmido de manhã recém nascida, o
ranger do velho escorregador, cada imagem do passado cobra seu dízimo; depressão.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s1600/O+dobro+de+cinco_Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s320/O+dobro+de+cinco_Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" width="166" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela perdeu os movimentos aos 15, eu a olhava desde os 12.
Semana passada fez 16; não houve festa. Sou amigo da família. Aquele vizinho de
caráter inquestionável, que trabalha a valer, orgulhoso de suar mais que os
outros. Bom desenhista que sou, desenhara minha imagem de cidadão exemplar.
Hoje colho os frutos de meu traço simples, de minhas cores ternas, de minha
forma cartunesca. Sou bom, confiável e inofensivo, mesmo que treine meu sorriso
no espelho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Já há um mês tenho cuidado da jovem Maria, não gosto de
chamá-la Mariazinha. Embora a menina sofra de algumas deformidades, fruto do
acidente, ainda conserva a essência da beleza que desfilava brincando no
parquinho em frente de casa. Sabe como é, tenho muito tempo livre, trabalho no turno noturno. Sem pensar duas vezes me ofereci para passar as tardes com a garota, para ajudar a família, ainda
abalada. Ajudar ao próximo, não ser egoísta, estas coisas todas. Venho trabalhando em virtudes
ultimamente. Eles ainda sofrem com o destino imposto à Maria, mas precisam
trabalhar, quase todos precisamos. Deus sabe o que faz, assim lhes digo, e não
tenho dificuldades em conter o riso. Acaso e aleatoriedade, um carro em alta
velocidade e lá se vai a vida da menina. Resultado: a infante, agora decrépita, arrasta consigo a
família em marcha de lesma que ora por sal.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s1600/O+dobro+de+cinco_Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s320/O+dobro+de+cinco_Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" width="166" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Bicicleta nova, ainda protegida da queda pelas rodinhas. Papai correndo atrás, segura no selim, concede assim segurança e auto confiança,
ingredientes necessários às primeiras pedaladas de qualquer garotinha. Ela
consegue, todos conseguem, desde que preencham os requisitos. Ela não sorri, é
desnecessário. O vento, ainda terno, lhe acaricia, um toque, agora passado, que
custa não doer. Tudo se repete na roda da fortuna.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há um mês nos divertimos pela tarde, ao menos aquele de nós
que ainda consegue. Já refleti sobre o que fazemos, não sou insensível, mas
veja bem, não há razão para arrependimentos, uma vez que não consigo desenhar sorrisos em sóis alheios.
Na primeira vez que a toquei ela chorou; calada. Eu não sinto falta de sua
fala, lhe disse isso. A lágrima fez família. Mais de uma vez, quando sua mãe a
deixava aqui em casa, ela chorou. É felicidade, eu dizia. Ela gosta muito de
você, respondia a mãe apressada, e atrasada, novamente. Ríamos, sem alegria
qualquer. Enfim sós, eu e Maria, matava vontades que há muito cresciam em mim. Em flor, o
que é regado desabrocha. Eu a vejo verdadeiramente, e ela é mesmo linda. Traço
geograficamente em seu corpo a imagem que a habita, aquém das imperfeições pelo
destino talhadas. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s1600/O+dobro+de+cinco_Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s320/O+dobro+de+cinco_Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" width="166" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Prazer na dor, a despeito da dor. Ela não chora mais. Por dentro da carne ela
vê, refletida em meus olhos, sua beleza ideal. Será? Sim, claro. Sua imagem,
que com tanto esmero venho desenhando. Há cumplicidade entre nós. Nos amamos.
Ela não precisa dizer. Ela não precisa se mover. Ela não precisa agir. Ela
existe, e eu faço o suficiente por nós dois. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela quer voar, permanecer no percurso, cada vez mais alto,
do balanço. Todo o corpo se impunha em dar velocidade à brincadeira. Seus
cabelos dançam ao toque do vento, que frio, lhe seca o suor da testa. Ela sorri,
é desnecessário. Memória, refúgio que não concede fuga. As tardes que ela não
gostaria de lembrar, são as impossíveis de esquecer. A roda continuamente roda,
seu movimento certeiro matou um futuro para adubar outro. Um carro, um atropelamento,
uma tetraplégica, um destino dentro de um acaso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Lá está ela, na cadeira de rodas em frente à sua casa, seu
cabelo baila ao vento. Quanto de sua infância ela é capaz de lembrar? Será que
ela se lembra dos tempos em que o vento era mais feliz? Tudo vai se apagar,
mesmo as memórias? Creio. Às vezes penso que não deveríamos fazer o que fazemos.
Mesmo eu sinto dores morais, mas, estranhamente, pareço senti-las em outro
corpo, outro eu talvez. A certeza prática é que não sei cavalgar lágrimas alheias. Sigo, apenas, e é bom. A injustiça é divina. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s1600/O+dobro+de+cinco_Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP-4MzEe-7LHzU1Lbk_Dvo-ifQ33hrSOEUexQs5NLbY80bGxkVpHnFty86hykebTIhFo4huTDxApIrKXc1HkqyQrxIo-DEDWoeZV6P-ZJsL7QUe7k91GZhxBNcjDhhyphenhypheng81efqk7g/s1600/O+dobro+de+cinco_Louren%25C3%25A7o+Mutarelli.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px;">Crédito: Imagem pertencente ao álbum, O Dobro de Cinco, de </span><a href="http://www.devir.com.br/mutarelli/" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-decoration: none;" target="_blank">Lourenço Mutarelli.</a><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px;">Você pode conhecer o trabalho de Lourenço Mutarelli <a href="http://estantevelha.blogspot.com.br/p/arquivo-lourenco-mutarelli.html" target="_blank">aqui</a>.</span></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-50523475815742607372012-10-15T12:47:00.002-03:002012-10-15T12:48:32.921-03:00Menina mentida_Parte III<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Salve traça! </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Enfim, o fim. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Decepcionem-se!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>Menina mentida. </b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>III</b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 247.8pt;">
“e não existe magia sem
lágrimas. – concluiu a cigana.”</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 247.8pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Presa no mármore da velhice, ansiava pelo toque de uma
lágrima. A vida tardava em terminar, palavras ecoavam torturas longínquas: “Um
dia você ainda vai ser alguém, deus te deu inteligência, um dom.” Sim, dom
mamãe! Você acha que deus esquece alguém? Eu tenho dom para puta. Essa barriga
aqui é a prova disso, não é pai? Ainda está para nascer alguém com vocação para
lixeiro, um belo dom não? Catar os restos, é isso. O senhor não precisa me
colocar para fora de casa, eu me coloco. E porta batia, grito calava. E porta batia, balançando memórias sem fechar
lembranças. E porta batia, misturando dores e horrores no longo vestido de
Madalena; sua filha. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A velha contemplava a felicidade da filha, o vestido verde
escuro cobria as marcas de nascença adquiridas com a vida. Maria das Graças, a
neta, com certeza era adotada, afinal o útero de Madalena havia sido
comprometido ainda na infância, pobre garotinha; uma tristeza. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sozinha, era o momento! Com as parcas forças que tinha na
mão a velha começou a movimentar sua cadeira de rodas para trás. Ainda era
cedo, e a praia se encontrava praticamente vazia. Pouco a pouco a velha se
aproximava da avenida. O suor escorria do rosto queimado pela idade. Em suas
mãos faltavam algumas unhas, sangue escorria de feridas recentes, ainda
cicatrizando. Falta pouco, ela pensa. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Não! – Grita Madalena, distante, ao ver o perigo que a mãe
corre. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As energias da velha são consumidas rapidamente, há dor,
excruciante, mas ela ignora, não vai parar. É agora, o fim sonhado, enfim. A
chance de bater a cabeça no asfalto é luz; é salvação. E que venha o sangue,
pensa a velha ao jogar todo o peso do corpo para trás. Deseja lançar sangue no
asfalto. E vai: um ruído, o horizonte se move veloz, a praia, nuvens, o sol...ela
fecha os olhos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E o movimento estaca, ela arregala os olhos a tempo de admirar
o caminho reverso, a praia, o mar, Madalena correndo em sua direção,
desajeitada. O vento no vestido marca o corpo deformado da filha amada. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Muito obrigado – Diz Madalena, ofegante, arqueada sobre os
joelhos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Essa foi por pouco dona, nossa, pouco mesmo, ela ia cair
com tudo no chão. – Responde o jovem do alto de sua beleza esculpida. Suas
pernas realizam uma marcha estranha, corre sem sair do lugar, não quer parar o
exercício. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Não sei o que aconteceu, a trava de segurança da cadeira
deve ter falhado. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Só pode. – diz o
rapaz com um sorriso indolente. – Bem preciso continuar, a senhora precisa de
mais alguma coisa? - e o alongamento se
inicia: força os dois braços para trás. Seus músculos peitorais bem definidos
saltam aos olhos de Madalena. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Não...Não...Muito obrigado, se houver algo que eu possa
fazer para agradecê-lo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Foi nada não dona. – Diz o rapaz, correndo antes de ouvir
a resposta. Ele não olha para trás. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Após um longo suspiro Madalena empurra a mãe para longe da
avenida. Maria das Graças chega, correndo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Mamãe, o que aconteceu com a vovó? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Nada não gracinha. Vamos para casa, hoje vovó terá que
fazer um tratamento especial durante a noite. – Diz Madalena, quase sussurrando
ao ouvido da velha. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vê-se o sorriso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Com os olhos fechados a velha revê o sorriso nunca
esquecido, imagem adolescente. Na época o crepúsculo não a impedira de ver a
escuridão, mas agora percebia, não vira a luz; apenas mudara de cela. A
esperança é precária, vem em ondas, promete soluções, sentidos, certezas. O que pode o resto, o lixo? Toda a vida no lixão não se explica, falta meio à promessa do início, que não se cumpre em fim; uma mentira. A velha respira fundo, banha seus pulmões em decepção.Por que aquele sorriso se repete? Talvez tudo se repita, imensamente, feito ondas
que não são mar.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZkahor1qT7TIUO4xDw4ixQm5N_g7djrMShAdc1aLHaSyPZYyeClcT47jEUp3_U-us2H36a9lXqFq0bRQZ_fLOXKie_jW3KSlNa9oiaBqTP_Im1lAvpSwyY8Sg0Jg7rUu1urtDJw/s1600/13+-Imagin%C3%A1rio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="398" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZkahor1qT7TIUO4xDw4ixQm5N_g7djrMShAdc1aLHaSyPZYyeClcT47jEUp3_U-us2H36a9lXqFq0bRQZ_fLOXKie_jW3KSlNa9oiaBqTP_Im1lAvpSwyY8Sg0Jg7rUu1urtDJw/s400/13+-Imagin%C3%A1rio.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um pescoço cede, lança dois olhos fechados em direção ao chão. A velha cansada. </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vê-se dor. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mais um dia começou. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Crédito: Imagem pertencente ao livro, A arte de produzir efeito sem causa, de </span><a href="http://www.devir.com.br/mutarelli/" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start; text-decoration: none;" target="_blank">Lourenço Mutarelli.</a><br />
<span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Você pode fazer o Download de Transubstanciação, de Lourenço Mutarelli, </span><a href="http://estantevelha.blogspot.com.br/p/downloads.html" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start; text-decoration: none;" target="_blank">aqui. </a></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-20307777334912522772012-10-08T09:30:00.001-03:002012-10-15T12:23:02.474-03:00Menina mentida_Parte II<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px;"><span style="font-size: medium;">Menina mentida. </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>II</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br />
“Ouço o cair do
tempo, gota a gota, e nenhuma gota que cai se ouve cair.”</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
O mar, a manhã, a brisa.<br />
A praia vazia, a velha, a cadeira de
rodas, o cheiro de urina, a nostalgia de futuro em broto seco. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cabelos loiros encaracolados, olhos verdes, cheirosa,
exalando juventude; uma bonequinha caminhando trôpega em direção à velha. – Olha vovó, ganhei da mamãe. – Dizia a
menina, enquanto colocava uma boneca no colo da idosa. A anciã, do alto de sua
cadeira de rodas, lentamente moveu seu rosto, com os olhos fez um trajeto
trabalhoso, da garota à boneca, da boneca à garota; dois objetos, porém um
estava no pico da pilha de lixo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhERfACUbcHy277y_yYFHT9hyphenhyphenX8GCR1GHBYiUji8O02dbupcOvdirnRpeAz7YEISv22YdOpeFdeEoX917xHqHQNcgnqBmdruJxWbWkQ0OoWWGRdfGbL8T2kg6VtBDniJeusuLnW7Q/s1600/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Desgra%C3%A7ados+(3).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhERfACUbcHy277y_yYFHT9hyphenhyphenX8GCR1GHBYiUji8O02dbupcOvdirnRpeAz7YEISv22YdOpeFdeEoX917xHqHQNcgnqBmdruJxWbWkQ0OoWWGRdfGbL8T2kg6VtBDniJeusuLnW7Q/s320/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Desgra%C3%A7ados+(3).jpg" width="320" /></a><br />
O mover do braço da velha era surreal, seu corpo sofria, tal
qual uma estátua, os infortúnios do movimento. Rangia dores e reumatismos que
as cordas vocais não cantavam. A mão, pesada, tombou desajeitada sobre o rosto
da boneca, o polegar exatamente sobre o olho esquerdo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O presente da garota, maré inesperada, trouxe o passado em
ondas, lançou conchas à praia. O peso de anos se esvaí no vagar marítimo. A velha
imóvel, volta a peregrinar sobre pilhas de lixo, buscava a salvação: comida ou algo
que se possa vender. De olhos fechados ela respira fundo o cheiro do lixão, se infla
em juventude. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Um dia você ainda vai ser alguém, deus te deu inteligência,
um dom.”, que no caso era a capacidade de ler, de compreender um autógrafo em
uma camiseta da seleção, de saber o valor de uma primeira edição de Fernando
Pessoa, de reconhecer uma carta de Mário de Andrade para Manuel Bandeira,
coisas que brilhavam ouro para olhos interessados, brilho suficiente para pagar
a vida, por meses. Chamavam-na Maria Ledura, pois era a única capaz de
encontrar estas preciosidades abandonadas. Ao contrário da maioria das pessoas
que trabalhavam ali no lixão, ela era estudada, faculdade mesmo. A boataria não
parava por aí: matou a família; foi estuprada pelo pai e fugiu com a filha;
freira que vivia em penitência; louca varrida. <br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Maria Ledura tinha como tesouro maior o silêncio. Mesmo no
dia que encontrou a criança em meio ao lixo, ainda viva, sua boca nada soltou
além de breve suspiro, frio, logo seguido pela sombra fugaz de um sorriso; só. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os velhos diários de observação, ela os revê: a letra
perfeita, desenhada lentamente sobre o papel, o total controle sobre os
movimentos dos dedos, da mão, do corpo. Dia após dia as reflexões a respeito do
lixo, da sociedade, da criança que crescia em seu barraco. Todo o passado é
agora, de novo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
3, 250 Kg. 32 centímetros. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Alimentação: vitaminas e leite. Continua a crescer. Chora menos. Vez ou outra
retiro a bandagem de sua boca. A ferida do local onde se encontrava o mamilo
esquerdo esta completamente cicatrizada. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Devido a uma falha na imobilização do corpo, ao tentar
retirar a pálpebra comprometi seu olho. Precipitadamente, na excitação do momento, retirei completamente o olho esquerdo. Não sabendo como proceder costurei o
orifício. Agora, arrependida, temo perder a criança. Passarei a noite
procurando no guia de primeiros socorros algo que ajude a garantir a
sobrevivência da menina.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBZq_LOJaxPGkSyyo9EePQzrBTLOiK5CDqUH0YryoEep9dDFLkIDLbKwO3GuEpfaTpZjf7MpvWX7x2eFoo0x3LJODTqsmdchyphenhyphenxsnAF9WRlqf2qZJIbilSnaaDefsbMv09EapNWIw/s1600/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Desgra%25C3%25A7ados+%25284%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="343" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBZq_LOJaxPGkSyyo9EePQzrBTLOiK5CDqUH0YryoEep9dDFLkIDLbKwO3GuEpfaTpZjf7MpvWX7x2eFoo0x3LJODTqsmdchyphenhyphenxsnAF9WRlqf2qZJIbilSnaaDefsbMv09EapNWIw/s400/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Desgra%25C3%25A7ados+%25284%2529.jpg" width="400" /></a>Nunca vi algo tão belo quanto este olho. Segurá-lo gera
excitação, sexual, mas ainda além. É agradável ao paladar, ao tato, mesmo seu
odor é apaixonante. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje, pela manhã, notei que os movimentos da criança estão
lentos, temo sua morte. Preciso mantê-la viva. O descarte não é aceitável. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Mãe! Mãe! Está assustando a Maria das Graças. – Disse a
mulher puxando da mão da velha a boneca da criança. Sem perceber, a anciã
pressionava com o polegar o olho esquerdo da boneca. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vagamente a velha transitou com seu olhar entre a criança e
a mulher, entre o passado e o presente. Contemplou os rostos desapontados de
seus medos: a velhice não lhe trouxera respostas, não todas. Existira, e mesmo
ao espelho diria isso; tivesse ainda voz.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Vovó precisa de ar. Maria das Graças vamos passear na
praia com ela? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Tudo bem mamãe, mas posso levar minha filhinha?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Pode sim, só tome cuidado, não vá perdê-la, como fez
ontem. Desta vez não compro outra.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Vou tomar muuuuiiiiittttooooo cuidado mamãe. – Disse a menina, já correndo pela praia, bem
a frente de sua mãe e de sua vó, ambas ainda
na calçada. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjevkLX2wLgkoHKumFRh7M2wmydFY7_2ZvQlxILzLCSna4zg5PaS4uvD8vTjex-XyzQc_4AOGY09KDmLeKGF3UPKycTrqGBGAJDPk4VlbPP9kVCntQkzziuJHeBVbLNPFF7SA6RjA/s1600/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Desgra%25C3%25A7ados+%25285%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="321" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjevkLX2wLgkoHKumFRh7M2wmydFY7_2ZvQlxILzLCSna4zg5PaS4uvD8vTjex-XyzQc_4AOGY09KDmLeKGF3UPKycTrqGBGAJDPk4VlbPP9kVCntQkzziuJHeBVbLNPFF7SA6RjA/s400/Louren%25C3%25A7o+Mutarelli_Desgra%25C3%25A7ados+%25285%2529.jpg" width="400" /></a></div>
Olhando com seu único olho nos olhos da anciã a mãe da
menina sorriu. Sua boca enformava o sorriso tal qual cicatriz – Gostaria de
molhar os pés nas ondas mamãe? Pena que a senhora não consiga caminhar, se seus
tendões ainda fossem bons né? Mas tudo bem, podemos conversar, deixa que eu
falo por nós duas, ainda tenho língua. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E assim elas percorriam a orla, vez ou outra enfeitando o tédio, Madalena falava com a velha, porém sem desviar a atenção da filha, Maria das Graças, correndo pela praia. Caminhava empurrando a cadeira de rodas da
velha, sem deixar de ofertar um bom dia sorrido a todos com que cruzava. A
manhã florescia em tons díspares, algo como, por falta de outra palavra, magia,
pairava no ar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vê-se silêncio. </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Crédito: Imagens pertencentes ao álbum Desgraçados, de </span><a href="http://www.devir.com.br/mutarelli/" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start; text-decoration: none;" target="_blank">Lourenço Mutarelli.</a><br />
<span style="background-color: #f3f3f3; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start;">Você pode fazer o Download de Transubstanciação, de Lourenço Mutarelli, </span><a href="http://estantevelha.blogspot.com.br/p/downloads.html" style="background-color: #f3f3f3; color: #707070; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; font-size: 15px; line-height: 21px; text-align: start; text-decoration: none;" target="_blank">aqui. </a></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31334711.post-67647802808752631582012-10-01T19:08:00.000-03:002012-10-02T06:08:56.645-03:00Menina mentida_Parte I<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Salve traça!<br />
Começo a publicar esta semana um conto em três partes. Na real, acho que deveria ser lido de uma sentada, como diria Poe, no entanto quem conseguiria? É longo.<br />
Caso não entenda nada ao término, tenha <b>ESPERANÇA</b>, quem sabe na semana seguinte venha a compreensão.<br />
<br />
PS: Comecei a publicar esta semana o material antigo do Mutarelli, continuarei a fazer isso com periodicidade semanal, ao menos este é o plano. Se não viu ainda, pode ver <a href="http://estantevelha.blogspot.com.br/p/arquivo-lourenco-mutarelli.html" target="_blank">aqui</a>. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;">Menina mentida. </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: large;">I</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
“Ela vende velas acesas</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Falta fé na palavra </div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
na carne.”</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um dia você ainda vai ser alguém, deus te deu inteligência,
um dom. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Encolher de ombros. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dom, inteligência, talento, e após 16 calendários eu
carregava na barriga o sepulcro de todas as esperanças que tinham por mim, eu
não os salvaria, mas enfim, nunca realmente quis. Não diria estava feliz, seria exagero, mas ao
menos os sonhos de príncipe encantado eram passado, enterrados, sem redoma de
vidro, beleza eterna e tal: não erro duas vezes. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Posso não ser religiosa, mas tenho apego por catar
aleatoriedades que vem a minha praia. Junto-as com prazer, nelas escuto
destinos. Bobeira? Sim, mas não me poupo das risadas a mim destinadas, faz
parte. E então chego ao ponto do ônibus, fim de tarde, trânsito epilético. Cansada,
vagava os olhos à caça de conchinhas, foi quando a vi. Ela não jogou o primeiro
saco de lixo em minha vida, esta culpa não lhe pertence, porém esta era a primeira
vez que eu admirava o precário do existir; perplexa. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA-rBGzCo2aWe77OJgtXMDaFFq0slFS5RePAOeJS2cTF6_yxgV26DeGDCjRqu8HkIVM2W0AhJL5UYMtQU0_A_S8MAUbB-M1YTnQpjwhRkM85aXgFCaDQp7y88bYFkMYRoDmvP8Ag/s1600/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Eu+te+amo+Lucimar+(4).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA-rBGzCo2aWe77OJgtXMDaFFq0slFS5RePAOeJS2cTF6_yxgV26DeGDCjRqu8HkIVM2W0AhJL5UYMtQU0_A_S8MAUbB-M1YTnQpjwhRkM85aXgFCaDQp7y88bYFkMYRoDmvP8Ag/s400/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Eu+te+amo+Lucimar+(4).jpg" width="286" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA-rBGzCo2aWe77OJgtXMDaFFq0slFS5RePAOeJS2cTF6_yxgV26DeGDCjRqu8HkIVM2W0AhJL5UYMtQU0_A_S8MAUbB-M1YTnQpjwhRkM85aXgFCaDQp7y88bYFkMYRoDmvP8Ag/s1600/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Eu+te+amo+Lucimar+(4).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Velha, seca, cabelos loiros e castanhos, privilégio de
tinturas baratas e mal feitas. Calça jeans suja, blusinha preta, decote
esqueleto. Estava quase de costas para mim, do outro lado da rua. Anotava algo
na mão. Seu rosto indiciava uma parede logo à frente. Curiosa, acompanhei. Um
anúncio decorava a parede do terreno baldio: “trago a pessoa amada em uma
semana.” Uma, duas, três vezes, fiz o trajeto que ligava o olhar da velha ao
anúncio, não havia dúvida. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Intrigada, encarava deliberadamente a velha, que logo
percebeu. Um par, para meu espanto, de dois belos olhos castanhos me fixou. Sua
pele lembrava as secas anunciadas em cadeia nacional. Seus lábios estavam
tingidos em vermelho sexo. Trazia no rosto um sorriso sem dentes, uma
felicidade em vácuo. Estávamos ligadas, não conseguia desviar minha atenção
daquele rosto vazio. Demorou para que eu entendesse que ela não ria, mas sim
mostrava-me o futuro. Esta foi a primeira vez que vi a escuridão. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Naquela época julguei a velha em termos de crendice popular
e esperanças tolas. Tomei-a por alguém que saltara de simpatia em simpatia, de
trabalho em trabalho, construindo prisões à prova de relacionamentos. Se a
mandinga resolve, se traz o objeto amado, então o problema é ter dinheiro para
pagá-la, oras, nada de diferente da realidade não sobrenatural. Embora minhas
conclusões fossem levianas eu sabia que havia algo além de minha compreensão
ali, algo que conectava a velha a mim, algum tipo de ligação que espelho algum
refletiria. Vez ou outra me pego naquele fim de tarde, colada àqueles olhos que
não piscavam.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUPq2hm32LzdJRZfgVDXZyDPLAzfU_3UwS8_fcrhYzjeG488tUWinu-uLIGEvNMlF_gBOM3iNW57O5p9vORjRHQ8L0pLtHPXgQfwuybxXJLOk8d1dr0IjVVJj1so-jDA5gzDLxLQ/s1600/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Eu+te+amo+Lucimar+(3).jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUPq2hm32LzdJRZfgVDXZyDPLAzfU_3UwS8_fcrhYzjeG488tUWinu-uLIGEvNMlF_gBOM3iNW57O5p9vORjRHQ8L0pLtHPXgQfwuybxXJLOk8d1dr0IjVVJj1so-jDA5gzDLxLQ/s400/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Eu+te+amo+Lucimar+(3).jpg" width="335" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E então o mundo piscou e momentaneamente tudo escureceu. Caí
de joelhos, minha barriga queria explodir, entre minhas pernas algo
escorria. A velha desaparecera, mas aqueles olhos eclipsaram portas sem
caminhos, portos sem mar. A ultima coisa que vi, já no chão, foi um carrinho
improvisado, transbordando papelão, se distanciando. Era ela?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nunca mais a vi e todas as vezes que pisco, sempre a vejo.
Nunca mais a reencontrei e todas as noites nos encontramos. Em momentos como
esse, sob a luz do luar, em que me banho nos perfumes dos restos da sociedade,
em que lavo meus pés nos dejetos do consumo, tomo consciência que no inconsciente
caminho percorrido, me tornei aquilo persegui. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br />
Lixo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Lixo, tal qual a velha, retrato do precário.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
Vê-se um sorriso.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT5qQoaXzXvDQoJb3ucPG9v-jBhLR-DNxaQdBWFRyiKI_PIgzd-JHp-TOl9RutBfSzyua3qojC1_vuVeUeaLwE96bKDzrU5zcVfqpQPntmFQ2PvQOpeGky3866rPzLN45wR7T4nQ/s1600/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Eu+te+amo+Lucimar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="610" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT5qQoaXzXvDQoJb3ucPG9v-jBhLR-DNxaQdBWFRyiKI_PIgzd-JHp-TOl9RutBfSzyua3qojC1_vuVeUeaLwE96bKDzrU5zcVfqpQPntmFQ2PvQOpeGky3866rPzLN45wR7T4nQ/s640/Louren%C3%A7o+Mutarelli_Eu+te+amo+Lucimar.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
Crédito: Imagens pertencentes ao álbum Eu te amo Lucimar, de <a href="http://www.devir.com.br/mutarelli/" target="_blank">Lourenço Mutarelli.</a><br />
Você pode fazer o Download de Transubstanciação, de Lourenço Mutarelli, <a href="http://estantevelha.blogspot.com.br/p/downloads.html" target="_blank">aqui. </a></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Estante Velhahttp://www.blogger.com/profile/01216130351734506575noreply@blogger.com3